Marina declara ‘voto crítico’ em Haddad
Petista conversa com ex-presidente FHC, que volta a criticar presidenciável do PSL
Filiada ao PT por quase 30 anos, Marina Silva (Rede) disse que Jair Bolsonaro “prega ódio contra minorias”. Fernando Haddad ligou ontem para Fernando Henrique Cardoso.
A menos de uma semana do segundo turno das eleições, a candidata derrotada da Rede à Presidência, Marina Silva, anunciou ontem “voto crítico” ao petista Fernando Haddad. Filiada ao PT por quase 30 anos, Marina disse que, em oposição a Haddad, o presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro, “prega ódio contra minorias”. Em outro movimento, Haddad conversou ontem por telefone com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em nova tentativa de atrair o apoio do tucano à sua candidatura. Após a conversa, FHC voltou a criticar o candidato do PSL.
O petista já havia recebido “apoio crítico” do PDT, adversário no primeiro turno, mas o candidato do partido, Ciro Gomes, viajou à Europa e em nenhum momento se engajou na campanha. À noite, no programa Roda
Viva, da TV Cultura, Haddad sinalizou que ainda espera uma manifestação de voto mais efetiva do pedetista. “Espero que o Ciro dê um alô de onde estiver, aguardo ansiosamente.”
Irmão de Ciro, o senador eleito Cid Gomes (PDT-CE) chegou a dizer que o PT deveria assumir que fez “muita besteira” para não “perder feio” para Bolsonaro. Diante da repercussão, ele gravou vídeo e participou de agenda ao lado de Haddad.
“Darei um voto crítico e farei oposição democrática a uma pessoa que, ‘pelo menos’ e ainda bem, não prega a extinção dos direitos dos índios, a discriminação das minorias, a repressão aos movimentos, o aviltamento ainda maior das mulheres, negros e pobres, o fim da base legal e das estruturas da proteção ambiental, que é o professor Fernando Haddad”, disse a ex-ministra, em nota.
Evangélica da Assembleia de Deus, Marina criticou o uso do “nome de Deus” pela candidatura de Bolsonaro. “É um engano pensar que a invocação ao nome de Deus pela campanha de Bolsonaro tem o objetivo de fazer o sistema político retornar aos fundamentos éticos orientados pela fé cristã.”
Para embasar seu posicionamento, Marina citou o conceito de “banalidade do mal”, cunhado pela filósofa Hannah Arendt, que, segundo ela, estaria presente nas ações de Bolsonaro. Colega de Esplanada da ex-ministra do Meio Ambiente, Haddad usou o Twitter para agradecer o apoio de Marina.
FHC. A campanha de Haddad tentou criar uma frente democrática com políticos e partidos, como PDT e Rede, mas encontrou dificuldades. Depois de duas semanas de ensaios, o candidato do PT telefonou ontem para Fernando Henrique.
Segundo relatos, FHC disse estar “muito preocupado com as perspectivas” diante das últimas manifestações de Bolsonaro contra parlamentares de oposição, ativistas e veículos de imprensa e, principalmente, em relação à declaração do deputado eleito Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidenciável do PSL, sobre a possibilidade de fechar o Supremo Tribunal Federal – já desautorizadas pelo candidato ao Planalto.
Na conversa, Haddad e FHC não combinaram ações conjuntas nem se falou sobre apoio. A assessoria de imprensa do expresidente classificou o diálogo como “amistoso”, em que os dois dividiram preocupações.
O ex-presidente vem sendo cortejado pelo petista desde o fim do primeiro turno, mas decidiu não se envolver diretamente na disputa presidencial. FHC, no entanto, se manifestou de forma dura em suas redes sociais sobre a fala de Eduardo Bolsonaro, de que bastam “um cabo e um soldado” para fechar o Supremo. Segundo o ex-presidente, a declaração “cheira a fascismo”. Haddad, ao telefone, teria dito que a democracia está em “risco extremo”.
Após a conversa, FHC usou novamente o Twitter para classificar como “inacreditável” a postura do presidenciável do PSL, que, no domingo, prometeu fazer uma “faxina” e banir os “vermelhos” do Brasil, uma referência aos apoiadores do candidato petista.
Ainda de acordo com Bolsonaro, aqueles que discordarem serão obrigados a deixar o País ou ir “para a cadeia”. As declarações foram feitas via transmissão de vídeo e exibidas a apoiadores do candidato concentrados na Avenida Paulista.
“Inacreditável: um candidato à Presidência pedir às pessoas que se ajustem ao que ele pensa ou pagarão o preço: cadeia ou exílio. Lembra outros tempos. O que o Brasil precisa é de coesão no rumo do crescimento e diminuição da desigualdade”, escreveu FHC.
‘Voto crítico’ “Farei oposição democrática.” Marina Silva CANDIDATA DERROTADA DA REDE