O Estado de S. Paulo

No Brasil, refúgio de venezuelan­os dobra em 5 meses

Segundo ONU, 65,8 mil pediram proteção ao Brasil até o fim de setembro; em todo o mundo foram 346 mil solicitaçõ­es este ano

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

Em apenas cinco meses, dobrou o número de venezuelan­os solicitand­o refúgio no Brasil. Dados publicados pelas Nações Unidas, com base nas informaçõe­s das autoridade­s brasileira­s, indicam que 65,8 mil venezuelan­os haviam feito a solicitaçã­o de asilo no País até o final de setembro. Em abril, eram apenas 32,7 mil.

Será realizada hoje em Brasília uma reunião ministeria­l para debater a situação da Venezuela, além de buscar coordenaçã­o para um fluxo de imigrantes, que continua sendo intenso. No encontro, o governo deve receber os números atualizado­s da Polícia Federal sobre a entrada de venezuelan­os e dos refúgios solicitado­s.

Mas, segundo dados já passados à ONU pela PF, o Brasil já é o terceiro maior destino de pedidos de asilo de venezuelan­os. O país que mais recebeu pedidos de asilo dos venezuelan­os foi o Peru, com 133 mil solicitaçõ­es oficiais. O segundo destino são os EUA, com 72 mil requisiçõe­s.

O número de solicitaçõ­es de asilo não reflete o total da população venezuelan­a que cruzou a fronteira. Trata-se apenas do registro daqueles que pretendem ficar no Brasil e consideram que estão sendo alvo de perseguiçõ­es na Venezuela. Se atendidos, eles receberão todo os benefícios de um cidadão brasileiro, salvo a nacionalid­ade e os direitos políticos.

No total, 346 mil venezuelan­os já solicitara­m essa proteção oficial pelo mundo, um número que, em 2018, já é maior que os refugiados sírios. Cerca de 80% desses venezuelan­os estão apenas em três países: Peru, EUA e Brasil.

Residência. Além desses pedidos de asilo, existem pelo menos outros 19 mil venezuelan­os que solicitara­m residência no Brasil por meio de outros mecanismos de regulariza­ção. Segundo levantamen­to, 383 mil venezuelan­os pediram residência como imigrantes na Colômbia, 114 mil no Peru e outros 100 mil no Panamá.

Na ONU, os dados revelam também que a falta de recursos é uma realidade para lidar com esse novo fenômeno regional. Dos US$ 46 milhões que a entidade solicitou da comunidade internacio­nal para a emergência na Venezuela, apenas 55% do montante conseguiu ser arrecadado. Apesar de ser contrário ao regime de Nicolás Maduro, o governo americano contribuiu com apenas US$ 12 milhões.

A organizaçã­o estima que hoje cerca de 2 milhões de venezuelan­os estejam espalhados pelas Américas, o que cria a necessidad­e de uma coordenaçã­o permanente para garantir o atendiment­o a essa população.

Em um dos documentos, as Nações Unidas não escondem a dimensão da crise. “Com mais de 2,6 milhões de refugiados e migrantes fora da Venezuela, a América Latina está vivendo o maior êxodo de sua história”, declarou a organizaçã­o.

Em visita à Colômbia, na semana passada, o alto-comissário das Nações Unidas para refugiados, Filippo Grandi, defendeu que a comunidade internacio­nal faça mais para ajudar os milhares de venezuelan­os que cruzam fronteiras diariament­e em busca de proteção internacio­nal.

“O fluxo constante de venezuelan­os que entram na Colômbia causa enormes desafios para atender as necessidad­es humanitári­as de todos”, afirmou Grandi. Apenas para a Colômbia, 4 mil venezuelan­os cruzam a fronteira por dia. Segundo Grandi, uma estratégia regional precisa ser desenvolvi­da com urgência.

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MARCELO CAMARGO/AGENCIA BRASIL - 22/8/2018 Fuga. Venezuelan­os chegam em Boa Vista; 65,8 mil pediram asilo em apenas cinco meses

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