‘Missão impossível’
Fosse jogador do Corinthians, a primeira coisa que faria, logo após o café da manhã desta quarta-feira, era botar os fones de ouvido e escutar a trilha sonora de Missão Impossível. Sabe qual é? Aquela da série americana de filmes que tem o Tom Cruise como astro principal, sempre metido numas tarefas pra lá de complicadas. E se sai bem. A batida do ritmo da música criada pelo pianista Artie Kane estimula, anima, sei lá, deve até aumentar o nível de adrenalina e melhorar a circulação. Ficaria o dia com aquilo na cabeça, até na chegada ao estádio de Itaquera.
Não que o desafio seja impossível, como sugere o título da crônica (na verdade, coloquei ali para chamar a atenção do amigo leitor). Mas não tem moleza para a rapaziada de Jair Ventura, no tira-teimas com o Cruzeiro pelo título da Copa do Brasil. Os mineiros já entram “campeões”; para eles, o empate é suficiente. Até derrota por um gol serve, pois leva tudo para os pênaltis.
A pressão, a responsabilidade, a tensão recaem sobre os corintianos. Eles têm de anular o placar adverso sofrido em Belo Horizonte, o que por si só se mostra tremenda dor de cabeça. Mais do que isso: precisam superar desconfianças e as próprias limitações. A fase está longe de ser boa. Por isso, a diferença de um golzinho apenas – algo tão corriqueiro no futebol –, desta vez assume proporção imensa, tremenda.
O Corinthians vive contradição, e sem querer retrata o País hoje em dia. Sem brilho, sem ser favorito, chegou a outra decisão e pode fechar o ano no alto, até com vaga na Libertadores. Ao mesmo tempo, pode ficar sem o troféu – hipótese palpável – e descambar para o precipício, já que a campanha no Campeonato Brasileiro decepciona, a ponto de deixá-lo próximo da turma desesperada com o rebaixamento.
O outro Jair que quer se dar bem na vida também conta com o apoio de seguidores fervorosos (estádio cheio ontem) e apela para o peso da camisa alvinegra. Mas não só. Entende como necessária e imprescindível atuação perfeita, superior àquela da vitória na semifinal, também em casa, sobre o Flamengo. Então, um gol era suficiente. Agora, como vimos, pode não bastar. Sem contar que o risco é maior.
E por quê? Porque é último jogo, porque perdeu a anterior por 1 a 0 (no caso do Fla havia empatado por 0 a 0 no Rio) e porque topa com um rival fatal em contragolpes. Para ficar também em exemplos recentes, lembremos que em dois contra-ataques liquidou o Palmeiras nas semis: no Allianz e no Mineirão, a bola saiu rapidamente da defesa para o ataque e encontrou Barcos a postos para mandar para a rede.
Jair sabe que para resolver a parada não basta ser atrevido e ir para a frente, como manda o figurino. Descuido na defesa, um gol que a equipe venha a sofrer – tudo isso pode transformar-se em drama e decepção. A escalação mostra preocupação óbvia na retaguarda, que não é setor frágil (apesar dos 3 a 0 recentes para o Fla, pela Série A).
O nó está na frente, com interrogação do tamanho do estádio: quem fará o gol (ou os gols) salvador? Desde a saída de Jô no fim de 2017 e de Rodriguinho, durante o Mundial, não apareceu ninguém para resolver. Jadson eventualmente resolve, assim como Romero. Muito raro que Pedrinho, Clayson, Mateus Vital sejam os definidores. Não é por acaso que há quatro jogos o Corinthians amarga jejum. Mano Menezes, ao contrário, tem opções com Robinho, Barcos, Thiago Neves, Rafinha. A missão é bem difícil. Será que garra dos jogadores e entusiasmo da Fiel resolverão? A conferir.
Corinthians pode inspirar-se em série americana para chegar ao título da Copa do Brasil
Seleneymar. A seleção inicia ciclo para 2022 do mesmo jeito como tem sido desde depois do Mundial de 2010: joga no Neymar para ver o que acontece. Foi assim ontem, no 1 a 0 sobre a Argentina. Imaginava que Tite mostraria algo novo. Engano.