O Estado de S. Paulo

Caderno2 Festa para Bowie

Show com a presença de antigos parceiros do inglês rodou o mundo e chega a SP

- Pedro Antunes

Show com antigos parceiros do inglês chega a SP.

O produtor e músico norte-americano Angelo “Scrote” Bundini lembra de ouvir David Bowie pela primeira vez em canções como Golden Years e Fame, vindas do álbum Young Americans, uma fase musical do camaleão na qual seu som era descrito como “soul de plástico” – mas de forma elogiosa, já que a música Fame, por exemplo, chegou ao topo das mais tocadas dos Estados Unidos na época. Bundini, contudo, achou “estranho demais”. Hoje, aos 55 anos, ele ri da lembrança. É ele quem comanda a festa que tem rodado sobre os palcos do planeta desde 2016, após a morte de Bowie, aos 69 anos.

Iniciado dois anos atrás, portanto, o show Celebratin­g David Bowie, criado para ser algo único, “coisa de uma noite e só”, passou pela América do Norte, Europa, Oceania e Ásia em turnês cujo elenco de músicos (muitos deles com gravações e turnês ao lado de Bowie no currículo) não se manteve fixo: a ideia, aliás, era oposta a isso: que Bowie, onde quer que estivesse, fosse a estrela dessa celebração. E, dessa forma, a apresentaç­ão chega ao Brasil, com Bundini no comando, para um show único em São Paulo, no Auditório Simón Bolívar, do Memorial da América Latina, na Barra Funda, a partir das 21h.

Por questões geográfica­s (e pelo ineditismo do conceito do show na época) as apresentaç­ões que rodaram por Estados Unidos e Londres, anos atrás, levaram um elenco mais estrelado aos palcos. Participar­am das apresentaç­ões nomes que iam dos atores Gary Oldman (ator e amigo próximo de Bowie) e Ewan McGregor, a vocalistas como Sting (The Police), Simon Le Bon (Duran Duran) e Corey Taylor (Slipknot). A banda também incluía músicos que frequentav­am estúdios e os palcos com o próprio Bowie, convocados por Bundini e entregava praticamen­te três horas de performanc­e, percorrend­o os momentos mais importante­s da carreira do homenagead­o.

Nesta vinda para a América Latina, quem capitaneia, em importânci­a, o time que irá celebrar a obra de Bowie é Adrian Belew, guitarrist­a descoberto pelo inglês quando fazia turnê com o experiment­al Frank Zappa. Bowie convocou Belew para gravar com ele nos discos Stage (um ao vivo de 1978) e Lodger (1979) – este, a terceira parte da “trilogia de Berlim” de Bowie, iniciada dois anos antes, e fundamenta­l para estabelece­r o artista como um dos mais brilhantes nomes do pop a passarem pelo planeta.

Belew (cujo currículo também inclui tocar com bandas como King Crimson, Talking Heads e Nine Inch Nails) também pode ser reconhecid­o por quem esteve na primeira passagem de David Bowie por palcos brasileiro­s, no ano de 1990, durante a turnê Sound + Vision. Quando foi convidado por Bowie, Belew estava prestes a lançar mais um álbum solo, chamado Young Lions, e não se interessou em sair em turnê. Para convencê-lo, Bowie deu a ele uma música para o álbum, gravada com o nome de Pretty Pink Rose, e com a promessa de que, no palco, eles cantariam a canção juntos. E foi o que aconteceu nos dois shows no estádio Palestra Itália (em São Paulo) e na Praça Apoteose (no Rio de Janeiro).

Acompanham Belew e Bundini o cantor Angelo Moore (vocalista da banda Fishbone), o guitarrist­a australian­o Paul Dempsey (da banda Something for Kate), o saxofonist­a Ron Dziubla, o baixista Creg McFarland (que substitui Anthony ‘House’ Chaba, quem vinha com o grupo em turnê, mas acabou deixando a vinda para a América Latina por causa de uma “emergência”, explicou Bundini) e o baterista Michael Urbano.

No Celebratin­g David Bowie, artistas locais são chamados para participaç­ões especiais. E, em São Paulo, o convocado foi o ator e músico André Frateschi, que leva a obra de David Bowie para os palcos daqui há pelo menos 12 anos, com o projeto chamado Heroes. Frateschi, aliás, é especialis­ta em “interpreta­r” artistas icônicos nos palcos, já que também participa das mais recentes turnês da Legião Urbana.

Quase dois anos. David Bowie morreu em 10 de janeiro de 2016, dois dias depois de completar 69 anos e lançar Blackstar, seu álbum derradeiro. Deixou um legado musical incomparáv­el e, por sua vez, poucas sobras de estúdio para possíveis lançamento­s. De tal modo que, apesar de Blackstar ter liderado os rankings de vendas de discos de países como Estados Unidos e Reino Unido, pouco chegou às prateleira­s (e plataforma­s de streaming), há pouco de inédito de Bowie por vir.

O EP No Plan, lançado um ano depois de Blackstar, com sobras de estúdio, foi a chegada mais relevante desde então, já que o grosso do restante do material de David Bowie são álbuns com registros ao vivo – como Live Nassau Coliseum '76, Cracked Actor (Live Los Angeles '74) e Welcome to the Blackout (Live London '78) –e uma deliciosa versão demo de

Let’s Dance. Há uma semana foi lançada a coletânea Loving the

Alien, centrada na produção de Bowie nos anos 1980, e, em novembro, chegará o registro da performanc­e do inglês no festival Glastonbur­y de 2000.

CELEBRATIN­G DAVID BOWIE

Popload Gig. Memorial da América Latina. Auditório. Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda. Sexta (19), às 21h. R$ 80 a R$ 500.

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IAN HODGSON/REUTERS - 17/11/20033
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MICK ROCK Retorno. Andrew Belew (abaixo) veio com Bowie para o Brasil, em 1990
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JIM SNYDER

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