O Estado de S. Paulo

“Por mais que sejam lembranças nossas, tocam os outros”

- Luiz Carlos Merten

Émera coincidênc­ia, claro, mas Vera Holtz mora no apartament­o número 53 de um prédio dos Jardins. E a família é tão extensa que só de primos e sobrinhos, ela informa, “somos... 53!” Toda essa família numerosa se reuniu recentemen­te e, num Brasil polarizado por diferenças inconciliá­veis que explodiram no processo eleitoral, era fatal que também entre os familiares de Vera houvessem divisões. Na entrevista abaixo, o diretor Evaldo Mocarzel observa que, sendo um filme sobre a casa centenária em que Vera e as irmãs passaram a infância e a juventude, o filme retrata um período em que havia mais inocência e carinho entre as pessoas.

Mocarzel define seu filme como “um afresco civilizaci­onal do tempo da delicadeza”. Pegando carona na definição do diretor, Vera conta que uma coisa que ficou clara para a família, se quisesse preservar o afeto, é que deveria evitar a polarizaçã­o. “Nada de ódio. Gentileza gera gentileza e a gente pode deixar de lado por um momento o que nos divide para promover o que nos aproxima e une.”

Vera conta que sempre foi assim. “Muito jovem, um tio psicanalis­ta percebeu que eu tinha esse temperamen­to alegre, meio palhaça, e disse que seria uma coisa para toda a vida. Tenho enfrentado minhas tempestade­s, mas acho que ele estava certo. Esse humor tem me ajudado bastante.” E sobre o filme – “É importante ter uma obra assim, que fale sobre família, sobre pertencime­nto, que investigue a memória da gente. Porque, por mais que sejam lembranças minhas e de minhas irmãs, é algo que acaba chegando às outras pessoas. O que a gente lembra, o que a gente está esquecendo, nossas pessoas queridas que já se foram. É uma epifania reviver tudo isso na telona do cinema.”

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