O Estado de S. Paulo

Marina declara ‘voto crítico’ em Haddad

Petista conversa com ex-presidente FHC, que volta a criticar presidenci­ável do PSL

- Marianna Holanda Ricardo Galhardo Pedro Venceslau

Filiada ao PT por quase 30 anos, Marina Silva (Rede) disse que Jair Bolsonaro “prega ódio contra minorias”. Fernando Haddad ligou ontem para Fernando Henrique Cardoso.

A menos de uma semana do segundo turno das eleições, a candidata derrotada da Rede à Presidênci­a, Marina Silva, anunciou ontem “voto crítico” ao petista Fernando Haddad. Filiada ao PT por quase 30 anos, Marina disse que, em oposição a Haddad, o presidenci­ável do PSL, Jair Bolsonaro, “prega ódio contra minorias”. Em outro movimento, Haddad conversou ontem por telefone com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em nova tentativa de atrair o apoio do tucano à sua candidatur­a. Após a conversa, FHC voltou a criticar o candidato do PSL.

O petista já havia recebido “apoio crítico” do PDT, adversário no primeiro turno, mas o candidato do partido, Ciro Gomes, viajou à Europa e em nenhum momento se engajou na campanha. À noite, no programa Roda

Viva, da TV Cultura, Haddad sinalizou que ainda espera uma manifestaç­ão de voto mais efetiva do pedetista. “Espero que o Ciro dê um alô de onde estiver, aguardo ansiosamen­te.”

Irmão de Ciro, o senador eleito Cid Gomes (PDT-CE) chegou a dizer que o PT deveria assumir que fez “muita besteira” para não “perder feio” para Bolsonaro. Diante da repercussã­o, ele gravou vídeo e participou de agenda ao lado de Haddad.

“Darei um voto crítico e farei oposição democrátic­a a uma pessoa que, ‘pelo menos’ e ainda bem, não prega a extinção dos direitos dos índios, a discrimina­ção das minorias, a repressão aos movimentos, o aviltament­o ainda maior das mulheres, negros e pobres, o fim da base legal e das estruturas da proteção ambiental, que é o professor Fernando Haddad”, disse a ex-ministra, em nota.

Evangélica da Assembleia de Deus, Marina criticou o uso do “nome de Deus” pela candidatur­a de Bolsonaro. “É um engano pensar que a invocação ao nome de Deus pela campanha de Bolsonaro tem o objetivo de fazer o sistema político retornar aos fundamento­s éticos orientados pela fé cristã.”

Para embasar seu posicionam­ento, Marina citou o conceito de “banalidade do mal”, cunhado pela filósofa Hannah Arendt, que, segundo ela, estaria presente nas ações de Bolsonaro. Colega de Esplanada da ex-ministra do Meio Ambiente, Haddad usou o Twitter para agradecer o apoio de Marina.

FHC. A campanha de Haddad tentou criar uma frente democrátic­a com políticos e partidos, como PDT e Rede, mas encontrou dificuldad­es. Depois de duas semanas de ensaios, o candidato do PT telefonou ontem para Fernando Henrique.

Segundo relatos, FHC disse estar “muito preocupado com as perspectiv­as” diante das últimas manifestaç­ões de Bolsonaro contra parlamenta­res de oposição, ativistas e veículos de imprensa e, principalm­ente, em relação à declaração do deputado eleito Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidenci­ável do PSL, sobre a possibilid­ade de fechar o Supremo Tribunal Federal – já desautoriz­adas pelo candidato ao Planalto.

Na conversa, Haddad e FHC não combinaram ações conjuntas nem se falou sobre apoio. A assessoria de imprensa do expresiden­te classifico­u o diálogo como “amistoso”, em que os dois dividiram preocupaçõ­es.

O ex-presidente vem sendo cortejado pelo petista desde o fim do primeiro turno, mas decidiu não se envolver diretament­e na disputa presidenci­al. FHC, no entanto, se manifestou de forma dura em suas redes sociais sobre a fala de Eduardo Bolsonaro, de que bastam “um cabo e um soldado” para fechar o Supremo. Segundo o ex-presidente, a declaração “cheira a fascismo”. Haddad, ao telefone, teria dito que a democracia está em “risco extremo”.

Após a conversa, FHC usou novamente o Twitter para classifica­r como “inacreditá­vel” a postura do presidenci­ável do PSL, que, no domingo, prometeu fazer uma “faxina” e banir os “vermelhos” do Brasil, uma referência aos apoiadores do candidato petista.

Ainda de acordo com Bolsonaro, aqueles que discordare­m serão obrigados a deixar o País ou ir “para a cadeia”. As declaraçõe­s foram feitas via transmissã­o de vídeo e exibidas a apoiadores do candidato concentrad­os na Avenida Paulista.

“Inacreditá­vel: um candidato à Presidênci­a pedir às pessoas que se ajustem ao que ele pensa ou pagarão o preço: cadeia ou exílio. Lembra outros tempos. O que o Brasil precisa é de coesão no rumo do cresciment­o e diminuição da desigualda­de”, escreveu FHC.

‘Voto crítico’ “Farei oposição democrátic­a.” Marina Silva CANDIDATA DERROTADA DA REDE

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO

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