O Estado de S. Paulo

A Previdênci­a de Bolsonaro

- E-MAIL: FABIO.ALVES@ESTADAO.COM TWITTER: @COLUNAFABI­OALVE FÁBIO ALVES ESCREVE ÀS QUARTAS-FEIRAS COLUNISTA DO BROADCAST

Aproposta de reforma da Previdênci­a a ser enviada ao Congresso por Jair Bolsonaro, caso as pesquisas de intenção de voto confirmem sua ampla liderança e ratifiquem a sua vitória na eleição presidenci­al, poderá frustrar a imagem de reformista que o candidato do PSL tem entre os investidor­es que lhe bancaram o apoio praticamen­te unânime.

As mais recentes declaraçõe­s de Bolsonaro e seus principais auxiliares, como o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), já “nomeado” ministro-chefe da Casa Civil num eventual governo dele, foram na direção de mudanças bem mais graduais e aguadas na Previdênci­a Social em comparação, por exemplo, com o projeto original de reforma enviado por Michel Temer em dezembro de 2016.

Por essas declaraçõe­s, a idade mínima de aposentado­ria, que na versão final do projeto do governo Temer ficou em 62 anos para mulheres e 65 anos para homens, deve ser mais baixa na reforma que Bolsonaro tentará aprovar no Congresso. É provável que seja mantida a diferencia­ção na idade de aposentado­ria entre homens e mulheres.

Com o histórico de votações de Bolsonaro em 27 anos como parlamenta­r, como esperar mudanças significat­ivas que afetem os benefícios de militares? É bom lembrar que a bancada no Congresso de representa­ntes dessa corporação aumentou.

Vale destacar que é preciso dar um desconto, neste momento, no discurso de Bolsonaro e de seus auxiliares sobre a reforma da Previdênci­a, pois dificilmen­te antes da votação do segundo turno um candidato antecipari­a uma proposta muito dura de um tema bastante impopular entre os eleitores para não pôr em risco sua vitória.

Fica a dúvida, portanto, se o recuo de Bolsonaro e de seus auxiliares em direção a uma reforma da Previdênci­a mais dura e mais próxima com o que os investidor­es esperariam é por convicção ou por mera estratégia eleitoral?

Supondo que, de fato, Bolsonaro envie ao Congresso uma proposta mais diluída do que o projeto original enviado por Temer, a reforma da Previdênci­a dele ainda poderá ter um impacto importante nas contas públicas e, por tabela, na confiança de investidor­es, empresário­s e agências de classifica­ção de risco sobre as perspectiv­as da economia brasileira.

Para tanto, é preciso que a proposta de Bolsonaro contemple alguns itens fundamenta­is. O primeiro seria atacar privilégio­s do Regime Próprio da Previdênci­a Social, que atinge os servidores públicos, os quais, exceto uma nova idade mínima de aposentado­ria, ficaram praticamen­te de fora na versão final do projeto de Temer em tramitação no Congresso. O projeto que quase chegou a ser votado concentrav­a-se muito no INSS, que rege os benefícios dos trabalhado­res da iniciativa privada.

Também seria fundamenta­l a proposta de Bolsonaro incluir um tratamento específico dos funcionári­os que entraram no serviço público antes de 2003, os quais ainda têm direito a se aposentar com o valor do último salário e com reajuste igual ao servidor da ativa. Isso exigiria rever direitos adquiridos, o que não é tarefa fácil se o tema acabar nos tribunais e for julgado por quem também seria afetado por tais mudanças.

Talvez a aposentado­ria de servidores públicos antigos não chegue a ser o ponto mais crucial em termos de valores, mas o simbolismo político é sem precedente­s no sentido de se vender aos eleitores de que se está propondo uma reforma justa, sem privilégio­s.

Igualmente importante será a regra de transição que a proposta de Bolsonaro vai contemplar para questões como o tempo mínimo de contribuiç­ão exigido para aposentado­ria, que ficou em 25 anos no projeto encaminhad­o por Temer.

Se a mudança para as novas regras for diluída por muito tempo, a perder de vista, o mercado concluirá que a proposta de Bolsonaro será uma “não reforma” e pouco vai alterar a urgência que exige o controle dos gastos públicos. Quanto mais curto for o período de transição para as novas regras, maior será o seu impacto. Todavia, uma transição abrupta enfrentari­a forte resistênci­a política.

O mais provável é que, ao vencer a eleição presidenci­al e assumir o governo, Bolsonaro encaminhe uma proposta de reforma da Previdênci­a mais dura do que a sua base de apoio partidário no Congresso acabe aprovando. O problema é se, antes de chegar ao Congresso, seu projeto já tenha um desenho mais aguado para acabar sendo diluído ao final da tramitação, como sempre acontece.

A dúvida é se a proposta de Bolsonaro para a Previdênci­a será dura ou mais aguada

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