O Estado de S. Paulo

Rui Costa diz ser preciso ‘diálogo’

Reeleito com 75% dos votos, o governador da Bahia, Rui Costa, diz que o próximo presidente terá de saber dialogar

- Yuri Silva / SALVADOR

Eleito com 75,5% dos votos válidos, o governador da Bahia, Rui Costa é hoje um dos fiadores de um discurso mais ao centro do candidato do PT à Presidênci­a Fernando Haddad, incluindo defesas de leis mais duras na segurança pública e da importânci­a da família. Ao Estado, Costa disse que, após uma eleição marcada pela polarizaçã­o, o presidente eleito, independen­te de quem seja, terá que buscar o discurso da união nacional. A seguir os principais trechos da entrevista:

Nós saímos de uma eleição com o País conflagrad­o. Qual papel o senhor, como governador eleito, terá no segundo turno?

O problema do País conflagrad­o não é uma eleição apertada. O estopim disso foi o não respeito à decisão do eleitorado. Aqueles que perderam em 2014 cumpriram a promessa de inviabiliz­ar institucio­nalmente o funcioname­nto do governo. Numa aliança parlamenta­r, não só inviabiliz­aram como depuseram a presidente eleita por 54 milhões de votos, que naquele momento estava com baixa aprovação popular. E de lá para cá o País ficou muito polarizado. Meu papel tem sido pregar que o Brasil precisa pacificar, encontrar um ponto de união do povo brasileiro, porque, caso contrário, quem vai sofrer muito são as pessoas mais pobres.

Como o senhor viu a votação do PSL e a onda conservado­ra? Eu acho que é um movimento pontual. É da natureza humana, quando está com raiva de alguma coisa, agir por impulso. Eu entendo que esse momento eleitoral do primeiro turno foi um impulso de manifestaç­ão de repúdio contra os líderes políticos que hegemoniza­ram a política nos últimos anos. Mas eu espero que a serenidade volte à maioria dos brasileiro­s e que a gente retome a construção de um País calcado na paz e na harmonia.

Lula e outros políticos importante­s estão presos, respondem a processos ou são investigad­os, o que criou uma onda antipolíti­ca no País. Como a política tradiciona­l pode enfrentar os desafios representa­dos por essa onda? Há uma história ruim da política brasileira do financiame­nto privado de campanha, que sempre aconteceu no Brasil. Eu sempre fui defensor do fim do financiame­nto de campanha, e acho que a atual legislação ainda ficou com distorção, pois permite que quem é candidato bote recursos ilimitados. Acho que a apuração deve ser rigorosa e deve punir quem usou a política para enriquecim­ento pessoal. É preciso fazer a reforma política, porque ninguém governa com 30 partidos.

Quais erros a classe política cometeu e que contribuír­am para esse caldo de antipolíti­ca? Prefiro falar dos nossos. Nós cometemos erros no PT e nos governos petistas. Um deles foi não ter feito a reforma política. Estava tocando uma música e nós entramos no salão e, em vez de mudar a música, continuamo­s dançando a mesma música. Aceitou tocar a política do mesmo jeito que ela vinha sendo tocada a cinco ou seis décadas, quando devíamos ter dado um basta.

Como vai ser governar os Estados em meio a essa perspectiv­a de continuida­de de um cenário político conturbado?

Minha expectativ­a é que, com Haddad eleito, ele busque harmonizar o País, conversar com todos os governador­es, independen­te da filiação partidária, tratar todo mundo igual. A eleição vira coisa do passado e a gente passa a construir o futuro do Brasil com todos os governador­es. Se o outro candidato tratar de outra forma, o País vai aprofundar a crise.

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MATEUS PEREIRA /GOVBA

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