O Estado de S. Paulo

A fábrica de dois carros por ano

Para fazer seus Fórmula 1, Renault gasta ¤ 300 milhões e emprega 680 colaborado­res

- Hairton Ponciano hairton.ponciano@estadao.com ENSTONE, INGLATERRA

Olocal, uma área rural e bucólica no interior da Inglaterra, já foi uma pedreira. Agora, abriga prédios modernos, nos quais trabalham 680 pessoas de 22 nacionalid­ades. Estamos em uma fábrica de carros. Nessa planta, que conta com orçamento anual de 300 milhões (mais de R$ 1,2 bilhão), são produzidas apenas duas unidades por ano – e que nunca ficam totalmente prontas.

Trata-se da base da Renault na Fórmula 1 em Enstone, um vilarejo a pouco mais de uma hora de Londres. Ali, a marca francesa projeta, produz, testa e acompanha o rendimento dos carros que disputam corridas em autódromos nos cinco continente­s.

De acordo com o diretor de marketing da Renault Sport Racing, David Ménochet, nessa planta são feitas, de forma artesanal, 90% das peças utilizadas nos carros de Fórmula 1 da escuderia. Isso representa algo como 14.500 componente­s, ou três vezes mais itens do que em um carro de passeio convencion­al.

Em Enstone são feitos desde partes grandes, como chassi, monocoque e carenagem, até os menores itens da caixa de câmbio, da suspensão e dos freios, por exemplo. Basicament­e, apenas a unidade de potência (o conjunto formado pelos motores a combustão e elétrico) vem da França.

Entre as peças feitas em Enstone está, por exemplo, o escapament­o, por meio de um processo 100% manual. São necessário­s dois dias e meio de trabalho para o sistema assumir a forma final, cheia de curvas. A propósito, os canos são feitos de inconel, liga desenvolvi­da pela Rolls-Royce e empregada na produção de turbinas de avião, capazes de suportar temperatur­as de 1.000°C.

Outro exemplo de componente sofisticad­o feito em Enstone é o volante. Com 20 botões, que dão ao piloto diversas possibilid­ade de ajustes, a peça custa entre 35 mil e 45 mil euros (R$ 145 mil a R$ 185 mil).

O processo é ininterrup­to. Ao mesmo tempo em que a fábrica faz peças para eventuais reparos ou melhorias nos carros que estão disputando o campeonato em curso, os engenheiro­s trabalham nos modelos da próxima temporada, com base no regulament­o da categoria, que muda todo ano.

O ambiente é organizado e extremamen­te silencioso. Em alguns dos locais visitados não foi permitido tirar fotos. Em outros, a entrada era proibida, para evitar contaminaç­ão do ar com o ambiente externo.

É o caso da oficina que transforma as lâminas de fibra de carbono em diversos componente­s do carro, como monocoque, carenagem, chassi, etc.

Estima-se que 80% de um carro de F1 seja de fibra de carbono. O material é duas vezes mais resistente e cinco mais leve que o aço. Até o câmbio sequencial de oito marchas do Renault usa essa fibra sintética.

VIAGEM FEITA A CONVITE DA RENAULT/ CONTINUA NA PÁGINA 8

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FOTOS: RENAULT SPORT RACING/DIVULGAÇÃO Simuladore­s reproduzem as ondulações de todas as pistas do calendário do mundial
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Apenas o volante do F-1 pode custar o equivalent­e a R$ 145 mil

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