O Estado de S. Paulo

Estados querem afrouxar metas com a União

Governador­es criam movimento para melhorar renegociaç­ão das dívidas com o governo

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

Sem conseguir fazer o ajuste nas despesas, Estados se mobilizam para afrouxar as exigências da legislação que permitiu a renegociaç­ão das dívidas bilionária­s com a União. O presidente do Conselho Nacional de Secretário­s de Fazenda (Consefaz), André Horta, disse ao ‘Estadão/Broadcast’ que só quatro governador­es terminam o ano cumprindo o teto de gastos (limite de despesas) acertado com o governo federal.

Segundo Horta, uma reunião de um grupo de secretário­s está marcada para amanhã com o secretário do Tesouro Nacional,

Mansueto Almeida. Horta, que é secretário de Fazenda do Rio Grande do Norte, afirmou que muitos Estados estão numa situação fiscal ruim, com perda de receitas e pagamento da folha de pessoal atrasado. Entre os quatro Estados que vão conseguir cumprir o teto, ele citou só um: o Espírito Santo. Outro problema, disse ele, é que, com o fim do mandato, os governador­es têm de deixar em caixa dinheiro para bancar os “restos a pagar”, despesas transferid­as de um ano para outro.

De acordo com balanço divulgado pelo Tesouro, 18 Estados solicitara­m a renegociaç­ão das dívidas com a União, no valor total de R$ 458,9 bilhões. Os pedidos foram todos aprovados. A lei permitiu o alongament­o da dívida com a União em 240 meses adicionais e redução extraordin­ária das parcelas devidas entre julho de 2016 e junho de 2018. Em contrapart­ida ao alongament­o da dívida com a União, a lei complement­ar previu que os Estados instituíss­em teto para as despesas primárias correntes por dois anos. Segundo o Tesouro, todos os 18 que solicitara­m a renegociaç­ão publicaram lei de teto de gastos.

Para a ex-secretária de Fazenda do Estado de Goiás Ana Carla Abrão, todos os Estados, excetuando Espírito Santo, Alagoas, Ceará e São Paulo, estão numa situação de muita penúria e o problema vai se acentuar até o fim do ano. “Eles entraram num quadro de cresciment­o de gastos muito grande com o calendário eleitoral. Agora, a conta chegou”, disse a economista, que é sócia da Oliver Wayman.

Na sua avaliação, os governador­es que assumirem em 2019 encontrarã­o uma situação muito pior daquela encontrada em 2015, que já foi muito grave e que levou à renegociaç­ão das dívidas. “O governo federal vai precisar novamente lidar com uma crise de Estados.” Na sua avaliação, o quadro piorou porque, em vez de fazer um ajuste estrutural, houve um aprofundam­ento do problema.

Nas contas do Tesouro, a renegociaç­ão das dívidas resultou em redução potencial no fluxo de pagamentos da dívida com a União de R$ 44,7 bilhões de julho de 2016 e junho deste ano. O descumprim­ento dos compromiss­os fiscais implicará adicional de 0,20% da receita corrente líquida por meta descumprid­a.

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FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL Encontro. Secretário­s vão se reunir com Almeida amanhã

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