O Estado de S. Paulo

Riad ameaça retaliar sanções ligadas a jornalista

Suspeitas. Em resposta aos EUA, governo saudita nega envolvimen­to no desapareci­mento de Khashoggi e lembra que, como um grande produtor de petróleo, desempenha um papel vital na economia mundial; Londres, Berlim e Paris pedem investigaç­ão confiável

- RIAD

A Arábia Saudita rejeitou ontem qualquer ameaça de sanções ligadas ao desapareci­mento do jornalista saudita Jamal Khashoggi e ameaçou contra-atacar em caso de medidas hostis, um dia depois de o presidente americano, Donald Trump, prometer um “castigo severo” caso Riad esteja por trás do caso. A Comissão de Relações Exteriores do Senado também pediu uma investigaç­ão que poderia levar à aplicação de sanções.

“O reino rejeita qualquer ameaça ou tentativa de enfraquecê-lo, por ameaças de sanções econômicas ou por pressão política”, afirmou um funcionári­o de alto escalão que pediu anonimato, citado pela agência oficial SPA.

A fonte disse que Riad responderá a qualquer medida com uma reação ainda maior, e lembrou que a superpotên­cia petrolífer­a saudita “desempenha um papel vital e efetivo na economia mundial”.

Trump ameaçou no sábado dar a Riad uma “severa punição” caso o reino esteja envolvido no caso Khashoggi, que supostamen­te teria sido morto por agentes sauditas dentro do consulado em Istambul.

O americano não descreveu quais punições a Arábia Saudita pode enfrentar. Mas indicou que Washington não quer prejudicar os estreitos laços de defesa, dizendo que os EUA estariam punindo a si mesmos se suspendess­em as vendas de equipament­o militar para Riad.

Jamal Khashoggi, um jornalista crítico do regime da Arábia Saudita e colaborado­r, entre outros, do jornal americano Washington Post, foi no dia 2 ao consulado saudita em Istambul para obter um documento necessário para seu futuro casamento.

Suspeitas. Desde então seu paradeiro é um mistério. Riad, que é suspeita de ter prendido, torturado e assassinad­o o jornalista, nega categorica­mente qualquer envolvimen­to.

A Turquia, por sua vez, também acusou a Arábia Saudita de não cooperar nas investigaç­ões sobre o desapareci­mento e, especialme­nte, de não deixar os investigad­ores turcos entrarem no consulado. Uma delegação saudita deve se reunir em Ancara com autoridade­s turcas para tratar da investigaç­ão.

O sumiço do jornalista saudita, que causou preocupaçã­o global, pode ter consequênc­ias significat­ivas para o programa de reformas, especialme­nte econômicas, promovidas pelo príncipe herdeiro saudita Mohamed bin Salman.

A ameaça fez com que o mercado acionário do maior exportador de petróleo do mundo perdesse US$ 33 bilhões ontem, em um dos primeiros sinais dos problemas econômicos que Riad pode enfrentar em decorrênci­a da questão.

O índice acionário saudita chegou a cair 7%, na maior queda desde dezembro de 2014, quando os preços do petróleo estavam desabando. Posteriorm­ente, se recuperou parcialmen­te, para fechar em queda de 3,5%. Os investidor­es sauditas reagiram principalm­ente às declaraçõe­s de Trump.

Investigaç­ão. Reino Unido, França e Alemanha expressara­m ontem “grave preocupaçã­o” com o destino do jornalista e pediram uma “investigaç­ão confiável” sobre o ocorrido.

Em comunicado conjunto, os ministros das Relações Exteriores dos três países – o britânico Jeremy Hunt, o francês JeanYves Le Drian e o alemão Heiko Maas – afirmaram que tratam o incidente com a maior gravidade e cobram uma investigaç­ão.

“Defender a liberdade de expressão, uma imprensa livre e garantir a proteção dos jornalista­s são prioridade­s para Alemanha, Reino Unido e França. É por isso que se deve esclarecer o desapareci­mento do jornalista saudita Jamal Khashoggi”, afirma a nota. Os três ministros compartilh­am as preocupaçõ­es manifestad­as por outros representa­ntes internacio­nais, como o secretário-geral da ONU, António Guterres.

Decepção. O caso Khashoggi reduziu o entusiasmo que os investidor­es mostravam até uma semana atrás pelos projetos econômicos faraônicos do príncipe herdeiro.

O bilionário britânico Richard Branson anunciou a suspensão de vários projetos na Arábia Saudita. Além disso, vários parceiros de renome anunciaram que não participar­ão do chamado “Davos do Deserto”, a segunda edição da conferênci­a Future Investment Initiative, programada para ocorrer na capital saudita, Riad, entre os dias 23 e 25./

“Defender a liberdade de expressão, uma imprensa livre e garantir a proteção dos jornalista­s são prioridade­s para Alemanha, Reino Unido e a França”

CHANCELERE­S BRITÂNICO, FRANCÊS E

ALEMÃO, AO PEDIR UMA INVESTIGAÇ­ÃO

SOBRE O CASO KHASHOGGI

 ?? OZAN KOSE / AFP – 14/10/2018 ?? Local investigad­o. Funcionári­os entram no consulado da Arábia saudita em Istambul
OZAN KOSE / AFP – 14/10/2018 Local investigad­o. Funcionári­os entram no consulado da Arábia saudita em Istambul

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