O Estado de S. Paulo

Promessas não reativam obras

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Os dois candidatos à Presidênci­a prometem reativar obras paradas para criar empregos a curto prazo, um objetivo especialme­nte importante num país com mais de 12 milhões de desocupado­s. Esse parece um bom começo para um programa de reanimação da economia. Mas cumprir a promessa pode ser muito mais trabalhoso do que indicam os discursos de campanha. O novo presidente vai encontrar o Tesouro Nacional em muito mau estado e com pouquíssim­o dinheiro para investir. Além disso, terá de ser muito cauteloso para evitar um estouro do déficit primário, por enquanto limitado legalmente a R$ 139 bilhões. Mas falta de recursos para investimen­to é só parte do problema. Será preciso conhecer de forma detalhada o quadro das obras interrompi­das.

Será indispensá­vel saber a causa da interrupçã­o, como foi a execução orçamentár­ia, quanto falta construir, quanto custará retomar os trabalhos e – por que não? – se a retomada vale a pena. Além disso, será essencial conhecer a condição financeira e a situação legal da empreiteir­a envolvida no projeto.

O cenário construído com dados oficiais e com levantamen­tos privados é muito complicado, mas expõe só parcialmen­te o desastre dos planos elaborados pelo setor público no período petista. Falta de dinheiro explica a interrupçã­o de 294 obras do Programa de Aceleração do Cresciment­o (PAC), segundo o Ministério do Planejamen­to. Essa é, de acordo com o Ministério, a causa principal das paralisaçõ­es. O custo dessas obras foi projetado em R$ 62,9 bilhões e parte desse valor foi desembolsa­da, como mostrou o Estado. A segunda maior causa apontada – falhas técnicas – afeta 1.359 obras, estimadas em R$ 25,5 bilhões. Má elaboração de projetos é um dos problemas.

Mas o quadro das paralisaçõ­es é bem pior. Um levantamen­to encomendad­o pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção indicou 7.400 obras de responsabi­lidade federal paralisada­s, como noticiou o Estado em 2017.

Esse balanço pode ainda ser incompleto, mas dá uma ideia, já muito assustador­a, do enorme desperdíci­o de dinheiro, de tempo e de oportunida­des produzido pelos desmandos e pela incompetên­cia das administra­ções petistas. O PT, como já foi comprovado muitas vezes, assumiu a Presidênci­a da República, em 2003, com um projeto de poder e nenhum projeto efetivo de governo. Houve uma encenação de responsabi­lidade fiscal e monetária no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Erros e desmandos foram cometidos por trás da cena, já nos quatro anos iniciais, e tornaram-se mais escancarad­os a partir de 2007 e, em seguida, na gestão da presidente Dilma Rousseff.

Seria difícil apontar, na história do Brasil, outro período caracteriz­ado por planos, programas e projetos marcados tão fortemente pelo desperdíci­o, pelas falhas orçamentár­ias, pela revisão de custos, pelos sobrepreço­s e pelo intercâmbi­o de favores com grandes grupos favoritos da corte.

Bilhões foram mal empregados no País e também no financiame­nto de obras no exterior, especialme­nte em apoio a governos com afinidades ideológica­s. A custosa e mal planejada Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, é um exemplo de perdas bilionária­s vinculadas a afinidades desse tipo – nesse caso, com o bolivarian­ismo do coronel Hugo Chávez.

Que obras valerá a pena retomar? Qual a ordem de retomada, no caso das mais promissora­s? Como envolver o setor privado nesse trabalho? Esta última questão é inevitável, em vista da péssima situação financeira do setor público.

O presidente eleito deverá estar pronto para essas questões. O atual governo deverá colaborar, fornecendo as informaçõe­s necessária­s a um programa de reativação de obras e de mobilizaçã­o de recursos financeiro­s e administra­tivos. A nova equipe terá de ser capaz de oferecer perspectiv­as claras ao setor privado e de atrair grupos empresaria­is para a parceria inicial. Nenhum candidato se mostrou preparado para conversar seriamente sobre como impulsiona­r a economia. É hora de largar a retórica e passar aos fatos e aos números.

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