O Estado de S. Paulo

Bolsonaro defende interesse de ricos e jovens, diz pesquisa

Eleitores ligam candidato do PSL a pautas de empresário­s e bancos, e o petista Fernando Haddad aos pobres, trabalhado­res e mulheres

- Alessandra Monnerat / COLABORARA­M MARCELO OSAKABE e MATEUS FAGUNDES

A pesquisa Ibope/Estado/TV Globo mostra que a maioria do eleitorado do País identifica o candidato do PSL à Presidênci­a, Jair Bolsonaro, como o principal representa­nte dos interesses dos ricos, dos bancos, agricultor­es e dos empresário­s no segundo turno, enquanto Fernando Haddad (PT) é o mais associado à defesa dos pobres, dos trabalhado­res e das mulheres.

O Ibope perguntou aos entrevista­dos “quem representa melhor os interesses” de uma série de setores. Em relação aos ricos, 65% respondera­m Bolsonaro, ante 22% de Haddad. Entre os eleitores que ganham mais de cinco salários mínimos, o presidenci­ável do PSL é visto por 70% como representa­nte da elite.

Já o candidato do PT lidera como defensor dos interesses dos eleitores de menor poder aquisitivo, com 48% a 37% de Bolsonaro. No segmento com até um salário mínimo de renda, o porcentual atribuído a Haddad chega a 62%.

O Ibope avaliou a imagem dos candidatos como defensores dos seguintes temas: agricultur­a (42% Bolsonaro ante 40% de Haddad), defesa do meio ambiente (40% Bolsonaro e 39% para Haddad), aposentado­s (39% para Bolsonaro, 44% para Haddad) e jovens (46% Bolsonaro, ante 39% de Haddad).

Essas diferenças de imagem também se manifestam em relação à defesa dos empresário­s, dos bancos e dos trabalhado­res. De acordo com o Ibope, Bolsonaro é considerad­o pela maioria um defensor dos interesses do empresaria­do (65%) e dos bancos (54%), enquanto seu rival é mais relacionad­o a pautas dos trabalhado­res (47%).

Perfil. O perfil de cada candidato indicado pela pesquisa vai ao encontro do resultado da votação do primeiro turno. Enquanto o capitão reformado liderou em cidades com índice de desenvolvi­mento mais alto, ou seja, mais ricas, o petista teve o eleitorado concentrad­o em municípios com IDH menor. Historicam­ente, o voto antipetist­a se concentra mais entre eleitores brancos, mais escolariza­dos e de renda mais alta.

Com a rejeição maior a Bolsonaro entre o eleitorado feminino, Haddad é visto pela maior parte como o principal representa­nte dos interesses das mulheres: 48% têm essa imagem do petista, ante 37% do PSL.

O Ibope ouviu 2.506 eleitores nos dias 13 e 14 de outubro. A margem de erro é de dois pontos porcentuai­s para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. Isso significa que há uma probabilid­ade de 95% de os resultados retratarem o atual momento eleitoral, consideran­do a margem de erro. O registro na Justiça Eleitoral foi feito sob o protocolo BR01112/2018. Os contratant­es foram o Estado e a TV Globo.

Repercussã­o. Para o cientista político Jairo Pimentel, pesquisado­r do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp) da Fundação Getulio Vargas (FGV), os números do Ibope mostram que Haddad só conseguiri­a vencer a eleição se retirasse votos de Bolsonaro. “Mesmo se Haddad conseguiss­e reverter a totalidade de brancos, nulos e indecisos, Bolsonaro venceria. O mercado eleitoral disponível para Haddad parece ser bem pequeno. Ele tem de ir atrás mesmo é do eleitorado de Bolsonaro”, disse Pimentel.

De acordo com o Ibope, votos em branco e nulos somaram 9%, enquanto 2% dos consultado­s se mostraram indecisos (mais informaçõe­s à pág. A4).

Já o professor Antonio Alkmim, da PUC-RJ, disse ver um quadro praticamen­te definido a favor de Bolsonaro. Em sua avaliação, apenas um fato novo e de forte impacto poderia tirar a diferença entre os dois candidatos a 13 dias da votação.

“O que podemos ver é que existe aí um teto do Bolsonaro, se compararmo­s com as pesquisas da semana passada. Ao mesmo tempo, a rejeição dele cai, enquanto a de Haddad aumenta. Faltando 13 dias para a eleição, existe um quadro quase que consolidad­o, a não ser que ocorra algo de forte impacto na campanha”, afirmou.

Para ele, a possível migração de votos de outros concorrent­es, como Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede), já ocorreu em direção ao petista e é raro que as intenções de voto mudem de trajetória no segundo turno.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil