Uma reflexão sobre a Avenida Rebouças
e antigas artérias viárias de São Paulo sofreram degradação pelo seu uso e ocupação ao longo do tempo. Grandes avenidas são exemplos deste fenômeno como a Nove de Julho, a Celso Garcia, a Santo Amaro, a Bandeirantes, a Alcântara Machado (Radial Leste), a Lins de Vasconcelos, a São João, a Heitor Penteado, a Consolação, entre tantas outras. O que explica isso? A resposta é simples: uma vertiginosa expansão demográfica da cidade e uma sucessão, sem fim, de administrações públicas negligentes e míopes com o planejamento de longo prazo e interesses globais da sociedade.
Porém este movimento é conhecido (e vivido) nas maiores e principais cidades do mundo. Assim como temos incontáveis exemplos de revitalização, regeneração, renovação e reabilitação de centros e regiões outrora degradados. Tudo isso se denomina como requalificação. A questão central é que o Brasil, incluindo todos os seus atores sociais, ainda não acordou para essa imperiosa necessidade.
A sociedade é dinâmica e o espaço urbano precisa acompanhar esse movimento. Porém, por aqui não se tem conseguido realizar essas alterações na mesma velocidade. Como resultado disso, temos o permanente déficit na qualidade de vida de seus ocupantes. Em grandes centros isso fica ainda mais latente.
A cidade que se espalha para receber sua expansão demográfica produz mais e mais deslocamentos de seus habitantes. As distâncias ficam maiores e os tempos de percurso, consequentemente, também. O transporte de massa não dá conta da demanda, sobretudo quando é mal estruturado e planejado, caso paulistano e brasileiro, de modo geral.
Como via estrutural, a Avenida Rebouças conecta várias regiões da cidade e faz parte de um enorme eixo Sudoeste – Central. Portanto, estamos falando de uma localidade extremamente nobre, no contexto do município, e de suas ocupações residenciais e empresariais, mas que foi maculada pela hostilidade que afeta os eixos viários de intenso tráfego de veículos (mal do presente).
É inegável que apesar do restritivo recente Plano Diretor Estratégico (PDE) aprovado no município, este serviu como alavanca para estimular a requalificação que começa a ser enxergada na Rebouças. A interferência do novo mecanismo colaborou para que o setor imobiliário voltasse seus olhos para essa pérola adormecida.
Podemos adicionar, como válvula propulsora a contribuir com essa requalificação, a questão cultural que perpassa os grandes centros, de modo transversal, e muitos denominam como “cidades/economias criativas”. Sem questionamentos, independentemente de seus problemas estruturais, São Paulo está no topo das cidades mais dinâmicas do planeta. As grandes cidades defiImportantes nitivamente precisam ser mais compactas. Não apenas por sua massa populacional, mas sobretudo por sua importância na economia do país.
Com o grave problema de mobilidade que a cidade tem (um dos piores do mundo), a ques- tão do tempo se torna crucial. Com efeito, morar perto é hoje a principal prioridade de quem vive por aqui. É necessário estar perto do trabalho, da escola, do lazer, dos polos de saúde e dos centros culturais. O novo urbanismo, que começou a ser discutido nos anos 80, prega o retorno à cidade tradicional europeia, conjurando imagens de uma arquitetura adensada de pequena escala e ruas caminháveis. O modelo urbano orientado para o automóvel está agonizando. A vida moderna pede tudo perto, tudo junto, tudo misturado. Fruto dessa nova realidade, as estatísticas dos lançamentos imobiliários residenciais dos últimos 14 anos refletem essa dinâmica.
A Rebouças pode (e deve) oferecer isso. Enxergo a Rebouças plural em sua ocupação e uso. O bom é que os empreendedores imobiliários já começaram a desvendar esse potencial adormecido. E a população agradece.
*Milton Fontoura – Diretor da GEU – Grupo de Estudos Urbanos
A sociedade é dinâmica e o espaço urbano precisa acompanhar esse movimento