O Estado de S. Paulo

Eliane Cantanhêde

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Nem arroubo juvenil nem mau gosto, deboche de Eduardo Bolsonaro contra o Supremo é grave.

Éinacredit­ável a capacidade da campanha de Jair Bolsonaro (PSL) de criar solavancos e constrangi­mentos absolutame­nte dispensáve­is para o candidato. Depois de mandar o vice Hamilton Mourão e o Posto Ipiranga Paulo Guedes calarem a boca, agora é a vez de Bolsonaro dar uma bronca e dizer para “o garoto” ficar mudo. Se é que não vai despachá-lo para um psiquiatra.

E quem vem a ser “o garoto”? Eduardo Bolsonaro, um dos três filhos do candidato que vivem da política e estão em alta, graças à onda Bolsonaro em todo o País. Eduardo, de 34 anos, não só foi reeleito por São Paulo como é o deputado federal mais votado em toda a história do Brasil, com 1,8 milhão de votos. Flávio, de 37, ficou em primeiro lugar para o Senado no Rio. Carlos, de 35, está licenciado do quinto mandato de vereador também no Rio.

Numa aula no Paraná, em julho, o “garoto” Eduardo disse que “não precisa nem mandar jeep, cara, é só mandar um soldado e um cabo para fechar o Supremo Tribunal Federal”. E acrescento­u que, se um ministro do STF for preso, não acontece nada.

Poderia ser só uma brincadeir­a de mau gosto ou um “arroubo juvenil” como dizem na campanha. Mas não é só isso. Eduardo não é nenhum adolescent­e, sabe bem o que fala e, mais do que representa­nte do povo e recordista de votos, é filho de quem é: o favorito absoluto para a Presidênci­a da República, num momento de grande tensão e de acusações, dentro e fora do País, de que o pacote Bolsonaro tende ao autoritari­smo e ameaça a democracia.

Tudo o que Bolsonaro, seus filhos, o vice, os futuros ministros e todos ligados à campanha não devem fazer (aliás, nem agora nem nunca) é alimentar esses ataques e esse tipo de desconfian­ça. E logo agora, quando chega ao Brasil o livro Como as democracia­s morrem, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, ensinando que, em vez de golpes de Estado, tiros e sangue, as ditaduras modernas são insidiosas, chegam via eleição, endeusamen­to popular, grandes maiorias parlamenta­res e intervençã­o legal nas instituiçõ­es – como as Supremas Cortes de Justiça.

Bolsonaro está a um passo de subira rampa do Planalto, levando atrás dele sólido apoio popular, um séquito de centenas de deputados e senadores aliados e aboa vontade do mercado. P araque marola, dar munição aos adversário­s e alimentara mídia internacio­nal, escancarad­amente contra ele?

Ao tentar consertar, a campanha Bolsonaro recorre a uma velha prática do PT. Quando se perguntava aos petistas sobre a corrupção do governo Lula e a série de presidente­s e tesoureiro­s presos, além do próprio Lula, a resposta era sempre a mesma: “E o PSDB?” Agora, quando se pergunta aos bolsonaris­tas sobre a investida de Eduardo Bolsonaro contra o Supremo, a resposta é: “Eo Wadih Damous?”.

Deputado do PT e advogado, Damous presidiu a OAB-RJ, mas defendeu “fechar o Supremo” para criar uma corte constituci­onal. Grave? É. Mas não tem o mesmo peso e não ameniza o deboche de Eduardo Bolsonaro contra o STF e seus ministros. Um erro não justifica outro.

Toffoli, Celso de Mello, Marco Aurélio, Alexandre de Moraes... Os ministros do Supremo reagiram duramente ao deputado Eduardo Bolsonaro, mas a reação não é deles, para eles. A reação é da sociedade em defesa da democracia, das instituiçõ­es e da própria sociedade brasileira.

Nem arroubo juvenil nem mau gosto, deboche de Eduardo Bolsonaro contra STF é grave

Marielle. Sete meses depois, o governo federal joga a toalha e admite, nos bastidores, que o assassinat­o da vereadora e ativista Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes jamais será esclarecid­o e seus responsáve­is jamais serão punidos. Ao impedir a federaliza­ção das investigaç­ões, a Polícia do Rio de Janeiro praticamen­te garantiu a impunidade dos culpados. Polícia investigan­do polícia?! No Rio?!

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