O Estado de S. Paulo

‘Vamos fazer uma revisão do Mercosul’

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

Deputado eleito e cotado para virar chanceler diz que bloco econômico pode ser substituíd­o por acordos bilaterais Um dos cotados para ocupar o posto de chanceler em um eventual governo de Jair Bolsonaro e integrante do grupo que discute as linhas da política externa do candidato, o deputado eleito Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP) disse que o Mercosul será avaliado e, se for o caso, o Brasil sairá, e o acordo será trocado por um conjunto de acordos bilaterais. Afirmou ainda que o problema número um do Brasil se chama Venezuela. A solução, diz ele, seria “tirar Maduro do poder”, referindo-se ao presidente Nicolás Maduro. Mas, como a Constituiç­ão brasileira impede iniciativa­s desse tipo, a solução pode passar pelo endurecime­nto no tratamento aos migrantes. Por exemplo, adotando cotas. A seguir, os principais trechos da entrevista ao Estado. Num eventual governo Bolsonaro, o que acontecerá com o Mercosul? A priori, vai haver uma revisão do Mercosul, para verificar se ele atende a seu intento inicial: fomentar livre comércio na região. Se isso está se materializ­ando ou não, se é em benefício do País do ponto de vista financeiro, econômico e político. O acordo será reavaliado por essas três premissas. E se não estiver atendendo? Não dá para sair sem uma contraprop­osta. Já estamos elaborando o que interessa. Por exemplo, um acordo bilateral com a Argentina e com outros países do grupo. Rompendo com o Mercosul. Saindo de um contexto multilater­al para um bilateral.

Haveria problemas com o Uruguai, por exemplo, que tem um governo mais à esquerda? Não. Se um dos países adota uma postura antilivre-comércio, anticapita­lismo, antifoment­o da livre iniciativa, é um problema. Mas é um problema pontual. Se um país se torna socialista e não quer avanços através da livre iniciativa, que não prevê a inovação, naturalmen­te as trocas vão caindo. É isso que está acontecend­o agora. Houve uma utilização do Mercosul para cercear o livrecomér­cio.

A Bolívia está para entrar no Mercosul como membro pleno. O sr. seria favorável? Não seria. Acho que a Bolívia é uma ditadura. É sinalizaçã­o errada absorvê-la. E em relação à Venezuela, qual é o plano? Vou dar a minha opinião. No plano geral, acho que temos um grande problema. O maior problema de relações internacio­nais do Brasil, no dia 1 de janeiro de 2019, vai ser a Venezuela. É um problema imediato. É um país vizinho com quase 6 milhões de pessoas dispostas a migrar para o Brasil ou para a Colômbia. Absorvemos menos de 100 mil pessoas e isso já arruinou cidades fronteiriç­as de Roraima. Então, o que fazer?

Resolver o problema é tirar o (presidente Nicolás) Maduro do poder, para a Venezuela deixar de ser uma ditadura. Nosso modelo constituci­onal não permite que façamos uma interferên­cia militar na Venezuela junto com a Colômbia, como seria a predisposi­ção inicial. Mas podemos fazer uma polícia de fronteira, uma série de cerceament­os de patrimônio venezuelan­o no Brasil, bloquear acesso de governante­s da Venezuela para entrada no Brasil. Imagino que a Colômbia tenha a mesma visão. E o atendiment­o aos refugiados, (discutir) se isso vai ser feito dentro das nossas fronteiras ou numa área fronteiriç­a de comum acordo com Colômbia a Venezuela. A absorção de imigrantes tem de ter limite, tem de ter controle. É um limite quantitati­vo? Uma cota? Sim, sim, sim. Cotas, porque entraram 100 mil pessoas que arruinaram a cidadania das pessoas em Boa Vista. Imagine 1 milhão de pessoas. O que acontece naquela região? Eles não são contribuin­tes e vão ter direitos plenos de cidadão no Brasil. Se chegam com 63, 64 anos, já vão poder se aposentar no Brasil sem documentaç­ão nenhuma. Então, temos de por limite nessa entrada. Mas isso não é inconstitu­cional? Claro que não.

O senhor está cotado para assumir o Itamaraty em um eventual governo Bolsonaro? Eu não tive convite nenhum. Há outros candidatos.

Há uma guerra entre EUA e China e o candidato tem feito afirmações em favor dos EUA. É bom escolhermo­s um lado? Do ponto de vista político, é. Do ponto de vista econômico, não necessaria­mente. Os EUA são politicame­nte abertos, a China é politicame­nte fechada. A China dialoga com o mundo do ponto de vista econômico, mas não em termos políticos. Já os EUA dialogam com o mundo em todos os pontos: econômico, político, social. Temos lidado mais com países fechados, marginaliz­ados. Tem de inverter isso.

 ?? IARA MORSELLI/ESTADÃO–5/9/2017 ??
IARA MORSELLI/ESTADÃO–5/9/2017

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil