O Estado de S. Paulo

Exportador teme ações de novo governo

Plano de Bolsonaro, líder nas pesquisas, de mudar Embaixada do Brasil em Israel e críticas à presença chinesa no País têm preocupado setor

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA Fernanda Nunes Renata Batista / RIO

Líder nas pesquisas de intenção de voto para a Presidênci­a da República, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, vem provocando ruídos nos negócios do Brasil com o exterior. Seu plano de mudar a embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém põe em risco um volume de exportaçõe­s de US$ 13 bilhões por ano em carne bovina e de aves para o mercado muçulmano, que é apoiador da causa palestina. Já as declaradas restrições à presença chinesa na infraestru­tura lançam dúvidas sobre uma carteira bilionária de investimen­tos que poderão ser aportados no País.

Mas, embora causem preocupaçã­o pelo potencial de estrago que trariam, essas declaraçõe­s ainda não são tomadas como 100% certas. A elas é dado um desconto, pelo fato de terem sido feitas num contexto de campanha eleitoral.

A avaliação é feita, por exemplo, pelo presidente da Bahia Mineração, Eduardo Ladsham. “À medida que ele conhecer as relações comerciais (entre Brasil e China) vai perceber que é fundamenta­l ter uma parceria.”

Também o responsáve­l pela Cadeia de Suprimento­s Agrícolas da Cargill na América do Sul, Paulo Sousa, recomendou cautela com o ambiente “quente” do período eleitoral. “O Brasil precisa da China e a China, do Brasil. A China tem a demanda pelos produtos agrícolas do Brasil, como a soja. A China tem capital para investir em infraestru­tura no Brasil.”

Sobre a possível mudança da embaixada brasileira em Israel, o consultor em comércio exterior Welber Barral disse que “esse é um tema central para o mundo árabe e para os muçulmanos em geral”. Ele, porém, acredita que essa posição pode mudar após as eleições.

Essa também é a leitura que circula nos meios diplomátic­os árabes. Por enquanto, a palavra de ordem é cautela. Nos meios técnicos, o risco de redução de compras do Brasil, principalm­ente de carne, é encarado com preocupaçã­o. A avaliação é que os países muçulmanos podem procurar outros fornecedor­es internacio­nais.

O ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, informou que até o momento não recebeu nenhuma reclamação. “Tenho recebido embaixador­es de países árabes, mas ninguém disse nada”, afirmou ele ao Estado.

China. Bolsonaro também entrou em rota de colisão com a China, principal parceiro comercial do País, com uma corrente de comércio de US$ 74 bilhões só de janeiro a setembro deste ano. Na semana passada, ele declarou, em entrevista à TV Bandeirant­es, que não venderia geradoras de energia a investidor­es daquele país. “A China não está comprando no Brasil, ela está comprando o Brasil”, disse. “Você vai deixar o Brasil na mão do chinês?”

Segundo um integrante da equipe que trabalha no programa de governo do candidato, o sociólogo Antônio Flávio Testa, a fala de Bolsonaro expressa principalm­ente uma preocupaçã­o com a aquisição de terras no País e o risco de controle na produção agrícola nacional. “Mas não podemos prescindir dos investimen­tos chineses.”

No início deste ano, o candidato fez uma visita a Taiwan, ilha que não reconhece o predomínio da China continenta­l. Ele estava com os filhos e o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que deverá ocupar a Casa Civil caso o candidato do PSL vença as eleições. A visita resultou em uma carta de protesto enviada pela Embaixada da China ao DEM e publicada nas redes sociais em março pelo vereador do Rio de Janeiro César Maia. O Brasil não tem relações diplomátic­as com Taiwan.

O presidente da Vale, Fabio Schvartsma­n, disse ontem esperar que Bolsonaro não adote uma política externa que mexa nas relações Brasil-China. A China é o maior cliente da Vale, destino de mais de 60% do minério de ferro vendido pela companhia. Bolsonaro, porém, questionou o apetite da potência asiática por ativos brasileiro­s no setor elétrico. “Para a Vale, a preocupaçã­o é muito pequena tendo em vista nossa mútua dependênci­a (China e Vale). Mas não é bom para ninguém. Disputas não trazem benefício e, se não é bom para ninguém, não é bom para a Vale”, afirmou após participar do FT Commoditie­s Summit 2018, no Rio.

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IVAN BUENO/ APPA Carne. Uma preocupaçã­o é que países muçulmanos procurem outros fornecedor­es

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