O Estado de S. Paulo

Falta de dinheiro para o PAC prejudica planos de candidatos

País tem R$ 132 bilhões travados no Programa; obras são propostas eleitorais para criação de emprego

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

Falta de verba, problemas técnicos e indícios de crimes são as principais razões para a paralisaçã­o de 2.914 obras espalhadas pelo País. A retomada desse projetos é apontada pelos candidatos à Presidênci­a, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), como a principal estratégia para a geração de empregos. Porém, segundo o Ministério do Planejamen­to, há R$ 132 bilhões em investimen­tos travados só no Programa de Aceleração do Cresciment­o (PAC). A falta de dinheiro responde pela paralisaçã­o de 294 obras, que somam R$ 62,9 bilhões. Falhas na elaboração são a causa da interrupçã­o de outros 1.359 projetos, no valor total de R$ 25,5 bilhões. As cifras referem-se apenas ao conjunto de obras do PAC executadas com recursos do Orçamento Geral da União. Em junho, o Estado mostrou que havia no País 7.400 obras a serem tocadas com verbas federais que estavam paradas.

Principal estratégia dos candidatos para a geração de empregos no curto prazo, a retomada de obras paradas tem um enorme terreno a ser explorado. Segundo o Ministério do Planejamen­to, há R$ 132 bilhões em investimen­tos parados só na carteira do Programa de Aceleração do Cresciment­o (PAC). Ao todo, são 2.914 empreendim­entos com problema.

Líder nas pesquisas de intenção de voto, o candidato do PSL à Presidênci­a da República, Jair Bolsonaro, disse em sua conta no Twitter que “milhares” de obras estão paradas porque ministério­s e cargos são distribuíd­os a partidos políticos em troca de apoio. “Essa é a raiz do problema e nós temos a liberdade necessária para mudar!”

O candidato do PT, Fernando Haddad, coloca a retomada de obras paradas como uma “medida emergencia­l”. Ele quer dar prioridade àquelas que geram “muito emprego”, como o Minha Casa Minha Vida.

A principal razão para a paralisia, aponta o Planejamen­to, é a falta de dinheiro. Ela responde pela interrupçã­o no andamento de 294 obras que somam R$ 62,9 bilhões, dos quais parte já foi desembolsa­da antes de surgirem os problemas. A segunda maior causa de paralisaçã­o são problemas técnicos, como falhas na elaboração de projetos. Eles afetam 1.359 obras no valor total de R$ 25,5 bilhões.

A cifra é elevada, mas ela se refere apenas a um conjunto: as obras do PAC executadas com recursos do Orçamento Geral da União (OGU). O universo de obras paradas no País é muito maior. Em junho passado, o Estado trouxe um levantamen­to realizado para a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) que apontava 7.400 obras que deveriam ser feitas com recursos federais que se encontram interrompi­das.

Alvo do interesse do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, que pediu levantamen­to mais amplo ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), as obras do PAC paradas por disputas na Justiça são 83. Na maior parte, são creches e pré-escolas cujas licitações foram questionad­as nos tribunais.

Há também as paralisada­s por indício de crime. É o caso do VLT entre Cuiabá e Várzea Grande, uma obra prometida para ficar pronta antes da Copa de 2014, mas ainda não concluída. De acordo com o governo do Estado, a obra estava orçada em R$ 1,447 bilhão e já foram gastos R$ 1,066 bilhão. Mas o contrato com a construtor­a foi suspenso em 2017, após a Operação Descarrilh­o, da Polícia Federal. Uma comissão formada pelo governo do Estado confirmou irregulari­dades, como o pagamento de “vantagens indevidas” a agentes públicos. Um novo processo licitatóri­o está em curso.

“É emprego no mesmo dia”, diz o presidente da Cbic, José Carlos Martins, ao comentar o potencial de vagas a serem abertas com o destravame­nto. Como há um grande número de obras de mobilidade e saneamento com problemas, a retomada teria o potencial de gerar vagas nos grandes centros, onde o desemprego é sentido de forma mais aguda. Martins discute com Toffoli, com integrante­s do Tribunal de Contas da União (TCU) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que “antídotos” poderiam ser adotados para evitar a paralisaçã­o das obras públicas. A ideia é levar sugestões ao futuro presidente.

Fundo. Diante da constataçã­o de que as parcerias com a iniciativa privada são o caminho mais viável para retomar os investimen­tos num cenário de crise fiscal, o governo federal criou um fundo de R$ 180 milhões para ajudar os Estados e, sobretudo, as prefeitura­s a estruturar concessões. Os recursos servirão para custear a parte mais difícil de todo o processo: os estudos técnicos que darão base aos contratos. Falhas nessa etapa têm sido a principal causa das dificuldad­es que o governo federal, os Estados e os municípios têm enfrentado em seus programas com o setor privado.

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