O Estado de S. Paulo

A longa noite de loucuras que ronda a ‘América’

O produtor e diretor negro Gerard McMurray reflete sobre a liberação da violência como forma de tentar conter o crime

- L.C.M.

Nos EUA, a classifica­ção do filme foi R – de ‘restricted’ – pela soma de violência, abuso de drogas e linguagem chula. Se você vir o filme dublado, terminará achando A Primeira Noite de Crime ainda mais grosseiro que é. O longa de Gerard McMurray redimensio­na o terror na era Donald Trump – e no pós Corra! Não se pode nem dizer que tem um subtexto político. A política é o seu background. Em fase de eleição, no Brasil, presta-se a um debate que pode ser bem interessan­te, mais até que suas qualidades.

Olhe o casal da foto – negros e belos. Olhe a bandeira estrelada – e os punhos acorrentad­os. McMurray também está querendo dar seu testemunho sobre a ‘América’. Na ficção de seu filme, a Nova Fundação Pais da América resolve desenvolve­r um experiment­o científico para tentar conter a violência urbana. Durante uma noite – 12 horas –, a NFPA libera o crime numa cidade dos EUA. Para dar vazão ao ódio, as pessoas podem matar impunement­e. Transfira para o Brasil, onde o debate sobre armamentos anda acirrado. O risco é que a violência autorizada viraliza. Vira ameaça nacional.

No original, o filme chamase The First Purge. Em 2014, já houve The Purge – Anarchy, dirigido pelo mesmo James DeMonaco que agora tem crédito de roteirista. Como num game, a cidade é ocupada por mascarados. As máscaras, preservand­o a identidade, criam a invisibili­dade. Tudo é permitido. O agora diretor Gerard McMurray veio da produção – Código do Silêncio, Fruitvale Station – A Última Parada. McMurray é negro, como Ryan Cooglar, o diretor de Fruitvale e de Pantera Negra, e também como Jordan Peele, de Corra! Representa­m todos a nova consciênci­a negra de Hollywood.

Embora a violência liberada atinja a sociedade como um todo, McMurray se interessa principalm­ente pelos efeitos da medida sobre o segmento negro. Os EUA nunca promoveram a fantasia da integração cordial brasileira, por exemplo. A luta por direitos civis foi feroz. Foi preciso desmontar o aparato racista que tinha até organizaçõ­es constituíd­as – a Ku Klux Klan. Será no mínimo interessan­te acompanhar a luta pela sobrevivên­cia de Y’lan Noel e Lex Scott Davis nessa longa, embora sejam só 12 horas, noite de loucuras que ronda a América./

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UNIVERSAL PICTURES Alvos preferenci­ais. Y’lan Noel e a bela Lex Scott Davis

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