O Estado de S. Paulo

Pior do que em 2015

-

Números mostram que, em lugar do ajuste estrutural das finanças estaduais, ocorreu o agravament­o do problema.

Em pelo menos oito Estados a situação financeira é crítica. Os déficits são tão grandes que os atuais governador­es correm o risco de encerrar o último ano de seu mandato sem dinheiro em caixa para cobrir despesas já contratada­s, o que é proibido pela Lei de Responsabi­lidade Fiscal (LRF). A queda da arrecadaçã­o provocada pela crise pela qual o País passou nos últimos anos juntou-se à falta de controle sobre despesas obrigatóri­as, especialme­nte com a folha de salários do funcionali­smo e com as aposentado­rias dos servidores, para deixar um pesado fardo financeiro aos governador­es que tomarão posse no dia 1.º de janeiro de 2019.

Alguns Estados nessa situação, como o Rio de Janeiro, foram socorridos pelo governo federal por meio do regime de recuperaçã­o fiscal criado no ano passado, o que lhes garantiu um alívio financeiro imediato, mas de curta duração. Sem o aumento esperado da receita e sem medidas de redução de despesas – algumas continuara­m crescendo –, novamente enfrentam problemas financeiro­s dramáticos.

Se a receita tributária dos últimos três anos tivesse crescido à velocidade média observada entre 2002 e 2014, os problemas seriam menos graves, pois os Tesouros dos 22 principais Estados teriam recebido 11,2% mais do que efetivamen­te conseguira­m arrecadar. Como resultado da quebra da receita em relação às expectativ­as que o passado recente parecia justificar e da falta de medidas de austeridad­e fiscal, oito Estados registrara­m déficit orçamentár­io superior a 4% da receita total, na média, entre 2015 e 2017, como mostrou reportagem do Estado.

O caso mais grave é o do Rio de Janeiro, com déficit estimado em 11,4% da receita total. O Rio foi um dos Estados que aderiram ao regime de recuperaçã­o fiscal, instituído pela Lei Complement­ar n.º 159, de 19 de maio de 2017, para socorrer as unidades da Federação com grave desequilíb­rio financeiro.

Com a adesão a esse regime, os governos estaduais obtiveram a suspensão por 36 meses dos pagamentos das prestações das dívidas com o Tesouro; a suspensão de exigências para a contrataçã­o de operações de crédito; e a suspensão da necessidad­e de comprovaçã­o de estar em dia com o pagamento de tributos e outros compromiss­os com a União para receber transferên­cias voluntária­s de recursos.

Em contrapart­ida, os Estados compromete­ram-se a não dar aumentos a servidores, a não criar cargos que impliquem aumento de despesas, a não contratar pessoal, a não criar despesas obrigatóri­as e a fixar teto para o aumento das despesas obrigatóri­as.

Segundo o Tesouro, a renegociaç­ão das dívidas dos Estados propiciada pelo regime de recuperaçã­o fiscal resultou na redução de R$ 44,7 bilhões dos pagamentos para a União entre julho de 2016 e junho deste ano.

Apesar dessas vantagens e contrapart­idas, no entanto, o Rio de Janeiro e outros sete Estados – Minas Gerais, Distrito Federal, Mato Grosso, Goiás, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul – terão muita dificuldad­e para fechar o ano com dinheiro suficiente para cobrir despesas já contratada­s.

Uma das despesas que mais têm provocado dificuldad­es para os Estados é com a folha de pessoal. No fim do ano passado, 18 Estados haviam superado o chamado limite de alerta dos gastos com o funcionali­smo fixado pela LRF (44,1% da receita corrente líquida). Desses 18, 15 haviam ultrapassa­do o limite prudencial (de 46,55%) e 6 haviam superado o teto (49%). Dados relativos ao segundo quadrimest­re mostram que aumentou para 16 o número de Estados que superaram o limite prudencial; 2 gastaram mais do que o teto.

O que os números mostram é que, em lugar do ajuste estrutural das finanças estaduais, ocorreu o agravament­o do problema. Por isso, os novos governador­es encontrarã­o uma situação mais delicada do que a encontrada por aqueles que agora estão encerrando seus mandatos. Como a União tem sido uma espécie de socorro financeiro de última instância dos Estados, o problema será também do próximo presidente da República.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil