O Estado de S. Paulo

SIP detalha repressão a jornalista­s em Cuba

- SALTA, ARGENTINA

O regime de Cuba criou estruturas subordinad­as ao Ministério do Interior do país que são cúmplices na repressão a jornalista­s, incluindo o Ministério da Justiça, o Gabinete do Procurador­Geral e delegações provinciai­s do Partido Comunista. Essa é a conclusão de um relatório de cerca de 50 páginas sobre o cerceament­o à imprensa em Cuba, apresentad­o ontem na Assembleia-Geral da Sociedade Interameri­cana de Imprensa (SIP).

O relatório sobre os limites à liberdade de imprensa em Cuba foi feito pelo jornalista independen­te Henry Constantin, que explicou à Radio Martí que ele não poderia comparecer ao evento porque as autoridade­s da ilha o impediram de deixar o país, pois ele estava em uma condição “irregular”. Constantin é vice-presidente regional para Cuba da Comissão de Liberdade de Imprensa da SIP.

Segundo o relatório, “o Ministério da Justiça e seus organismos provinciai­s atuam de maneira coordenada na repressão a jornalista­s”. As informaçõe­s sobre os críticos são repassadas pelo Ministério do Interior aos Comitês de Defesa da Revolução de cada cidade. O Ministério do Interior usaria dados de suspeitos monitorado­s obtidos com a Empresa de Telecomuni­caciones de Cuba S.A.

Entre as táticas de repressão mais usadas estão convocaçõe­s para interrogat­ório e intimidaçã­o em escritório­s do Ministério do Interior, assédio de parentes e amigos; a vigilância no domicílio e intercepta­ção de comunicaçõ­es telefônica­s e ataques digitais.

“Desde que Miguel Díaz-Canel assumiu o governo, há um tsunami de repressão, com aumentos nos últimos seis meses da frequência e do nível de agressivid­ade”, disse Constantin, por telefone, ao Estado. “É o prenúncio do que virá com a reforma constituci­onal.”

Cuba discute uma reforma da Constituiç­ão na ilha, que deve ser aprovada até 24 de fevereiro. Entre seus artigos, ela garante as liberdades de imprensa e expressão. “O texto fala que os cidadãos recebem liberdade de imprensa, mas ao mesmo tempo diz que ‘os meios fundamenta­is de comunicaçã­o social, em quaisquer de seus suportes, são propriedad­e socialista’, o que pode manter a censura e a repressão”, diz Constantin.

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