O JAPONÊS QUE SALVOU 6 MIL JUDEUS
Chiune Sugihara emitiu vistos feitos à mão
“Nem mesmo um caçador pode matar um pássaro que voa na sua direção em busca de refúgio.” Este ditado samurai inspirou um homem inteligente e corajoso a salvar milhares de pessoas, desafiando seu governo e em detrimento de sua carreira. Em 12 de outubro cheguei a Nagoya a convite do governo japonês para discursar em honra à sua memória.
Hoje, o extraordinário Chiune Sugihara novamente traz à tona estas questões: “O que forma um herói moral? E como uma pessoa decide salvar pessoas que outros abandonaram?” Pesquisas feitas a respeito de pessoas que salvaram judeus durante o Holocausto mostram que muitas já eram indivíduos independentes desde a infância.
Sugihara era pouco convencional numa sociedade conhecida por valorizar a conformidade. Seu pai insistia que o filho, um aluno exemplar, se tornasse médico, mas Sugihara quis estudar línguas, viajar e mergulhar na literatura. Forçado a prestar exame para medicina, ele deixou a folha de respostas em branco.
O mesmo traço de voluntariedade ficou à mostra quando ingressou na carreira diplomática e, como vice-chanceler do Japão na Mandchúria, em 1934, renunciou ao posto protestando contra o tratamento dado aos chineses pelos japoneses.
Em 1939, ele foi enviado à Lituânia para dirigir o consulado e logo se deparou com os judeus que fugiam da Polônia ocupada pela Alemanha. Por três vezes, telegrafou à sua embaixada pedindo permissão para emitir vistos para os refugiados. Mas a resposta foi negativa. Sugihara conversou com sua mulher e seus filhos e decidiu que, apesar dos danos a sua carreira, desafiaria seu governo. Anos depois da guerra, Sugihara falou sobre suas ações e as qualificou de “naturais”. “Tínhamos milhares de pessoas penduradas nas janelas da nossa residência”, afirmou em entrevista em 1977. “Não havia outra maneira.”
Grande parte do mundo viu uma multidão de estrangeiros desesperados. Mas Sugihara viu seres humanos e entendeu que poderia salvá-los por meio de uma ação prosaica, mas essencial. Em uma semana, emitiu vistos manuscritos que normalmente cobririam um mês.
Quando o Japão fechou a embaixada, em setembro de 1940, ele levou todo o material de escritório e continuou a escrever à mão os vistos que não tinham legitimidade jurídica, mas funcionavam porque traziam o selo do governo e seu nome.
Pelo menos 6 mil vistos foram expedidos para as pessoas viajarem através do Japão para outros destinos e, em muitos casos, famílias inteiras transitaram usando um único visto. Segundo estimativas, mais de 40 mil descendentes estão vivos hoje por causa dele.
Com o consulado fechado, ele teve de deixar o país. Mas forneceu o selo a um refugiado para que ele forjasse novos vistos. Após a guerra Sugihara foi demitido, perdeu um filho de 7 anos e assumiu trabalhos humildes. Foi somente em 1968, quando foi encontrado por um sobrevivente,
“Disse ao ministério que era questão de humanidade. Qualquer outro teria feito a mesma coisa no meu lugar” Chiune Sugihara
EX-DIPLOMATA DO JAPÃO
Yehoshua Nishri, que sua contribuição foi reconhecida.
Sugihara morreu em 1986. Nove anos antes ele concedeu uma entrevista e lhe foi perguntado a razão de agir daquela maneira. “Eu disse ao ministério do Exterior que era uma questão de humanidade. Não me importava se perderia o emprego. Qualquer outra pessoa teria feito a mesma coisa se estivesse em meu lugar.”
Naturalmente muitos estiveram em seu lugar, mas poucos agiram do mesmo modo. Coragem moral é algo difícil. Grandeza moral, ainda mais raro.