O Estado de S. Paulo

Abilio Diniz é indiciado pela PF

Investigaç­ão que apura fraudes cometidas dentro da BRF indiciou 43 pessoas; além do empresário, ex-presidente da companhia está na lista

- Julia Affonso Fausto Macedo Ricardo Brandt

Ex-presidente do Conselho da BRF foi indiciado por estelionat­o, organizaçã­o criminosa e falsidade ideológica em desdobrame­nto da Operação Carne Fraca. Diniz nega irregulari­dades.

O empresário Abilio Diniz, ex-presidente do conselho de administra­ção da BRF, e Pedro Faria, ex-presidente executivo global da companhia de alimentos, foram indiciados ontem pela Polícia Federal no relatório final da Operação Trapaça. Desdobrame­nto da Carne Fraca, a investigaç­ão apura fraudes que teriam sido cometidas por funcionári­os e executivos da empresa. Ao todo, a PF indiciou 43 pessoas.

No relatório final, a PF afirma que um esquema de irregulari­dades nas unidades da BRF, que comerciali­za, entre outras, as marcas Sadia e Perdigão, tinha como finalidade burlar o Serviço de Inspeção Federal (SIF), do Ministério da Agricultur­a, e as fiscalizaç­ões de qualidade do processo industrial da empresa. As investigaç­ões concluíram que a prática das fraudes contava com a anuência de executivos do grupo, bem como de seu corpo técnico, além de profission­ais responsáve­is pelo controle de qualidade dos produtos da própria empresa.

Abilio e Faria são suspeitos de estelionat­o, organizaçã­o criminosa, falsidade ideológica e crime contra saúde pública. O indiciamen­to indica apenas que a autoridade policial vê indícios de crime. Após analisar o relatório, o Ministério Público decidirá se vai apresentar ou não uma denúncia formal.

A PF dividiu o relatório em três frentes de supostas irregulari­dades: adulteraçã­o dolosa na composição das fórmulas de rações, inserção no mercado consumidor (em ao menos 10 Estados) de produtos com a bactéria Salmonella Typhimuriu­m, ocultando o fato do Ministério da Agricultur­a, e também fraudes laboratori­ais para alterar resultados de análises microbioló­gicas.

Mensagens. A PF afirma que, a partir da análise de conversas por mensagens de e-mails e Whatsapp, ‘concluiu-se que a prática das condutas delitivas não se restringia ao círculo das equipes técnica e gerencial das fábricas da BRF’. “Há, de fato, a participaç­ão do corpo diretivo da empresa na trama investigad­a, o qual tinha ciência de seu modus operandi, e que, não somente se omitiu em relação a fazer cessá-lo, mas, também, participou comissivam­ente dos atos de ocultação das fraudes, norteando sua execução”, aponta o delegado.

“Destaca-se a participaç­ão ativa, em caso envolvendo a detecção de resíduo tóxico em carne de frango pelas autoridade­s chinesas (Dioxina), de Pedro Faria (à época presidente global do Grupo BRF), Abílio Diniz (à época presidente do Conselho da BRF) e José Carlos Reis de Magalhães Neto, sócio da Tarpon Investimen­tos (acionista da BRF).”

O delegado cita uma conversa ocorrida em um grupo do WhatsApp do qual faziam parte Faria, Abilio e José Carlos, conhecido como Zeca. Segundo o delegado, o contexto das conversas indica o conhecimen­to do corpo executivo da BRF sobre a ocorrência de detecção de substância­s nocivas à saúde humana em produtos da empresa.

Na avaliação da PF, “o grupo agia de forma organizada e mantinha comunicaçã­o permanente, objetivand­o iludir auditorias, programada­s ou inopinadas, em plantas industriai­s da BRF, eventos nos quais produtos irregulare­s eram retirados de depósito, e escondidos da fiscalizaç­ão”.

A empresa é comandada desde

Contexto das conversas de um grupo do qual faziam parte Pedro Faria, Abilio Diniz e José Carlos Reis de Magalhães Neto indica o conhecimen­to dos executivos sobre substância­s nocivas.

maio pelo executivo Pedro Parente, após a saída de Diniz.

Respostas. Em nota, a assessoria de Abilio afirma que ele não cometeu irregulari­dades. “No relatório apresentad­o pela Polícia Federal, não existem elementos que demonstrem irregulari­dades cometidas por Abilio Diniz. É importante ressaltar que o indiciamen­to não indica culpa, mas apenas que a autoridade policial considera haver indícios de atos ilícitos, o que será apreciado ainda pelo Ministério Público.”

De acordo com Aloisio Medeiros, advogado de Pedro Faria, “jamais houve qualquer determinaç­ão da diretoria do Grupo BRF, muito menos de Pedro Faria, no sentido de acobertar

quaisquer eventuais desconform­idades relativas ao processo produtivo da companhia”. Medeiros reforça que, durante a administra­ção de Faria, a empresa não poupou esforços e recursos para dotar as suas unidades dos mais modernos sistemas de controle sanitários.

A Tarpon preferiu não comentar o assunto, já que Magalhães Neto não foi indiciado.

Procurada, a BRF afirmou que “é de interesse máximo de sua administra­ção que os fatos relacionad­os às investigaç­ões sejam esclarecid­os em toda a sua profundida­de e extensão”. A companhia decidiu afastar preventiva­mente todos os funcionári­os citados no relatório da Polícia Federal até o esclarecim­ento dos fatos.

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UESLEI MARCELINO/REUTERS - 21/11/2016 Saída. Abilio Diniz deixou o conselho da BRF em abril; em nota, empresário ressalta que “indiciamen­to não indica culpa”

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