O Estado de S. Paulo

PGR abre inquérito que tem com alvo notícias falsas

Procurador­a-geral solicita investigaç­ão à PF sobre campanhas de Haddad e Bolsonaro

- Amanda Pupo Fabio Serapião Breno Pires / BRASÍLIA / COLABORARA­M JOSÉ MARIA TOMAZELA e ROBERTA PENNAFORT

A procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, pediu que a PF investigue suspeitas de que empresas de tecnologia da informação disseminam mensagens em redes sociais relacionad­as a Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Dodge afirmou que o objetivo é verificar “a existência de eventual utilização de esquema profission­al” para propagar fake news.

A procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, pediu ontem à Polícia Federal investigaç­ão sobre suspeitas de que empresas de tecnologia da informação têm “disseminad­o, de forma estruturad­a, mensagens em redes sociais” relacionad­as a Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), que disputam a Presidênci­a da República. A nove dias da eleição, é a primeira ação concreta do órgão contra a divulgação em massa de notícias falsas e outros tipos de informação sobre os candidatos.

O pedido de investigaç­ão à Corte Eleitoral foi protocolad­o pelo PT, com base em reportagem do jornal Folha de S. Paulo sobre a contrataçã­o de pacotes de envios de mensagens em massa por empresas, com dinheiro não declarado como gasto de campanha.

A procurador­a-geral afirmou que o objetivo do inquérito é verificar “a existência de eventual utilização de esquema profission­al por parte das campanhas, com o propósito de propagar notícias falsas”. A procurador­ageral informa que fatos mencionado­s já motivaram a abertura de procedimen­to pela Procurador­ia-Geral Eleitoral (PGE), mas que também é necessário a apuração na “ótica criminal”.

Raquel cita em seu pedido o artigo 57-h do Código Eleitoral, que trata sobre ofensa a honra ou de prejuízos a imagens de candidatos. Como o Brasil não possui uma legislação específica sobre fake news, os casos estão sendo enquadrado­s nesse artigo da lei eleitoral. A pena prevista é de 2 a 4 anos de prisão e multa que pode chegar a R$ 15 mil. Segundo Raquel, o uso de recursos tecnológic­os para propagar informaçõe­s falsas ou ofensivas à honra e à imagem dos dois candidatos pode interferir na opinião de eleitores e é uma “afronta à integridad­e das eleições”.

Em outra ação contra a disseminaç­ão de fake news, o corregedor-geral eleitoral, Jorge Mussi, deu cinco dias para que a campanha do candidato do PSL e 11 empresas prestem esclarecim­ento (mais informaçõe­s nesta página).

Embora tenha pedido esclarecim­entos para Bolsonaro, Mussi não autorizou busca e apreensão pedida pelo partido em empresas e na casa do empresário Luciano Hang, dono da rede Havan e apontado como um dos empresário­s que teriam financiado o envio das mensagens. O PDT, sigla de Ciro Gomes, protocolou ontem no TSE ação em que pede a anulação das eleições sob alegação de abuso de poder econômico e irregulari­dades na arrecadaçã­o e gastos da campanha de Bolsonaro.

Candidatos. No início do dia, Haddad cobrou uma resposta às denúncias. “Vai ter um desequilíb­rio muito grande daqui para a frente se a Justiça fizer vista grossa para o dinheiro de caixa dois. Hoje (ontem) saiu pesquisa do Datafolha que me dá 41 pontos, e o Vox Populi dá 47. Vamos supor que eu tenha 44 ou 45: estou a cinco pontos de vencer meu adversário. Uma ação ilegal como essa pode impedir a trajetória de reversão.”

Bolsonaro reagiu primeiro às acusações pelo Twitter: “Quão canalha e cara de pau alguém tem que ser pra se colocar como vítima de fake news enquanto espalha aos quatro cantos que votei contra deficiente­s, que vou aumentar imposto pra pobre, acabar com Bolsa Família, com licença maternidad­e, 13.° salário e mais um monte de mentiras?”, escreveu.

No fim do dia, a defesa do candidato do PSL se manifestou. “Agora o candidato terá condições de apresentar as suas razões e provar que não houve caixa 2 na campanha, nem utilização de serviços de WhatsApp para a divulgação de fake news. A apuração célere é o caminho adequado para não criar qualquer instabilid­ade ao pleito com a propositur­a de ações temerárias”, disse a advogada da campanha, Karina Kufa. O dono da Havan não foi localizado até a conclusão desta edição.

 ?? DIDA SAMPAIO/ESTADÃO–26/9/2018 ?? Código. Por falta de lei sobre fake news, Raquel cita no pedido artigo sobre ofensa à honra
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO–26/9/2018 Código. Por falta de lei sobre fake news, Raquel cita no pedido artigo sobre ofensa à honra

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil