O Estado de S. Paulo

Monarquia saudita discute substituiç­ão de príncipe herdeiro

Pressionad­a pela morte de Jamal Khashoggi, família real pode tirar Mohamed bin Salman da linha sucessória

- RIAD

A família real saudita está consideran­do substituir o príncipe Mohamed bin Salman como herdeiro do trono e sucessor de seu pai, o rei Salman. A pressão e o escrutínio internacio­nal diante do assassinat­o do jornalista Jamal Khashoggi, que teria sido morto por ordens do próprio MBS, levaram a corte real saudita a se reunir em segredo para debater o assunto.

Segundo o jornal francês Le Figaro, uma fonte diplomátic­a garante que o Conselho de Aliança, historicam­ente o órgão responsáve­l por aprovar a ordem de sucessão ao trono, tem se reunido nos últimos três dias para debater o tema. “As reuniões estão acontecend­o com a máxima discrição”, afirma a fonte do jornal. O Conselho de Aliança é composto por um delegado representa­ndo cada um dos clãs da família real.

O principal nome cogitado para substituir MBS é o de seu irmão, Khalid bin Salman, de 30 anos, considerad­o pela maioria dos analistas “menos ambicioso e mais previsível” do que MBS, de 33 anos. Seria uma quebra nas regras sucessória­s que regem o trono saudita, mas o conselho já fez isso antes. No ano passado, os clãs nomearam MBS como o novo príncipe herdeiro, tirando o direito sucessório de Mohamed bin Nayef, sobrinho de Salman.

Segundo o Figaro, a transição não seria imediata e Khalid substituir­ia seu irmão de maneira gradual. Khalid é considerad­o popular na Arábia Saudita e no exterior. Ele é o embaixador nos EUA e foi chamado de volta a Riad na semana passada, depois do desapareci­mento de Khashoggi.

Antes de se tornar embaixador, o príncipe era conselheir­o da Embaixada da Arábia Saudita em Washington, bem como do Ministério da Defesa em Riad, de acordo com sua biografia no site da embaixada. Antes disso, serviu como piloto na Força Aérea, pilotando caças F-15 e participan­do de mais de 50 missões de combate na Síria, no Iêmen e em outros combates no Oriente Médio.

Segundo o portal Middle East Eye, especializ­ado em Oriente Médio, o governo dos EUA quer ter “envolvimen­to direto” no processo de escolha. Segundo uma fonte diplomátic­a do site, os “sauditas estão em pânico” em razão da crescente pressão causada pelo assassinat­o de Khashoggi.

A visita do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, teria sido parte de um plano para que o governo de Donald Trump se envolva nas discussões sobre possível mudança na linha de sucessão. Trump quer que Bin Salman permaneça no poder, mas Pompeo o considera “volátil e perigoso”, segundo o Middle East Eye. Uma fonte do Ministério do Exterior

do Reino Unido disse à Reuters que Simon Collins, embaixador britânico em Riad, não se encontrou com MBS desde o desapareci­mento de Khashoggi, no dia 2 de outubro, porque as “autoridade­s sauditas continuam confusas sobre como lidar com a situação”.

Analistas dizem que a probabilid­ade de Salman ser removido completame­nte da sucessão é pouco provável. “Haverá muita conversa na família sobre como lidar com MBS, já que ele se tornou agressivo. Mas não resta ninguém na velha guarda que possa realmente desafiá-lo”, afirmou ao Figaro Andreas Krieg, professor do King’s College de Londres, especializ­ado em questões de segurança do Golfo. “Ele criou um regime que é um pouco à prova de balas da oposição fora da família do rei Salman. Só um golpe real dentro do palácio pode se livrar dele.”

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Herdeiro. Mohamed bin Salman: pressão interna e externa

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