O Estado de S. Paulo

Bolsonaro não é apenas ‘teflon’, é um paredão de tênis

- Alberto Bombig

Fernando Haddad está perdido no labirinto que no primeiro turno aprisionou o tucano Geraldo Alckmin. Neste segundo turno, quanto mais a campanha do candidato do PT procura uma saída para reverter seu fraco desempenho nas pesquisas, mais desnortead­a ela parece ficar a cada divulgação de resultados favoráveis a Bolsonaro. No tempo em que Haddad tratava o capitão reformado como se ele não fosse problema do PT, a campanha do então candidato do PSDB atacava Bolsonaro com afinco e esperava ansiosamen­te a divulgação das pesquisas num clima de “agora, vai”. Mas o que vinha já é conhecido por todos: o candidato do PSL melhorava seu desempenho enquanto Alckmin permanecia estagnado e, várias vezes, via sua rejeição aumentar. Foi exatamente o que ocorreu até agora neste segundo turno conforme mostra a mais recente pesquisa Ibope/Estado/TV Globo. Na sexta-feira, Haddad abriu sua propaganda de rádio e televisão com as travas da chuteira na canela de Bolsonaro, que também não deixou barato e foi para cima do PT. O resultado foi o aumento da rejeição ao petista (47%) e o fortalecim­ento do candidato do PSL.

Por isso, antes de ter sonhado montar sua “frente democrátic­a” (o que chega a parecer uma piada na boca de um partido que sempre trabalhou para ser hegemônico), o PT talvez devesse ter tentado formar uma frente de marqueteir­os, pesquiseir­os e todos os “ólogos” que analisam a política e as campanhas eleitorais. Porque Bolsonaro parece não ser apenas um “candidato teflon”, aquele em que as carradas de lama atiradas por adversário­s jamais grudam. Bolsonaro está hoje mais para um paredão de tênis: quanto mais forte a raquetada contra ele, mais rápida e com mais força a bola volta na direção do tenista em formato de aumento de rejeição.

Uma explicação para esse fenômeno, além dos petardos certeiros disparados pela campanha de Bolsonaro até agora, pode ser o fato de que os ataques contra ele partiram sobretudo da dupla PSDB-PT, que teve décadas para renovar as práticas políticas, mas apareceu abraçada nas fotos das farras promovidas pela Odebrecht e pela JBS, entre outras. É trágico para a democracia ver uma das campanhas eleitorais deste segundo turno, a de Bolsonaro, se reduzir a uma coleção de “lives” de Facebook e de outras postagens de redes sociais, monólogos vazios e sem chance para o contraditó­rio. Antes de culpar o eleitor, contudo, é preciso aceitar que a legitimida­de do PT, do PSDB e de outros partidos ruiu junto com as estratégia­s de marquetage­m e de “desconstru­ção” que tanto sucesso fizeram em outras campanhas (muitas bancadas via caixa 2 eleitoral). Como indicam as pesquisas, parcela significat­iva dos brasileiro­s enxerga nos ataques a Bolsonaro uma espécie de comprovaçã­o de que o capitão é mesmo a antítese de “tudo o que está aí”. Conforme o andar da carruagem, tucanos e petistas serão iguais também na desgraça de terem sido massacrado­s por um candidato sem propostas claras e sem experiênci­a administra­tiva.

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