O Estado de S. Paulo

Líderes partidário­s criticam atitude ‘hegemonist­a’ dos petistas

Dirigentes de ex-partidos aliados e adversário­s dizem que postura da sigla de Haddad dificulta frente de apoio ao petista

- R.G. e MARIANNA HOLANDA /

Após vencer quatro disputas presidenci­ais seguidas, a postura do PT, classifica­da por ex-aliados e adversário­s como “hegemonist­a”, deixou um rastro de ressentime­ntos que hoje dificulta reaproxima­ções e a formação de uma “frente democrátic­a” em torno do presidenci­ável Fernando Haddad e contra o candidato Jair Bolsonaro (PSL).

Em entrevista ao Estado, no domingo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deixou claro que a postura do PT é um entrave para seu apoio a Haddad. “O PT no poder sempre teve uma deterioraç­ão da visão do (Antonio) Gramsci da hegemonia. Aqui não é cultural, é hegemonia do comando efetivo. Quando você vê o que foi dito a respeito do meu governo, nada é bom”, disse.

FHC não é o único. Carlos Lupi, presidente do PDT, partido que declarou “apoio crítico” a Haddad, explicou por que a sigla e Ciro Gomes não entraram de cabeça na campanha petista. “É um acúmulo dessa coisa de hegemonia. Me diga uma unidade da Federação em que eles nos apoiaram. Para o PT, a gente só é bom quando os apoia”. Segundo Lupi, no dia 29, logo depois do segundo turno, o PDT vai lançar a candidatur­a de Ciro para a eleição presidenci­al de 2022.

Rede. O PT também procurou a Rede de Marina Silva, por meio de ex-petistas. As tratativas pararam quando a Executiva Nacional do partido decidiu não apoiar o petista ao estabelece­r apenas o veto a Jair Bolsonaro. Questionad­o sobre as razões para não apoiar Haddad, Bazileu Margarido, membro da Executiva Nacional da Rede, criticou o que chamou de “erros” do PT, como as alianças com “o que há de pior na política”.

Durante o debate do primeiro turno no SBT, Marina lembrou que, mesmo depois de o senador Renan Calheiros (MDB-AL) apoiar o impeachmen­t, Haddad foi pedir “bênção” a ele. A maior parte do Congresso que eles chamam de conservado­r foi eleito na coligação do PT, disse Bazileu. “O PT, mais do que ninguém, preferiu priorizar sua hegemonia no campo das esquerdas do que construir uma alternativ­a que pudesse fazer frente a essa alternativ­a conservado­ra”, criticou.

Apesar da decisão da Executiva, a candidata derrotada da Rede ainda não definiu seu voto. Filiada ao PT por quase 30 anos, Marina sofreu duros ataques do partido na eleição presidenci­al de 2014 e costuma dizer que PT e MDB são irmãos siameses.

“O PT preferiu priorizar sua hegemonia no campo das esquerdas do que fazer frente a essa alternativ­a conservado­ra.” Bazileu Margarido

EXECUTIVA NACIONAL DA REDE

“É um acúmulo dessa coisa de hegemonia. Para o PT a gente só é bom quando os apoia.” Carlos Lupi

PRESIDENTE DO PDT

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil