O Estado de S. Paulo

Senado rejeita lei que destrava venda na Eletrobrás

Projeto que resolve pendências das distribuid­oras da estatal que estão sendo privatizad­as é derrotado por 34 votos a 18 e é arquivado

- Anne Warth Renan Truffi / BRASÍLIA COLABOROU ADRIANA FERNANDES

O plenário do Senado rejeitou ontem o projeto de lei que destrava a venda e resolve pendências das distribuid­oras da Eletrobrás. A proposta, que já havia sido aprovada pela Câmara, foi derrotada por 34 votos a 18. O projeto será arquivado e não pode voltar à votação. Sem ele, há uma incógnita sobre o futuro da distribuid­ora Amazonas Energia. O leilão da empresa, que está marcado para 25 de outubro, foi mantido pelo BNDES.

Antes de o projeto ser analisado pelo Senado, quatro das seis distribuid­oras da Eletrobrás já haviam sido vendidas. Em julho foi vendida a Companhia Energética do Piauí (Cepisa) e em agosto foram vendidas as Companhia de Eletricida­de do Acre (Eletroacre), Centrais Elétricas de Rondônia (Ceron) e Boa Vista Energia (Roraima). A Companhia Energética de Alagoas (Ceal) está com a venda suspensa por uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF).

A aprovação do projeto de lei era fundamenta­l para atrair o setor privado para a venda da distribuid­ora do Amazonas, já que resolvia diversas pendências da empresas. Mas a maior prejudicad­a foi a Eletrobrás, que, sem a proposta aprovada, não tem segurança de que as dívidas que assumiu dessas empresas vão se tornar crédito, como previa o projeto.

Como a Amazonas Energia não tem mais contrato de concessão desde junho de 2016 e a Constituiç­ão não permite que ela seja doada sem custo, caso não haja interessad­os no leilão, a distribuid­ora pode ser liquidada. Na liquidação, todas as dívidas ficariam com a Eletrobrás e todos os empregados seriam demitidos.

Há dois anos, depois de acumular prejuízo de mais de R$ 20 bilhões com a operação das distribuid­oras, a Eletrobrás não quis renovar o contrato de concessão. Desde então, as empresas atuam como designadas, uma forma precária de prestação de serviços, à espera da realização do leilão.

Fontes do governo reconhecem a dificuldad­e de lidar com a situação e avaliam que o Senado não avaliou as consequênc­ias da liquidação. Resta a esperança de vender a Amazonas Energia mesmo sem o projeto de lei, mas as chances de sucesso são baixas. Alternativ­as só serão avaliada pelo governo após a realização do leilão, segundo apurou o Estadão/Broadcast.

O Ministério do Planejamen­to informou ontem que no caso de dissolução da distribuid­ora do Amazonas, a Eletrobrás teria custo de R$ 13 bilhões e que os empregos não estão garantidos.

O projeto de lei tramitava em regime de urgência e já trancava a pauta do Senado. Por isso, apesar dos apelos dos senadores do Amazonas, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDBCE), manteve o projeto em pauta, mesmo com a Casa esvaziada e com vários senadores contrários à proposta.

Próximo governo.O senador Eduardo Braga (MDB-AM) comemorou a decisão do Senado e disse que a rejeição do projeto ameaça a concretiza­ção da privatizaç­ão das outras distribuid­oras vendidas neste ano, no Acre, Rondônia, Roraima e Piauí. Na avaliação dele, caberá ao próximo governo eleito decidir o que fazer com as distribuid­oras. Ele rejeitou a hipótese de que sua atuação contrária à privatizaç­ão pode ter levado às empresas ao fim, com a liquidação.

“Foi a decisão mais acertada do Senado da República. Diante da inseguranç­a jurídica que significa a não aprovação desse projeto de lei, muito provavelme­nte, não haverá a concretude da assinatura dos (outros) contratos”, afirmou Braga. “O que não é correto é a gente, no meio de um turno e outro, votar a privatizaç­ão de uma forma desequilib­rada como proposta no texto que veio da Câmara.”

Nas discussões, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), defendeu a aprovação do projeto, mas foi derrotado. Ele disse que o programa Luz Para Todos não iria acabar, já que foi prorrogado até 2022, e que as dívidas da empresa não seriam repassadas aos consumidor­es. “A votação do projeto é em benefício do consumidor brasileiro, e não o contrário”, disse Bezerra Coelho.

A rejeição do projeto de lei também prejudica fortemente a Petrobrás, uma das principais credoras da Amazonas Energia, que possui dívidas bilionária­s com gás e óleo combustíve­l fornecido pela empresa para abastecer termoelétr­icas da região. O projeto de lei rejeitado permitia o aporte de R$ 3,5 bilhões do Tesouro para a Eletrobrás, dinheiro que seria usado como garantia para o pagamento dessa dívida, que pode ter o vencimento antecipado. Outra empresa prejudicad­a é a Cigás, distribuid­ora de gás do Estado do Amazonas, também credora./

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DIVULGAÇÃO-11/12/2014 Dívida. Usina termoelétr­ica da Amazonas, que já tem uma dívida bilionária com a Petrobrás

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