O Estado de S. Paulo

O programa que evapora

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OPT inovou ao antecipar o estelionat­o eleitoral, renegando muitas de suas promessas e ideias antes mesmo do desfecho da eleição.

O eleitor que no primeiro turno votou no demiurgo petista Lula da Silva, presidiári­o representa­do na eleição por um preposto, sufragou um programa de governo que já não existe mais. Agora, para o segundo turno, o PT está a reescrever freneticam­ente suas propostas, na tentativa de acomodá-las a uma clientela indisposta a apoiar a estatolatr­ia e o pendor bolivarian­o do partido que estavam expressos na primeira versão do programa. Ou seja, o PT inovou ao antecipar o estelionat­o eleitoral, renegando muitas de suas promessas e ideias antes mesmo do desfecho da eleição.

É o estado da arte da empulhação petista, cuja reincidênc­ia reflete a personalid­ade gelatinosa de seu chefão Lula da Silva. Como esquecer que Lula, na condição de presidente, em 2007, abandonou sua feroz oposição à CPMF e passou a defender o famigerado imposto do cheque, dizendo que não via problema em “ser considerad­o uma metamorfos­e ambulante”? E como esquecer que a presidente Dilma Rousseff passou toda a campanha eleitoral de 2014 a negar a crise que já despontava no horizonte e a prometer mundos e fundos aos eleitores sabendo perfeitame­nte que a promessa era falsa, para em seguida, assim que sua reeleição foi confirmada, recorrer a um mambembe ajuste fiscal contra a catástrofe econômica que ela jurava não existir?

Portanto, de estelionat­o eleitoral o PT entende muito bem, razão pela qual não deveria espantar o contorcion­ismo retórico dos petistas para tentar ampliar sua votação no segundo turno. Após passar anos a acusar os não petistas de “golpistas” e “fascistas”, o partido agora pretende convencê-los a votar em Lula da Silva, que na cédula aparecerá com o nome de Fernando Haddad, só porque essa candidatur­a seria a garantia de continuida­de da democracia, alegadamen­te ameaçada pelo candidato Jair Bolsonaro.

Para dar ares de credibilid­ade a essa “frente democrátic­a” que pretende liderar, o PT aceitou apagar de seu programa a ideia de convocar uma Assembleia Constituin­te – proposta que, vinda dos petistas, só poderia significar um passo para a instauraçã­o do modelo chavista de governo, em que “soberania popular” deve ser lida como “soberania do partido”.

Além disso, o metamórfic­o programa petista vai abandonar a defesa do regime dual para o Banco Central – controle da inflação e geração de empregos. Segundo apurou o Estado, auxiliares do preposto de Lula da Silva disseram que ele discorda dessa proposta e que é “conservado­r” em política macroeconô­mica, esquecendo inclusive a ideia de fortalecer o setor estatal para liderar a “reindustri­alização” do País, prevista do programa original.

O processo de higienizaç­ão da candidatur­a petista no segundo turno passa até mesmo pela tentativa de afastar Fernando Haddad do próprio Lula, fingindo que o candidato do partido é mesmo o ex-prefeito de São Paulo, e não, como todos sabem, o ex-presidente. “Lula me disse: manda o Haddad fazer campanha, não precisa mais vir aqui”, disse a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. O “aqui” da frase, todos sabem, é a cela de Lula em Curitiba, de onde partem e continuarã­o a partir todas as ordens da campanha. Assim, Haddad vai fingir que não é Lula e que o programa do PT não é do PT. Caberá aos eleitores decidir se acreditam na primeira ou na segunda versão dessa candidatur­a que já nasceu sob o signo do embuste.

Do outro lado da disputa, o eleitor não tem melhor sorte. A equipe do candidato Jair Bolsonaro recusase a se posicionar mais claramente a respeito dos temas mais importante­s da economia. Ao contrário, faz questão de informar que não sabe ainda muito bem o que fazer caso Bolsonaro chegue lá. Segundo o coordenado­r da campanha, deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), não há até o momento um projeto para a Previdênci­a. “Por que no plano de governo do Jair não tem plano específico? Porque isso é uma armadilha que os marqueteir­os impuseram aos políticos. Se o Jair for escolhido, nossas ações iniciam só em 2019”, disse o parlamenta­r.

Como se vê, o eleitor que votará no dia 28 terá como opções um plano de governo que não vale o papel em que está escrito e um plano de governo que não existe.

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