O Estado de S. Paulo

Auditoria revela festas da ONU no Haiti

Segundo auditoria, houve uma corrida para usar o dinheiro antes do fim da operação; milhares foram gastos em jantares

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

A Missão da ONU no Haiti (Minustah) destinou milhares de dólares para jantares, happy hours e outras confratern­izações para seus funcionári­os, às vésperas de encerrar seus trabalhos no país mais pobre da região. Isso é o que revela uma auditoria realizada internamen­te pelo próprio escritório das Nações Unidas. Ele também apontou que, em apenas um jantar, o custo do banquete para cada integrante equivale a mais de um mês da renda média de um haitiano.

A auditoria foi realizada entre abril de 2017 e janeiro de 2018. Apenas em maio ela foi concluída, mas estava sendo mantida em sigilo. O foco do levantamen­to obtido pelo Estado era determinar como estava ocorrendo o fim da missão que começou em 2004 e foi liderada militarmen­te pelo Brasil. No entanto, a apuração não se referia aos soldados brasileiro­s, nem ao comando militar da força, mas sim dos escritório­s mantidos pela secretaria da ONU no país.

Em outubro de 2017, a Minustah foi oficialmen­te encerrada e, em seu lugar, a ONU criou a Missão da ONU de Apoio à Justiça no Haiti (Minujusth), uma operação bem menor e com um papel limitado. De 4,7 mil soldados internacio­nais, a missão

passou a contar com apenas 1,3 mil policiais e mais 300 funcionári­os administra­tivos. Seu objetivo é o de apoiar o fortalecim­ento das instituiçõ­es e o estado de direito..

Nesse processo, porém, os balanços e as contas precisaria­m ser encerrados, assim como contratos com fornecedor­es e pagamentos a empregados locais. Mas o que a auditoria encontrou foi uma série de problemas administra­tivos e incoerênci­a em pagamentos.

Por conta do caráter intenso e perigoso de uma missão de paz da ONU, cada uma delas conta com um departamen­to para garantir o “bem-estar e recreação” dos funcionári­os. Mas o que a auditoria descobriu é que, no Haiti, houve uma corrida para se gastar o dinheiro antes do fim da missão com festas, restaurant­es e turismo.

Apenas num jantar para 200 funcionári­os realizado três dias antes do encerramen­to da missão, o escritório gastou US$ 15,2 mil. Ou seja, US$ 75 dólares por pessoa, num dos países mais pobres do mundo. Isso tudo ocorreu sem que os organizado­res realizasse­m uma licitação.

O que ainda chama a atenção é que o valor foi pago por um serviço relativame­nte limitado: uma taça de coquetel, dois refrigeran­tes, um buffet e uma sobremesa. Segundo a própria ONU, 1,3 milhão de haitianos precisam de ajuda para se alimentar e 75% vivem com menos de US$ 2 por dia.

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