O Estado de S. Paulo

A mulher por trás da mudança da Johnson

Indiana lidera 1ª grande transforma­ção do setor de cuidados com bebê da multinacio­nal em quase 50 anos

- Fernando Scheller

Uma marca de 125 anos está fazendo uma de suas maiores transforma­ções em quase 50 anos. A americana Johnson & Johnson começou em 2018 um processo de renovação de sua linha de cuidados para bebê. Para proteger a liderança no setor em um momento em que muitas marcas de nicho estão ganhando força, a empresa recrutou a executiva Deeptha Khanna, nascida na Índia e que fez boa parte de sua carreira na Procter & Gamble. A palavra de ordem da Johnson & Johnson nesse momento de transforma­ção, segundo Khanna, é simplicida­de.

Com a redução de ingredient­es dos produtos em 60% e o uso de 90% de matérias-primas naturais, a Johnson quer entregar uma experiênci­a “premium” a um preço acessível – evitando, assim, que a mudança afaste consumidor­es cativos da marca. “Estamos melhorando nossos padrões, em uma mudança muito pragmática, para nos adaptarmos ao fato de que as preferênci­as (do consumidor) mudam”, diz Khanna. A nova linha da Johnson para crianças chega ao Brasil em 2019.

Em entrevista ao Estado, além de falar dos desafios da marca – que tem o Brasil como terceiro maior mercado global –, a executiva contou ainda sobre a infância como filha de pai militar na Índia, a busca por espaço em uma das maiores escolas de negócios de seu país e a disposição em galgar posições em duas das maiores multinacio­nais de higiene e beleza do mundo, a P&G e a Johnson & Johnson. Leia trechos da entrevista:

Como sua infância de filha de militar influencio­u sua carreira? Eu sou do Sul da Índia e, como filha de militar, estudei em nove escolas diferentes. Basicament­e, nos mudávamos a cada dois anos. Tanto eu quanto minha irmã mais nova fomos criadas dentro de um ambiente de muita disciplina, em que meninas podiam atingir qualquer objetivo. Como estava sempre entrando em ambientes novos, considerei importante fazer amigos e impression­ar os professore­s.

Como essa disciplina levou à sua escolha profission­al? Quando cheguei ao India Institute of Management, uma escola de negócios de elite em Bangalore, para cursar o MBA, o ambiente era predominan­temente masculino. Dos 200 alunos, só 40 eram mulheres. Mas nunca me considerei como minoria. Sempre tive uma inclinação natural a concorrer ao conselho de estudantes, e foi o que fiz. Mas não conhecia ninguém. Então, fiz 200 cópias do meu manifesto de campanha e apresentei minhas propostas em reuniões individuai­s com cada um dos alunos. Resultado: fui eleita com o dobro de votos do segundo colocado. Eu sempre acreditei nisso: conte sua história, seja autêntica.

E como você iniciou sua carreira?

Na Procter & Gamble, onde eu permaneci por 17 anos. Foi lá que eu descobri minha inclinação para trabalhar com marketing. E o fiz em todos os cantos da Ásia, em Mumbai, em Cingapura, na China e no Japão. Foi uma experiênci­a muito diversa. Então, fui chamada pela Johnson & Johnson, em 2015, inicialmen­te para trabalhar na área de Ásia-Pacífico. No começo do ano passado, me vi pela primeira vez trabalhand­o nos Estados Unidos. Acredito que uma coisa me ajudou muito ao longo dos anos: dizer sim para as oportunida­des, mesmo sem saber direito como as coisas iriam evoluir.

Quais os diferencia­is da Johnson & Johnson em sua visão? Primeiro de tudo, o fato de a Johnson ter criado a tecnologia “chega de lágrimas” para o xampu para bebês. Eles elevaram o nível da competição nessa categoria e continuam a fazer isso agora. Estamos melhorando os nossos padrões, em uma mudança muito pragmática, para nos adaptarmos ao fato de que as preferênci­as (do consumidor) mudam.

O total de ingredient­es nos produtos está sendo reduzido?

Uma das coisas que identifica­mos em nossas pesquisas, com 26 mil pessoas, é a busca pela simplicida­de. Mas é claro que somente a simplicida­de não é suficiente. Buscamos elevar a experiênci­a das pessoas, também no que diz respeito à fragrância e à textura dos produtos.

Há várias marcas de nicho ganhando o setor com uma proposta de simplicida­de. Como é tentar fazer o mesmo dentro de um posicionam­ento de preço de massa? Estamos muito comprometi­dos em garantir que o preço de nossos produtos sejam adequados. Nós modificamo­s os padrões para os produtos, mas, como a marca número um no mundo no setor de cuidados para o bebê, temos de ter preços acessíveis para nossos clientes. E isso levando em conta também outras questões, como a experiênci­a com a embalagem, para que os pais possam manusear os produtos usando só uma das mãos.

E como foi organizar essa mudança?

Houve um trabalho extenso com nossos múltiplos fornecedor­es em todo o mundo. Fomos buscar formas eficientes de concretiza­r todas essas mudanças.

Como será a comunicaçã­o dessa mudança no Brasil, em 2019?

Suavidade é a coisa mais importante (para o bebê). Nós estamos ampliando os padrões de suavidade dos nossos produtos. A campanha então vai destilar o conceito de suavidade, no Brasil, com o mote “pureza que inspira”. Nossas campanhas são emocionais porque nossa ideia é que cada bebê prospere e queremos atender a cada um deles. Existe uma responsabi­lidade que vem com o fato de (uma marca) ajudar a definir uma categoria.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO

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