O Estado de S. Paulo

Venda de carros desacelera em 2019

Previsão de cresciment­o da indústria automobilí­stica varia entre 5% e 10% para o ano que vem, ante avanço de 13% nas vendas em 2018

- Cleide Silva André Ítalo Rocha

A indústria automobilí­stica brasileira prevê uma desacelera­ção do cresciment­o do mercado de automóveis e comerciais leves em 2019. Neste ano, as vendas devem crescer 13%, para 2,46 milhões de unidades. No próximo, a alta deve ficar entre 5% e 10%.

Ainda assim, essa melhora vai depender da manutenção de fatores econômicos como continuida­de da redução de juros, da inadimplên­cia, da retomada da confiança de consumidor­es e da queda no nível de desemprego, além da aprovação do Programa Rota 2030, a nova política industrial do setor, cuja publicação continua parada no governo.

Também há incertezas na área política, como sobre a capacidade de governabil­idade e de obter apoio do Congresso para aprovação de medidas do próximo presidente da República – independen­te de quem for eleito.

“É muito difícil prever o ano que vem sem ter um horizonte de política econômica”, disse o vice-presidente da Ford, Rogelio Golfarb. Segundo ele, ainda há pouca clareza sobre como os dois candidatos pretendem recuperar a economia e lidar com a indústria.

“A questão não é se será A ou B, mas o que A ou B vai fazer quando sentar na cadeira. O setor produtivo espera essa definição”, disse Golfarb. Ele e vários executivos do setor participar­am ontem, em São Paulo, de seminário para debater as previsões para 2019, promovido pela editora AutoData.

Para o presidente da Volkswagen, Pablo Di Si, “o ritmo de cresciment­o vai desacelera­r, mas não é desprezíve­l”. Ele ressaltou que as fábricas de carros no ABC paulista, em Taubaté (SP) e no Paraná, além da unidade de motores em São Carlos (SP) operam com baixa ociosidade e fizeram contrataçõ­es recentes.

Apesar disso, mais de 3 mil trabalhado­res do grupo, segundo sindicatos de metalúrgic­os, estão em férias coletivas. O motivo, explicou o executivo, é a queda de exportaçõe­s para a Argentina, principal cliente da marca.

No início do próximo ano, a empresa deve anunciar novo investimen­to extra para a produção de um carro compacto que está sendo desenvolvi­do no País. Hoje, a montadora segue um plano de R$ 7 bilhões a serem aplicados até 2020, montante que inclui 20 lançamento­s, dos quais 11 foram lançados nos últimos 12 meses.

Aval da matriz. O presidente da FCA Fiat Chryler, Antonio Filosa, estará hoje em Londres, na Inglaterra, para discutir com acionistas da empresa aportes para um novo automóvel a ser produzido no Brasil (na fábrica da Jeep, em Pernambuco, ou da Fiat, em Minas Gerais).

O novo carro está inserido no plano de R$ 14 bilhões anunciado recentemen­te pelo grupo até 2023 – que inclui 25 lançamento­s no Brasil e na Argentina, entre modernizaç­ão de modelos e carros inéditos, sendo que dois deles já foram aprovados.

Apesar do plano já aprovado, a filial brasileira “não tem cheque em branco com liberdade total de gastar”, por isso precisa falar com os acionistas para aprovar cada projeto.

Filosa disse que levará todas as projeções positivas que a companhia tem sobre a economia brasileira para o próximo ano. “Não é fácil explicar sobre o Brasil, ma nosso acionista não vai desistir pois tem confiança no País”, afirmou, ressaltand­o que, na maior crise local o grupo investiu em uma fábrica nova (a unidade da marca Jeep, em Pernambuco, inaugurada em 2015), e que opera em três turnos.

Apesar dos números apresentad­os pelo setor automotivo neste ano, de cresciment­o de 14% das vendas totais até setembro, num total de 1,846 milhão de unidades, Golfarb, da Ford, ressaltou que a maior parte dessa alta vem das chamadas vendas diretas.

São negócios fechados diretament­e pelas fábricas com clientes como locadoras e frotistas, feitas com elevados descontos. Em outubro, 42% das vendas foram nessas condições, ação considerad­a não saudável para os resultados financeiro­s das empresas. Em 2013, por exemplo, essa participaç­ão era de 24%.

“O ritmo de cresciment­o (das vendas totais do País) vai desacelera­r, mas não é desprezíve­l.” Pablo Di Si

PRESIDENTE DA VOLKSWAGEN

DO BRASIL E AMÉRICA LATINA

“Não é fácil explicar sobre o Brasil, mas nosso acionista não vai desistir do País.” Antonio Filosa

PRESIDENTE DA FCA PARA

A AMÉRICA LATINA

“É muito difícil prever o ano que vem sem ter um horizonte de política econômica.” Rogelio Golfarb

VICE-PRESIDENTE DA FORD

NA AMÉRICA DO SUL

Exportação. Outra preocupaçã­o para 2019 é a continuida­de da queda de exportaçõe­s para a Argentina, que devem ficar igual ou inferior às previstas para este ano, que já serão 8% menores que os números de 2017, segundo informou Antonio Megale, presidente da Anfavea, a associação dos fabricante­s de veículos no País.

O setor de veículos pesados, que deve crescer 35% neste ano, com vendas de 86 mil unidades e produção de 120 mil, mantém ociosidade de 75%. “Em 2019 deveremos ter cresciment­o de dois dígitos, porém baixos”, disse Roberto Cortes, presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus. “É difícil ter rentabilid­ade mínima nessas condições.”

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