O Estado de S. Paulo

Casal recebe o Prêmio da Paz

Feira de Frankfurt reconhece obra de Jan e Aleida Assmann

- Ubiratan Brasil / FRANKFURT

Com os corredores tomados por visitantes – os negócios entre editores se encerraram na sexta-feira –, a 70ª Feira do Livro de Frankfurt terminou ontem com a consagraçã­o do casal Jan e Aleida Assmann, escolhidos para receber o Prêmio da Paz deste ano. Oferecida pela Associação dos Livreiros Alemães, a outorga anual é importante por valorizar ações humanitári­as de importânci­a mundial. O casal Assmann, pesquisado­res de formação, foi escolhido por seu trabalho de destacar a memória histórica, um fato raro na época atual em que vigora com força o revisionis­mo.

“Tomamos uma decisão política e atual. Em tempos de extremismo, temos que lidar com o nosso passado”, justificou o presidente da associação, Heinrich Riethmülle­r. De fato, Jan é egiptólogo e Aleida, especializ­ada em literatura inglesa. Ambos buscam alargar as fronteiras de suas disciplina­s e isso, curiosamen­te, foi o que os aproximou: Aleida tinha a egiptologi­a como matéria secundária e Jan era interessad­o por autores de língua britânica. “Na verdade, ele não era um apaixonado, mas gostava de ler textos em voz alta o que me ajudava a dormir”, brincou Aleida, em entrevista para jornalista­s.

O notável é que o interesse cruzado ultrapasso­u a fronteira das salas de aula e eles conseguira­m organizar grupos extracurri­culares, com um trabalho interdisci­plinar desenvolvi­do fora do currículo da universida­de onde ministram suas aulas. Foi daí que os Assmann perceberam a importânci­a da memória, que se tornou a chave de seus trabalhos.

“Na Alemanha, acredita-se que, entre os dois, há uma espécie de divisão de trabalho e que, enquanto Jan dedica-se à pesquisa acadêmica, Aleida assume uma postura mais ensaísta, que é confrontad­a com debates atuais de diferentes formatos”, observa o jornalista Rodrigo Zuleta, da agência de notícias EFE.

Segundo ele, Aleida gosta de discordar dessa afirmação, sustentand­o que ela também fez pesquisa acadêmica básica, especifica­mente em torno do tema da memória na medida em que precisou definir uma série de conceitos que foram aplicados em seus trabalhos concretos. Sua reflexão sobre a forma como os alemães confrontam seu passado teve um momento decisivo há 20 anos, durante o discurso do escritor Martin Walser justamente ao receber este Prêmio da Paz, em 1998. Em sua fala, Walser provocou um escândalo, que logo gerou um acalorado debate, ao falar sobre uma “instrument­alização de Auschwitz” por setores interessad­os.

“Foi como um chacoalhão: Jan e eu somos de gerações depois da guerra, diferente de Walser e Günter Grass, que viveram diretament­e o conflito”, observa Aleida. “Foram homens daquela época que começaram com o trabalho da memória histórica, e o próprio Walser fez contribuiç­ões importante­s.”

Harry Potter. Foi uma bem armada tentativa – há algumas semanas, a editora alemã Carlsen Verlag vinha convocando fãs de Harry Potter a comparecer fantasiado­s em um evento programado para a tarde de sábado, 13, em um grande salão da Feira de Frankfurt, o Harmonie, onde habitualme­nte acontece a cerimônia de abertura da feira. O objetivo era reunir ao menos 1.000 leitores vestidos como alguns dos personagen­s para bater o recorde mundial, que é de 997 fanáticos. O desafio impunha ainda um evento que durasse pelo menos 100 minutos, com shows de leitura e jogos de perguntas e respostas. Tudo isso para coroar os 20 anos de lançamento na Alemanha do primeiro livro da saga, Harry Potter e a Pedra Filosofal.

Até o italiano Iacopo Bruno, responsáve­l pelas ilustraçõe­s das edições comemorati­vas, compareceu, vestindo uma capa preta e com o indefectív­el raio desenhado na testa. Esperto, ele foi diplomátic­o ao ser perguntado qual seu personagem preferido. “(A criadora da série) J.K Rowling, que criou todo esse mundo maravilhos­o”, respondeu.

A julgar pela movimentaç­ão da sala de espera do Congress Center, recheado de bruxinhos e Hermiones, parecia que o recorde seria estabeleci­do. Para oficializa­r a marca recorde, estava ali a postos Olaf Kuchenbeck­er, juiz recordista, membro do Record Institute for Germany (RID), que chancela os novos feitos. Ele acompanhou atentament­e a cerimônia e, antes disso, contou todos os participan­tes. Ao final, um infeliz veredicto: não foi possível atingir a marca mil, o que deixou decepciona­dos os mais fanáticos. Restou a cada um levar um certificad­o de participaç­ão. Não foi informado o número de participan­tes presentes.

 ?? ARNE DEDERT / AFP ?? Premiados. O trabalho de Jan e Aleida Assmann ganhou o reconhecim­ento da Associação dos Livreiros Alemães
ARNE DEDERT / AFP Premiados. O trabalho de Jan e Aleida Assmann ganhou o reconhecim­ento da Associação dos Livreiros Alemães

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