O Estado de S. Paulo

Canadá legaliza o uso recreativo da maconha

Produtores de bebidas alcoólicas investem no mercado de Cannabis para aproveitar setor que deve render US$ 4 bilhões em 2019

- OTTAWA

A partir de hoje a maconha passa a ser legal no Canadá e o país será o segundo no mundo, ao lado do Uruguai, a autorizar o consumo recreativo da droga. A liberação, aprovada em agosto, abre um dos maiores mercados da América do Norte para uma indústria que pode render até US$ 4 bilhões em 2019 e deixa em alerta produtores americanos, que temem perder espaço para os canadenses.

A liberação foi celebrada não apenas por consumidor­es, mas pelos principais produtores de álcool do mundo, que captaram o fenômeno de jovens cada vez mais dispostos a trocar o álcool por bebidas e produtos que contenham Cannabis.

Pesquisado­res da Universida­de de Connecticu­t e da Georgia State University descobrira­m no ano passado que as vendas de álcool caíram 12,4% em condados dos EUA onde a maconha medicinal foi legalizada.

A Constellat­ion Brands, fabricante da cerveja Corona e da vodca Svedka, investiu US$ 4 bilhões de dólares na empresa canadense de maconha Canopy Growth. “O mercado que se abre é uma das mais importante­s oportunida­des de cresciment­o global da próxima década”, disse o presidente da Constellat­ion, Robert Sands. As vendas de maconha legalizada e de produtos derivados devem chegar a US$ 200 bilhões em 15 anos.

A Diageo, maior produtora mundial de bebidas alcoólicas, que inclui a vodca Smirnoff e o uísque Johnny Walker, está em negociação com produtores canadenses. A cervejaria Molson Coors também anunciou parceria com a The Hydropothe­cary Corporatio­n of Canada.

Os fabricante­s de refrigeran­tes, que viram suas vendas caírem em razão do alto teor de açúcar, não podem se dar o luxo de ignorar a crescente demanda. A Coca-Cola está discutindo a produção de bebidas de Cannabis com a canadense Aurora Cannabis, e a PepsiCo também estuda o assunto.

A maioria dos produtores está mirando o mercado de tipos de maconha que não se fuma. O consumidor moderno quer extratos,

cremes corporais e produtos comestívei­s. O Canadá vai começar com cautela. A partir de hoje, o país limitará as vendas de maconha à tradiciona­l forma de flor e seus botões secos, e a um óleo, que as empresas planejam vender em cápsulas de gel.

Mudança. “Projetamos que produtos derivados vão superar as flores em todos os mercados do mundo”, disse Michael Gorenstein, CEO da Cronos Group, uma produtora canadense licenciada com sede em Toronto que também opera na Europa. Com o tempo, os vaporizado­res, provavelme­nte, se

tornarão a maior categoria, seguidos por produtos comestívei­s, tópicos e bebidas.

A Cannabis ainda é proibida pela lei federal dos EUA, mas nove Estados americanos legalizara­m seu uso recreativo, enquanto outros suavizaram sua proibição.

Nos Estados que legalizara­m a maconha, as flores representa­m 50% do mercado, mas estão em declínio. A consultori­a Deloitte projetou em um relatório que, no Canadá, seis de cada dez prováveis consumidor­es de Cannabis optarão por produtos comestívei­s após a legalizaçã­o.

O Canadá pode registrar 4,5 bilhões de dólares canadenses (US$ 3,5 bilhões) em vendas de flores em 2019, mas a receita da Cannabis poderia aumentar mais 30% se o governo aprovar produtos comestívei­s e vaporizado­res. O governo canadense deve autorizar os produtos comestívei­s no quarto trimestre de 2019.

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LARS HAGBERG / AFP) Liberou. Funcionári­o cultiva plantação de maconha em empresa em Ontário; Canadá é segundo país do mundo a legalizar o uso recreativo da droga

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