O Estado de S. Paulo

Acordo do Mercosul e UE fica mais distante

Dificuldad­es com Brexit e o calendário eleitoral europeu também atrapalham

- Lu Aiko Otta Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA

O início de um novo governo no Brasil deverá colocar em banho-maria as negociaçõe­s para um acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Embora os dois candidatos mencionem em seus programas a necessidad­e de melhorar as condições de acesso ao mercado internacio­nal, o tema não deverá ganhar prioridade em 2019, qualquer que seja o resultado das urnas. As dificuldad­es dos europeus com o Brexit (saída do Reino Unido da comunidade europeia) e o calendário eleitoral naquela região também jogarão contra a conclusão do acordo.

Na equipe do candidato Jair Bolsonaro (PSL), há quem defenda acabar com o próprio Mercosul e substituí-lo por um conjunto de acordos bilaterais. O próprio candidato disse, na propaganda eleitoral, que o bloco precisa ser repensado. Se a ideia for adiante, vai jogar por terra o que se tentou nas duas últimas décadas, que era um entendimen­to entre dois conjuntos de países.

A equipe de Fernando Haddad (PT), por sua vez, diz que os acordos precisam ser “feitos de maneira estratégic­a para convergir com nossa política de reestrutur­ação produtiva.”

O programa do candidato, apresentad­o na última quintafeir­a, preserva os trechos do documento entregue quando o postulante à presidênci­a era Luiz Inácio Lula da Silva. O texto acusa o atual governo, “golpista”, de praticar uma política externa “submissa”, que traz o risco da celebração de acordos comerciais que criam “obstáculos a que governos nacionais e progressis­tas pratiquem políticas autônomas de desenvolvi­mento.”

Diplomatas que atuaram nas negociaçõe­s com a União Europeia durante o início do primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006) dizem que, na época, veio do Planalto uma ordem para não fechar o acordo. Na mesma época, foi abandonado o projeto de Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

“As negociaçõe­s continuam”, disse ao Estado o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes. Ele contou que houve recentemen­te uma rodada de negociaçõe­s de nível técnico em Montevidéu, no qual foram listados os pontos que, na visão do Mercosul, ainda estão pendentes na negociação. O documento seria enviado como resposta a uma carta da comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmström, que igualmente lista os pontos em que não há consenso.

“Nunca estivemos tão perto de fechar essa negociação”, assegurou o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Jorge. Os técnicos seguem trabalhand­o nos temas que faltam.

O professor Oliver Stuenkel, da Fundação Getúlio Vargas, disse ter ganho uma aposta que fez com um colega sobre a data de fechamento do acordo. Ele apostou que não fecharia em 2018. Mas o fato de a aposta ter existido, diz ele, mostra que mesmo entre especialis­tas houve quem acreditass­e na conclusão das negociaçõe­s. “Agora, a conjunção de fatores favoráveis ao entendimen­to se foi”, disse o professor.

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO-28/11/2017 Em marcha lenta. ‘As negociaçõe­s com a UE continuam’, disse o ministro Aloysio Nunes

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