O Estado de S. Paulo

‘NENHUM LADO QUER ENTENDER O OUTRO’

Isentos criticam falta de diálogo entre os opostos

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Além de não dialogar entre si, as “bolhas” que apoiam Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) não conseguira­m, pelo menos até agora, conversar com eleitores que pertencem a um terceiro grupo: os isentos – aqueles que pretendem anular o voto ou votar em branco no segundo turno. “Nenhum deles me representa”, disse Diane Alves da Costa, de 27 anos, executiva de contas de uma rede de hotelaria.

Esse grupo é formado, em sua maioria, por eleitores de Geraldo Alckmin (PSDB) e João Amoêdo (Novo). Ainda assim, é possível encontrar gente que votou em Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) e outros candidatos no primeiro turno.

Além disso, são eleitores que, em sua maioria, abdicaram de “bater boca” em redes sociais e grupos de WhatsApp – evitando até conversas mais profundas com seus parentes mais próximos.

“Em tempos de ódio, o não posicionam­ento é se posicionar”, afirmou Diane. Para não se posicionar, a executiva preferiu não ter em seu celular nenhum grupo de discussão sobre eleições. “Não tem diálogo. Nas redes sociais, um não quer entender o outro”, disse. “Tem fanatismo dos dois la- dos. Já ouvi discursos inflamados de bolsonaris­ta e de petista”, completou.

Para o engenheiro agrônomo Caio Cugler Siqueira, de 25 anos, os políticos não entenderam os protestos de 2013 e o efeito da Lava Jato. “O desejo por uma renovação no sistema político foi subestimad­o.”

Clichês. “O País se perdeu em um debate de clichês entre segurança pública, armas, ameaça comunista e Lula, enquanto temas como economia, desemprego, reforma tributária, política e previdênci­a são ignoradas ou superficia­lmente discutidas”, disse Siqueira.

Ele também não acredita que Haddad nem Bolsonaro sejam capazes de encerrar a polarizaçã­o, consideran­do que ambos têm os maiores índices de rejeição entre todos aqueles que se candidatar­am.

Na opinião do empresário Afonso Soares Trigo, de 32 anos, eleitor de Marina Silva no primeiro turno, petistas e bolsonaris­tas agem com arrogância e parecem donos da razão. “É impossível conversar com os dois lados. Eles simplesmen­te querem impor uma visão de mundo”, afirmou. Por enquanto, Soares pretende votar em branco. “Vai ser a primeira vez que vou fazer isso. Ainda não bati o martelo, mas essa é a tendência”, afirmou o empresário.

“O WhatsApp da minha família virou um campo de guerra. Quando não tem ofensa direta, tem alfinetada. Já bloqueei e avisei que nem vou votar”, disse a estudante de publicidad­e Amanda Dias, de 21 anos.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO ‘Fanatismo’. Diane não se sente representa­da
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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Desilusão. Caio critica falta de propostas dos candidatos

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