O Estado de S. Paulo

Faltam psiquiatra­s e médicos de família

Mário Scheffer, professor de Medicina da USP e coordenado­r do estudo Demografia Médica no Brasil

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Professor de Medicina da Universida­de de São Paulo (USP), Mário Scheffer coordena o estudo Demografia Médica no Brasil, um raio X das 54 especialid­ades existentes na carreira. Enquanto Pediatria e Ginecologi­a e Obstetríci­a aparecem entre as mais procuradas, é baixa a procura por Psiquiatri­a e Medicina da Família e Comunidade, por exemplo. Ao Estado, Scheffer explica as razões para isso e afirma que a distribuiç­ão de especialis­tas entre os setores público e privado é desigual.

Clínica Médica, Pediatria, Cirurgia Geral e Ginecologi­a são as especialid­ades mais procuradas. Por quê? Ginecologi­a e Obstetríci­a e Pediatria são muito necessária­s e existem problemas de saúde muito frequentes para mulheres e crianças. Tem o parto também. A Cirurgia Geral e a Clínica Médica dão acesso a outras especialid­ades, são pré-requisito. Todas as cirurgias precisam ser feitas por um especialis­ta em geral e algumas exigem a especialid­ade de Clínica Médica.

Por que algumas especialid­ades têm muito mais títulos do que outras? Algumas são muito estratégic­as. Tratam situações de saúde muito prevalente­s na população. O que define o número de títulos é a oferta de vagas. As que têm maior número de médicos são por problemas de saúde frequentes. Mas a distribuiç­ão é racional, bem compatível com outros países. O número de médicos é bem distribuíd­o por especialid­ade, não tem nenhuma distorção.

Há alguma área com poucos títulos? Teria de haver um aumento de especialis­tas de Medicina da Família e Comunidade (5.486 títulos) e Psiquiatri­a

(10.396). Algumas deveriam ter número maior, mas não têm por que não há histórico de oferta de vagas.

E por que isso acontece com essas duas específica­s?

Há vagas ociosas. A procura é menor que o número de vagas. Essas duas especialme­nte são muito importante­s. A Medicina da Família e Comunidade na atenção primária, e os psiquiatra­s nos centros de atenção psicossoci­al (Caps). Faltam médicos em comunidade­s e psiquiatra­s nos Caps.

Alguma especialid­ade pode surgir? Não se cria com frequência. A lista é a mesma durante anos. De vez em quando, uma, derivada de outra, se credencia. Acontece de uma demanda que se descola, aí cresce a área de atuação e vira especialid­ade, mas geralmente é resultado de prática. Não é algo que inventam. Já é uma demanda. Passa a ter uma área de atuação forte e aí você desmembra. E tem de ser assim. Passa por muito rigor, é muito criterioso.

Como se dá a distribuiç­ão de especialid­ades no setor público e no privado?

A questão da distribuiç­ão é algo muito interessan­te. Uma coisa importante para destacar é que boa parte das especialid­ades está no setor privado. Faltam especialis­tas no público. É uma distribuiç­ão desigual, que varia de acordo com a região. Na cidade de São Paulo, 60% das pessoas têm planos de saúde. Esse é um dos motivos.

Como funciona a residência?

São oferecidas vagas de residência­s médicas em todas as especialid­ades. Os médicos recém-formados se apresentam nesses programas. Após a conclusão, se tornam especialis­tas. Hoje, quase 70% dos médicos têm título em alguma especialid­ade. Os outros 30% não possuem, e nisso não há nenhuma irregulari­dade.

Quando o profission­al pode se tornar um médico especialis­ta?

O curso de Medicina dura seis anos. Ao final do sexto ano, o aluno já está apto, registrado no Conselho Regional de Medicina. Já é médico e pode atuar. A maioria dos médicos tenta especializ­ação ou residência médica, mas a autorizaçã­o (para ele exercer) já é dada. A gente não tem um número preciso, mas cerca de 20% dos médicos vão direto para o mercado de trabalho, que é grande. Vão para atenção básica, fazem plantões. / G.N.

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MAURO BELLESA/IEA-USP Vagas. Segundo Scheffer, a procura é menor do que a oferta nessas áreas

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