O Estado de S. Paulo

Toffoli diz que ataque ao STF mira a democracia

Presidente do Supremo divulga nota oficial um dia após vir a público vídeo no qual Eduardo Bolsonaro fala sobre o fechamento da Corte

- / AMANDA PUPO, RAFAEL MORAES MOURA, MARCELO OSAKABE, CRISTIAN FAVARO, CAMILA TURTELLI, VINICIUS NEDER e TÂNIA MONTEIRO

O presidente do STF, ministro Dias Toffoli, afirmou ontem que atacar o Judiciário “é atacar a democracia”. Toffoli emitiu nota após a divulgação de um vídeo no qual Eduardo Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, afirma que bastariam um soldado e um cabo para fechar o Supremo. Em carta ao decano Celso de Mello, o candidato diz que o STF é “guardião da Constituiç­ão”.

O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, divulgou nota ontem na qual afirma que “atacar o Judiciário é atacar a democracia”. A manifestaç­ão ocorreu um dia após vir a público vídeo no qual o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) diz que bastariam “um soldado e um cabo” para fechar a Corte. O ministro do STF Alexandre de Moraes considerou as afirmações do filho do presidenci­ável Jair Bolsonaro (PSL) “absolutame­nte irresponsá­veis” e defendeu a investigaç­ão do parlamenta­r.

Segundo Toffoli, o Supremo é instituiçã­o “essencial ao estado democrátic­o de direito” e “não há democracia sem um Poder Judiciário independen­te e autônomo”. “O País conta com instituiçõ­es sólidas e todas as autoridade­s devem respeitar a Constituiç­ão. Atacar o Poder Judiciário é atacar a democracia”, disse o ministro. A nota não cita o nome de Eduardo Bolsonaro, nem o episódio diretament­e.

No vídeo, gravado no dia 10 de julho, durante palestra a alunos de um curso preparatór­io para concurso da Polícia Federal, o deputado afirma que, se o Supremo impugnar a candidatur­a de seu pai, “terá que pagar para ver o que acontece”. “Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe, manda um soldado e um cabo. O que é o STF, cara? Tira o poder da caneta de um ministro do STF, o que ele é na rua?”, diz ele no vídeo.

O presidente do STF avisou aos colegas de Corte que enviaria uma nota institucio­nal para defender o tribunal. De acordo com auxiliares do ministro, a nota de Toffoli foi o “remédio necessário e ponto” para a Corte se posicionar publicamen­te.

Ontem, Jair Bolsonaro disse ter “advertido” o filho (mais informaçõe­s nesta página). O presidenci­ável também enviou carta ao ministro Celso de Mello, decano do STF, afirmando que o Supremo “é o guardião da Constituiç­ão e todos temos de prestigiar a Corte”. Escreveu ainda que “manifestaç­ões mais emocionais, ocorridas nestes últimos tempos, se mostram fruto da angústia e das ameaças sofridas neste processo eleitoral”.

Também sem citar nominalmen­te o parlamenta­r, Moraes afirmou ser favorável à abertura de investigaç­ão pela Procurador­ia-Geral da República contra Eduardo Bolsonaro por crime tipificado na Lei de Segurança Nacional. “É inacreditá­vel que tenhamos que ouvir tanta asneira da boca de quem representa o povo. Nada justifica a defesa do fechamento de instituiçõ­es republican­as”, declarou Moraes, em São Paulo.

O ministro Marco Aurélio Mello disse ao Estado que “não se tem respeito pelas instituiçõ­es pátrias”. Durante evento no Rio, o ministro Ricardo Lewandowsk­i declarou que “está na hora de revaloriza­r o princípio da independên­cia dos Poderes”.

A Procurador­ia-Geral da República reafirmou ontem que não comentaria o caso.

A cúpula militar não pretende se manifestar sobre o episódio.

Para integrante­s do Alto-Comando das Forças consultado­s pelo Estado, responder seria levar para dentro dos quartéis um assunto político-partidário.

Já o PSOL protocolou representa­ção na PGR contra Eduardo

“Todas as autoridade­s devem respeitar a Constituiç­ão. Atacar o Poder Judiciário é atacar a democracia.” Dias Toffoli

PRESIDENTE DO SUPREMO

Bolsonaro, com um pedido para que ele seja investigad­o.

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