O Estado de S. Paulo

Colégio faz campanha para Mara Gabrilli em e-mail corporativ­o

Mensagem favorável à senadora eleita foi enviada a pais de alunos dois dias antes da eleição; prática configura ilícito eleitoral

- Adriana Ferraz Isabela Palhares

O Colégio Bandeirant­es, um dos mais tradiciona­is da capital paulista, usou o cadastro de emails de pais e alunos para enviar, dois dias antes do primeiro turno das eleições deste ano, propaganda política da então candidata ao Senado pelo PSDB, Mara Gabrilli – eleita com 6,5 milhões de votos.

A prática é vedada pela legislação eleitoral, pois o canal utilizado é corporativ­o e doações empresaria­is estão proibidas no Brasil por determinaç­ão do Supremo Tribunal Federal desde 2015. A assessoria afirmou que a deputada gravou um vídeo para ser veiculado durante um encontro político que houve na escola no dia 10 de setembro e que a peça foi editada e encaminhad­a sem seu consentime­nto. Segundo a assessoria, Gabrilli não sabia sobre o envio dos e-mails e que, portanto, não pode ser responsabi­lizada.

Na mensagem, cujo assunto é “Nossa querida aluna Mara Gabrilli”, a própria deputada discorre sobre sua candidatur­a em vídeo direcionad­o aos estudantes. Na tela aparece um coração com o número usado pela tucana nas urnas: 457. Ao longo de 4 minutos e 46 segundos, ela fala sobre o privilégio de ter estudado no colégio e afirma que, como senadora, poderia contribuir para a melhoria da educação no País.

“Eu trabalho pra melhorar a vida das pessoas e a melhora da vida das pessoas é um direito de Estado. Eu quero muito ter o direito de voltar a sonhar com o Brasil que queremos e convido todos vocês a sonharem comigo e, sobretudo, a buscar os meios pra concretiza­r esses sonhos. Contem comigo sempre”, diz Gabrilli no vídeo. No fim, surge na tela o número dela e os nomes dos suplentes.

Consultor jurídico da Comissão de Direito Eleitoral da OAB-SP, o advogado Hélio Silveira afirmou ao Estado que a prática se configura como ilícito eleitoral passível de ser investigad­o pela Justiça e, caso comprovado o descumprim­ento da lei, resultar na cassação do diploma e multa. A escola também pode sofrer sanção.

“Trata-se de uma empresa fazendo propaganda para um candidato, ou seja, doação empresaria­l vedada. Mas não é só isso. Outra questão grave é o empréstimo do cadastro eletrônico para essa finalidade”, diz Silveira. De acordo com a resolução 23.551, que regulament­ou a eleição deste ano, são vedadas às empresas a utilização, doação ou cessão de cadastro eletrônico de seus clientes, em favor de candidatos, partidos políticos ou coligações. Outro advogado ouvido pelo Estado disse que a propaganda não seria ilegal se o dono do colégio tivesse enviado a mensagem a partir de sua conta pessoal.

Surpresa. Mãe de um aluno do segundo ano do ensino médio, a advogada Elaine D’Avila Coelho, de 56 anos, diz ter ficado surpresa e incomodada com o uso do e-mail institucio­nal para propaganda política. “Não achei uma atitude adequada para um colégio. Não autorizei a utilização do meu e-mail para receber esse tipo de propaganda, o que autorizei foi o uso para questões pedagógica­s”.

Diretor-presidente do colégio, Mauro Aguiar afirmou que não fez nada de errado. “Faria tudo de novo. Não foi doação coisa nenhuma. Não doei como pessoa física nem como colégio. Eu não acho que divulgar o vídeo de uma parlamenta­r na véspera da eleição seja um crime eleitoral”, afirmou Aguiar, que foi membro do Conselho Estadual de Educação por seis mandatos seguidos, em gestões do PSDB. Após o contato da reportagem, o vídeo foi removido do YouTube. Até a tarde de ontem, a gravação tinha sido visualizad­a mais de 2 mil vezes.

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