Bolsonaro não é apenas ‘teflon’, é um paredão de tênis
Fernando Haddad está perdido no labirinto que no primeiro turno aprisionou o tucano Geraldo Alckmin. Neste segundo turno, quanto mais a campanha do candidato do PT procura uma saída para reverter seu fraco desempenho nas pesquisas, mais desnorteada ela parece ficar a cada divulgação de resultados favoráveis a Bolsonaro. No tempo em que Haddad tratava o capitão reformado como se ele não fosse problema do PT, a campanha do então candidato do PSDB atacava Bolsonaro com afinco e esperava ansiosamente a divulgação das pesquisas num clima de “agora, vai”. Mas o que vinha já é conhecido por todos: o candidato do PSL melhorava seu desempenho enquanto Alckmin permanecia estagnado e, várias vezes, via sua rejeição aumentar. Foi exatamente o que ocorreu até agora neste segundo turno conforme mostra a mais recente pesquisa Ibope/Estado/TV Globo. Na sexta-feira, Haddad abriu sua propaganda de rádio e televisão com as travas da chuteira na canela de Bolsonaro, que também não deixou barato e foi para cima do PT. O resultado foi o aumento da rejeição ao petista (47%) e o fortalecimento do candidato do PSL.
Por isso, antes de ter sonhado montar sua “frente democrática” (o que chega a parecer uma piada na boca de um partido que sempre trabalhou para ser hegemônico), o PT talvez devesse ter tentado formar uma frente de marqueteiros, pesquiseiros e todos os “ólogos” que analisam a política e as campanhas eleitorais. Porque Bolsonaro parece não ser apenas um “candidato teflon”, aquele em que as carradas de lama atiradas por adversários jamais grudam. Bolsonaro está hoje mais para um paredão de tênis: quanto mais forte a raquetada contra ele, mais rápida e com mais força a bola volta na direção do tenista em formato de aumento de rejeição.
Uma explicação para esse fenômeno, além dos petardos certeiros disparados pela campanha de Bolsonaro até agora, pode ser o fato de que os ataques contra ele partiram sobretudo da dupla PSDB-PT, que teve décadas para renovar as práticas políticas, mas apareceu abraçada nas fotos das farras promovidas pela Odebrecht e pela JBS, entre outras. É trágico para a democracia ver uma das campanhas eleitorais deste segundo turno, a de Bolsonaro, se reduzir a uma coleção de “lives” de Facebook e de outras postagens de redes sociais, monólogos vazios e sem chance para o contraditório. Antes de culpar o eleitor, contudo, é preciso aceitar que a legitimidade do PT, do PSDB e de outros partidos ruiu junto com as estratégias de marquetagem e de “desconstrução” que tanto sucesso fizeram em outras campanhas (muitas bancadas via caixa 2 eleitoral). Como indicam as pesquisas, parcela significativa dos brasileiros enxerga nos ataques a Bolsonaro uma espécie de comprovação de que o capitão é mesmo a antítese de “tudo o que está aí”. Conforme o andar da carruagem, tucanos e petistas serão iguais também na desgraça de terem sido massacrados por um candidato sem propostas claras e sem experiência administrativa.