O Estado de S. Paulo

UM FISCAL DE CONTAS NA ASSEMBLEIA DO PR

Manifestaç­ão de rua deu projeção a Marchese

- Katna Baran / CURITIBA

Natural de Maringá, norte do Paraná, Homero Marchese, de 35 anos, é especialis­ta em Direito Administra­tivo e Processual Civil e passou no concurso para servidor do Tribunal de Contas do Paraná (TC-PR). Como responsáve­l pela análise técnica das contas de órgãos públicos do Estado, percebeu que ao menos metade dos pareceres que emitia para desaprovaç­ão de contas era desconside­rada quando chegava à mesa dos conselheir­os do órgão – a maioria, indicada politicame­nte para o cargo.

Em uma ocasião, Marchese considerou ilegal o pagamento de uma prefeitura para a construção de uma ponte, obra que sequer havia saído do papel. Em recurso ao órgão, no entanto, o conselheir­o relator reverteu a decisão. “Percebi que vários trabalhos que eu fazia não iam para frente. Na prática, estavam vendendo meu trabalho para quem eu estava fiscalizan­do.” Decepciona­do, após cinco anos no cargo, largou a estabilida­de e iniciou uma campanha contra as indicações políticas no TC.

Nos protestos de junho de 2013, foi para as ruas de Curitiba com uma faixa com a inscrição: “Tribunal de Contas não é balcão de negócios. Chega de indicações políticas!”. A manifestaç­ão chamou a atenção de uma emissora local que fazia uma série de matérias sobre o trabalho do TC.

Entrevista­do numa das reportagen­s, sua atitude tomou projeção estadual. Marchese decidiu, então, entrar na vida pública. Em 2014, ficou na terceira suplência na Assembleia. Dois anos depois, foi eleito o vereador mais votado da história de Maringá, sua cidade natal. Nas eleições deste ano, com pouco mais de 42 mil votos, foi eleito deputado estadual.

“Foi uma grande surpresa (a eleição) este ano. Quem está na política escuta esse papo há muito tempo, mas com o financiame­nto público de campanha, imaginei que não ia haver renovação. Isso mostra que, à beira do abismo, a população começa a perceber que ou ela vota em gente séria, ou vai piorar”, disse. No Legislativ­o estadual, promete seguir seu trabalho de fiscalizaç­ão dos órgãos públicos.

Integrante do MBL, o agora deputado eleito esteve nas ruas também em 2014, pedindo o impeachmen­t de Dilma Rousseff (PT). Seu partido, o PROS, no entanto, apoiou a candidatur­a de Luiz Inácio Lula da Silva à presidênci­a este ano – depois substituíd­o por Fernando Haddad (PT). “O partido até me atrapalhou um pouco, já que tinha a promessa de que não apoiaria o PT e, na cabeça das pessoas, há uma ligação”.

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