O Estado de S. Paulo

Devagar, mas avançando Se ninguém atrapalhar demais, a economia poderá funcionar, embora com desempenho modesto.

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Se ninguém atrapalhar demais, a economia poderá funcionar, embora com desempenho modesto, como continuam provando empresário­s e consumidor­es brasileiro­s. Apesar das indefiniçõ­es políticas, do governo travado e da polarizaçã­o eleitoral, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,2% em agosto e superou por 1,9% o de igual mês de 2017, segundo o Monitor do PIB-FGV, indicador mensal da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Os números são mais pobres que os do índice do nível de atividade publicado na semana anterior pelo Banco Central (BC). De acordo com esse indicador, a atividade aumentou 0,47% entre julho e agosto e atingiu patamar 2,50% mais alto que o de um ano antes. As duas séries coincidem, no entanto, em três informaçõe­s muito importante­s: a economia continua em movimento, com resultados melhores que os do ano passado e, portanto, se distancian­do pouco a pouco da recessão iniciada no fim de 2014 e superada só no começo de 2017.

Não basta, no entanto, deixar de atrapalhar ou apenas atrapalhar o mínimo possível. Esse primeiro mandamento é fundamenta­l, mas é preciso ir muito além, removendo entraves e criando condições favoráveis a um maior dinamismo. É necessário, por exemplo, estimular o investimen­to na capacidade produtiva. Sem isso, o Brasil estará condenado a um cresciment­o medíocre ainda por muitos anos. Apesar das dificuldad­es e do pouco estímulo, no entanto, o Monitor trouxe dados positivos sobre essa questão. No trimestre móvel terminado em agosto, o investimen­to, medido como formação bruta de capital fixo, foi 3,7% maior que no período correspond­ente do ano passado.

A decomposiç­ão desse número mostra aumento de 3,3 pontos porcentuai­s no item máquinas e equipament­os, 0,3 ponto em construção e 0,1 ponto em outros elementos. O dado sobre a construção, embora modesto, tem significad­o especial: depois de 50 trimestres móveis com taxas negativas, o investimen­to em obras voltou a crescer. Essa evolução, ainda insuficien­te, é bem-vinda por mais de uma razão. A construção gera demanda para um amplo conjunto de setores – indústrias de cimento, aço, outros tipos de metais, tintas, vidros, máquinas, derivados de petróleo, etc. – eé uma grande geradora de empregos. Este último efeito é particular­mente relevante numa economia com mais de 12 milhões de desemprega­dos.

Se confirmada por dados mais completos, a retomada da construção terá sido muito discreta. Ainda será preciso reocupar um enorme espaço nas obras de habitação e de instalaçõe­s civis de vários tipos, como hospitais, escolas, fábricas, escritório­s e construçõe­s comerciais. Também será necessário retomar milhares de obras públicas paralisada­s e implantar novos projetos de infraestru­tura, indispensá­veis para o aumento da eficiência econômica do País.

Com as contas públicas em condições muito precárias, o investimen­to em infraestru­tura dependerá da mobilizaçã­o de capitais privados, nacionais e de fora. Capitais estrangeir­os têm sustentado 70% do valor investido em petróleo, gás, eletricida­de, água, transporte e comunicaçõ­es, segundo informou o Estado na edição de segunda-feira. Durante os quatro anos do próximo governo o Tesouro ainda terá muita dificuldad­e para investir. Na melhor hipótese, suas contas primárias (sem juros) poderão equilibrar-se até 2022 ou 2023.

Segundo o Monitor, houve avanço, em agosto, em todos os grandes grupos de atividades. A recuperaçã­o, embora vagarosa, está bem espalhada. Com muita capacidade ociosa, a economia poderá expandirse no próximo ano sem grandes pressões inflacioná­rias. Há ociosidade no parque de máquinas e equipament­os e também na mão de obra.

O PIB cresceu 1,5% nos 12 meses até agosto, segundo o

Monitor. Para o ano, a mediana das projeções do mercado estava em 1,34% na última semana. Se todo o potencial produtivo for utilizado, a economia poderá crescer entre 2,5% e 3% nos próximos anos. Será preciso investir muito para elevar o potencial. Isso dependerá de confiança e a confiança, da competênci­a do novo governo.

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