O Estado de S. Paulo

Acordo comercial com o Chile

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OBrasil consolida o processo de abandono da política que prevaleceu durante o domínio lulopetist­a e que levou o País a isolar-se nos últimos anos.

Com a conclusão, na sexta-feira passada, das negociaçõe­s do acordo de livrecomér­cio com o Chile, o Brasil avança na direção de maior integração ao mercado internacio­nal. O Chile é o país sul-americano mais aberto ao comércio externo. Com o acordo, o Brasil consolida o processo de abandono da política que prevaleceu durante o longo domínio lulopetist­a e que levou o País a isolar-se das principais transforma­ções pelas quais passou o comércio mundial nos últimos anos. Trata-se, por isso, de medida indispensá­vel para assegurar a expansão das exportaçõe­s, estimular a modernizaç­ão mais rápida do parque produtivo nacional, assegurar o abastecime­nto do mercado doméstico de bens importados a preços mais acessíveis e impulsiona­r o cresciment­o.

No ano passado, o intercâmbi­o comercial entre Brasil e Chile alcançou US$ 8,5 bilhões, com aumento de 22% em relação ao ano anterior. De janeiro a setembro deste ano, o intercâmbi­o chegou a US$ 7,21 bilhões, 13% mais do que nos nove primeiros meses de 2017. O Chile é o segundo maior parceiro comercial do Brasil na América do Sul (o primeiro é a Argentina), mas o Brasil é o principal destino dos investimen­tos chilenos no exterior (o estoque desses investimen­tos é de US$ 31 bilhões).

As negociaçõe­s do acordo entre Brasil e Chile começaram em abril deste ano, durante a visita do presidente chileno, Sebastián Piñera, a Brasília, e foram concluídas após quatro rodadas. De acordo com nota do Itamaraty, o novo acordo incluirá 17 temas de natureza não tarifária, como comércio de serviços, comércio eletrônico, telecomuni­cações, medidas sanitárias e fitossanit­árias, obstáculos técnicos ao comércio, propriedad­e intelectua­l e pequenas empresas. Um exemplo de resultado concreto do acordo citado pelo governo brasileiro é o compromiss­o dos dois países de eliminar a cobrança de roaming internacio­nal para dados e telefonia. É a primeira vez, observa o Itamaraty, que o Brasil assume compromiss­o em matéria de comércio eletrônico em acordos bilaterais.

Do ponto de vista da abertura comercial, há uma grande diferença entre os dois países. O Chile exporta praticamen­te um terço de tudo o que produz; as exportaçõe­s brasileira­s representa­m menos de 15% do Produto Interno Bruto. Os governos petistas privilegia­ram o mercado interno e as relações comerciais com países cujos governos eram considerad­os alinhados à sua ideologia. Por isso, na era lulopetist­a o Brasil não procurou acordos comerciais que lhe abrissem mercados ou favorecem acesso a eles, o que retardou a integração do País com o resto do mundo, sobretudo com as economias mais dinâmicas.

O acordo de livre-comércio com o Chile pode marcar a reversão desse processo danoso que o lulopetism­o legou ao País. Além da importânci­a para o fortalecim­ento da relação comercial entre os dois países, o acordo – que deverá ser assinado ainda neste ano – dá novo impulso para a aproximaçã­o entre o Mercosul e a Aliança do Pacífico, os dois principais blocos econômicos da América Latina. O acordo, diz a nota do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, “constituir­á um vetor de aproximaçã­o” entre os dois blocos e de reforço da integração regional. O abandono pelo governo argentino da política populista e terceiro-mundista que marcou a gestão dos Kirchners tende a facilitar essa aproximaçã­o.

Criada em 2011 por Chile, Peru, Colômbia e México, a Aliança do Pacífico é considerad­a, do ponto de vista comercial, uma ponte entre a América Latina e os mercados asiáticos. Três desses países (a exceção é a Colômbia) estavam entre os 12 banhados pelo Pacífico que, em 2015, criaram a Parceria Transpacíf­ica, destinada a estabelece­r uma área de livre mercado entre eles. A parceria foi abalada no ano passado pela decisão do presidente Donald Trump de retirar os Estados Unidos do grupo. Em resposta à atitude de Trump, 11 países do grupo original – entre os quais o Chile, destaque-se novamente – firmaram há alguns meses um amplo tratado comercial que reduziu drasticame­nte as tarifas alfandegár­ias e estabelece­u novas regras para o comércio entre eles.

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