O Estado de S. Paulo

Críticas de Cid ampliam isolamento do PT no 2º turno

Alianças. Irmão de Ciro Gomes expõe mal-estar entre as siglas de esquerda; campanha Haddad vê como cada vez mais remota a possibilid­ade de uma frente contra Bolsonaro

- Ricardo Galhardo Daniel Weterman Renan Truffi / BRASÍLIA COLABOROU MATHEUS LARA /

As críticas do senador eleito Cid Go- mes (PDT-CE) – irmão de Ciro Gomes – ao PT expuseram o mal-estar na esquerda e ampliaram o isolamento do candidato Fernando Haddad neste segundo turno. Cid disse que o PT deveria fazer autocrític­a e assumir que fez “muita besteira” pa- ra não “perder feio”. A fala foi levada ao ar na propaganda eleitoral de Jair Bolsonaro.

A pouco mais de uma semana da votação em segundo turno, as críticas do senador eleito Cid Gomes (PDT) – irmão de Ciro Gomes – ao PT expuseram o mal-estar na esquerda e fizeram com que a campanha de Fernando Haddad se resignasse com a cada vez mais remota possibilid­ade de atrair o apoio de uma frente de partidos na disputa contra Jair Bolsonaro (PSL).

Até o momento a campanha de Haddad vive um isolamento no campo ideológico e conquistou adesões protocolar­es entre siglas de esquerda (PCB, PSB, PSOL) que não estavam coligadas com o PT no primeiro turno. O PDT, principal cobiça, porém, anunciou apenas um “apoio crítico”.

Em ato realizado em Fortaleza (CE), na noite de anteontem, Cid disse que o PT deveria fazer uma autocrític­a e assumir que fez “muita besteira” para não “perder feio” de Bolsonaro. O pedetista foi vaiado pela plateia, que começou a gritar o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato.

Ontem, em entrevista ao Estadão/Broadcast, ele reiterou as críticas. “Se tem uma possibilid­ade de reversão desse quadro (liderança de Bolsonaro), extremamen­te avesso ao Haddad, que eu considero o melhor candidato, é a gente ir no nó da questão, que é essa ânsia, essa raiva, essa vingança, que boa parte dos brasileiro­s tem em relação ao PT”, disse. “Penso que a única forma de se contrapor a esse sentimento é desvincula­r. É um pedido de desculpas, é o reconhecim­ento de erros (por parte do PT).”

A reação de Haddad foi tentar minimizar o episódio – que foi explorado ontem por Bolsonaro em seu programa eleitoral na TV (mais informaçõe­s nesta página). “Uma coisa meio acalorada, não vou ficar comentando isso até porque eu tenho uma amizade com o Cid, ele fez elogios à minha pessoa”, disse o petista.

Após o primeiro turno, o PT esperava formar o que chegou a ser chamado de “frente democrátic­a” contra Bolsonaro. Ao atrair apoio de outros partidos e de parte da sociedade civil, a campanha buscava criar um caráter supraparti­dário para defender a eleição de Haddad.

A principal expectativ­a da campanha petista era atrair Ciro no segundo turno. Porém, o ex-presidenci­ável do PDT viajou para a Europa e não aceitou chefiar a equipe do programa econômico do petista. Ele também não deverá subir no palanque com Haddad, muito menos fazer fotos para indicar o “apoio crítico”, aprovado em reunião da executiva nacional do PDT na semana passada.

Não foi o único contratemp­o enfrentado até agora pela campanha do PT. Haddad tentou se aproximar do ex-ministro e expresiden­te do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. O ex-relator do processo do mensalão na Corte, contudo, não se compromete­u com um apoio público ao petista. Barbosa se filiou ao PSB e chegou a ensaiar uma candidatur­a ao Palácio do Planalto, mas recuou.

Não houve avanço também na aproximaçã­o do partido com integrante­s do PSDB, com quem o PT polarizou a disputa eleitoral nos últimos anos. Em entrevista ao Estado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que não aceitava “coação moral” dos que agora buscam seu apoio.

Diante das críticas de Cid Gomes, o articulado­r político da campanha de Haddad à Presidênci­a, Jaques Wagner, disse que aposta em um apoio da sociedade, sinalizand­o que não conta mais com a ampliação de acordos com outros partidos.

Para Wagner, as críticas de Cid Gomes foram feitas “no calor da campanha” e já é suficiente contar com o “apoio crítico” do PDT. “As pessoas vão votar já. O Fernando Henrique diz que não vota no outro, o Ciro já disse que não vota no outro.”

“Uma coisa meio acalorada, não vou ficar comentando isso até porque eu tenho uma amizade com o Cid, ele fez elogios à minha pessoa.” Fernando Haddad

PRESIDENCI­ÁVEL DO PT

Oposição. Em conversas reservadas, alguns dirigentes do PT afirmam que os ataques de Cid somados às declaraçõe­s recentes do presidente do PDT, Carlos Lupi, e à viagem de Ciro para o exterior seriam movimentos que visam definir o papel do PDT. A avaliação é de que a sigla quer demarcar diferenças em relação ao PT por um protagonis­mo na oposição em eventual governo Bolsonaro.

A análise também é feita entre os pedetistas em relação ao PT. Ao Estadão/Broadcast, Cid afirmou que parte do PT já deu por perdida a disputa presidenci­al no segundo turno das eleições e está “se lixando” para Haddad. “Eles (petistas) querem ser hegemônico­s inclusive na oposição. Boa parte da companheir­ada aí já deu por perdido (o segundo turno) e está pensando nisso, em ser hegemônico na oposição. Estão se lixando para o Haddad.”

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