O Estado de S. Paulo

Bolsonaro quer BC independen­te

Campanha. Ideia dentro da equipe é ter anúncios de forte impacto já nos primeiros dias após a eleição, se o candidato for vitorioso; no caso do Banco Central independen­te, avaliação é que isso sinalizará ao mercado que o governo ‘fala sério’, o que traria

- Leonencio Nossa Adriana Fernandes / BRASÍLIA

Jair Bolsonaro (PSL) deve propor nos primeiros dias da transição, caso seja eleito, a independên­cia formal do Banco Central. A equipe avalia que isso vai sinalizar que o governo “fala sério” e se empenhará para negociar reformas.

Líder das pesquisas, o candidato do PSL à presidênci­a Jair Bolsonaro (PSL) deve propor nos primeiros dias da transição, caso ganhe as eleições, a independên­cia formal do Banco Central. Atualmente, há uma espécie de acordo tácito de que os diretores e o presidente do BC possuem autonomia para decidir a taxa básica de juros com o intuito de controlar a inflação.

Os últimos governos assumiram compromiss­os públicos de não interferir nas decisões do BC, mas isso nunca foi oficializa­do. O novo plano de governo do rival de Bolsonaro, Fernando Haddad (PT), fala em autonomia do banco, mas não em independên­cia (ver página B4).

A diferença é que um BC autônomo tem liberdade para fazer sua política, mas continua vinculado ao governo – o que pode resultar em ingerência política. Um BC independen­te seria um órgão à parte, sem vinculação com outros poderes, o que daria uma blindagem maior. A independên­cia do BC é comum na maioria dos países da Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE), clube que reúne os países mais desenvolvi­dos e do qual o Brasil quer ser integrante.

A estratégia que está sendo desenhada pela equipe de Bolsonaro é, logo depois da divulgação do resultado das urnas, caso o candidato seja eleito, disparar uma comunicaçã­o de “alto impacto” para sinalizar aos investidor­es que o governo se empenhará, já na transição, para negociar as reformas. O efeito, avalia-se, seria positivo para a confiança na aprovação das mudanças necessária para resolver o buraco nas contas públicas.

Dentro da equipe de Bolsonaro, a ideia é mostrar que o governo “fala sério e não perderá tempo”. Um dos slogans que vem sendo avaliados é “Os 100 dias começam agora”, numa referência ao período de lua de mel do vencedor nas eleições em que tem maior capital político.

A independên­cia do BC está prevista no plano de governo de Bolsonaro, batizado de “O Caminho da Prosperida­de”. Prevê mandatos fixos para os diretores, com metas de inflação e “métricas claras” de atuação. Bolsonaro já defendeu nas redes sociais a independên­cia do BC. Paulo Guedes, coordenado­r econômico do candidato, também já faz uma defesa contundent­e da independên­cia do BC.

A equipe de Bolsonaro também já sinalizou que gostaria de manter no comando do banco o atual presidente, Ilan Goldfajn. Se isso não for possível, um nome que começou a surgir foi o de Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor da instituiçã­o entre 1999 e 2003. Procurado, Figueiredo disse que tem conversado com o time de Guedes sobre “diretrizes econômicas”, mas que não recebeu nenhum convite. Segundo ele, seria bom para o País que Ilan ficasse à frente da autoridade monetária.

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