O Estado de S. Paulo

Doria dobra aposta no elo com Bolsonaro

Candidato tucano ao governo de SP vai explorar ainda mais a imagem do presidenci­ável do PSL na disputa de 2º turno com Márcio França (PSB)

- Pedro Venceslau Adriana Ferraz Fabio Leite

O ex-prefeito João Doria, candidato do PSDB ao governo de São Paulo, dobrou a aposta no presidenci­ável Jair Bolsonaro (PSL) e vai explorar ainda mais a imagem do candidato para tentar vencer a disputa no segundo turno. A estratégia dividiu o partido do capitão reformado.

O entorno do tucano ficou apreensivo após Doria viajar ao Rio na semana passada e tentar sem sucesso um encontro com Bolsonaro, que alegou mal-estar. A campanha do governador Márcio França (PSB), que disputa a reeleição, explorou o episódio nas redes sociais.

Segundo um dos estrategis­tas do ex-prefeito, o planejamen­to no segundo turno é “surfar o tsunami do capitão” e ao mesmo tempo jogar “baldes de tinta vermelha” em França, que é apresentad­o como esquerdist­a e aliado do PT.

Essa tática foi colocada em xeque após o senador eleito Major Olímpio, presidente do PSL em São Paulo, declarar voto em França no mesmo dia que o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, candidato derrotado do MDB ao governo, anunciou apoio ao atual governador.

Aliada de Doria, a jornalista Joice Hasselmann, deputada eleita pelo PSL, convenceu Bolsonaro a gravar um vídeo com uma breve declaração na qual ele deseja “sorte” ao tucano e crítica França. “No tocante ao Doria, quero agradecer o apoio dele. Eu sei que ele é oposição ao PT. Somos oposição ao PT. Eu sei que o outro, o França, tem o apoio do PT”, disse o presidenci­ável.

O material rapidament­e foi transforma­do em um comercial da campanha tucana, que também usou “depoimento­s” de eleitores defendendo a chapa “Bolsodoria”. A ideia, segundo um interlocut­or do ex-prefeito,

é usar esse material exaustivam­ente até o fim da campanha. A avaliação no entorno de Doria é que a declaração “salvou” a campanha.

A estratégia, porém, abriu um racha no PSL paulista. “Achei imoral e antiético o Doria usar

esse vídeo, que só foi feito porque o Bolsonaro foi educado e elegante. O ex-prefeito fez disso uma tábua de salvação”, afirmou Major Olímpio. Segundo o dirigente do PSL, Bolsonaro está neutro em São Paulo, mas a maioria dos dez deputados federais e 15 estaduais eleitos pela sigla apoiam França.

“O João (Doria) é um pouco mais à direita, enquanto o França representa que há de pior na esquerda e tem o PT atrás dele”, disse Joice. Segundo a deputada eleita, o responsáve­l pelo desgaste de Bolsonaro com o PSDB foi Geraldo Alckmin, que o atacou no primeiro turno.

Colaboraçã­o. Para rebater a ofensiva de Doria, França divulgou nas redes sociais postagens nas quais lembra que o tucano já elogiou e doou para políticos que hoje chama de “esquerdist­as”, como o ex-ministro José Eduardo Martins Cardozo (PT) e a atual candidata a vice na chapa de Fernando Haddad, Manuela d’Ávila (PCdoB).

Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelados pelo Estado em 2016 confirmam a “colaboraçã­o” de Doria. Cardoso e Manuela receberam R$ 10 mil de Doria em 2006 e 2010, respectiva­mente. Neste ano, com o embate direto com França, tanto o PSB como o próprio Skaf, que declarou apoio à reeleição do atual governador, viraram “esquerdist­as”,

segundo o tucano.

O candidato João Doria confirmou as doações e disse que, como empresário, doou também para partidos como DEM, PSDB, PP e PSD. “Como se observa, nenhuma tendência ideológica ou viés partidário. As doações são compatívei­s com o comportame­nto de um líder empresaria­l, como era o caso a época”, ressaltou em nota.

Ex-aliado Gravações que registram Doria elogiando a liderança de Márcio França e declarando apoio irrestrito a ele também passaram a ser veiculadas nos programas eleitorais do PSB – em 2016, o partido de França chegou a doar R$ 25 mil

à campanha do tucano. Dois anos depois, ele agora é classifica­do como “lobo em pele de cordeiro”.

Na pré-campanha de Doria à Prefeitura em 2016, França foi escalado pelo então governador Geraldo Alckmin para comandar a articulaçã­o da formação da coligação do tucano, que conquistou o maior tempo de TV e rádio.

“O João (Doria) é um pouco mais à direita, enquanto o (atual governador Márcio) França representa o que há de pior na esquerda e tem o PT atrás dele.” Joice Hasselmann

DEPUTADA FEDERAL ELEITA

PELO PSL DE SÃO PAULO

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