‘Eleitor associa corrupção a mau serviço público’
Para Christopher Garman, diretor da consultoria de risco político Eurasia, a alta taxa de renovação no Congresso está associada ao aumento da classe média, que liga a corrupção a serviços públicos ruins.
Alvos da Operação Lava Jato perderam mandatos neste ano, em um castigo não previsto por analistas. Isso deve ter um efeito duradouro?
Não prevíamos essa renovação no Congresso. Nesta eleição, o que mudou é que o eleitor está associando corrupção com a má entrega do serviço público. Por isso digo que tem raízes mais profundas, não é só a Lava Jato. A natureza das demandas mudou com a emergência de uma classe média maior. Acho que isso está aqui para ficar. E o maior sinal disso é que olhamos para a América Latina e vemos a corrupção como um dos principais temas na Colômbia, no Chile, no Peru, no México, países que não têm escândalos na proporção do Brasil. Isso me leva a crer que estamos vendo um movimento eleitoral associado a uma classe média nova.
Promotores do impeachment de Dilma Rousseff, como Janaina Paschoal, ganharam espaço nestas eleições. Isso derruba a tese de que houve um golpe?
Vai ter segmentos da população que acreditam em um golpe. Há um ambiente de baixa confiança nas instituições em que se consolidam narrativas conspiratórias. Se no PT há a narrativa do golpe, no lado da direita é a confiabilidade das urnas. É difícil dizer qual narrativa permaneceu. Bolsonaro deve ganhar a eleição, o que indica que a demanda anticorrupção é mais alta.
A ascensão de Jair Bolsonaro representa um risco à democracia brasileira?
Eu discordo, é um exagero. Putin, na Rússia, e Erdogan, na Turquia, são lideranças fortes que se sobressaíram e conseguiram concentrar poder e diminuir a eficácia dos poderes democráticos. Não acho que é isso que vamos viver no Brasil se o Bolsonaro ganhar. Os condicionantes para tanto não existem. Olhando as condições para países chegarem a este caminho, normalmente há um presidente eleito muito popular, com ondas econômicas favoráveis por trás. Não vamos ter essas condições no Brasil. Nosso presidente não vai ser muito popular, vai ser um governo fraco em termos de opinião pública. E as instituições brasileiras são robustas.