O Estado de S. Paulo

Sauditas usaram dublê após morte de jornalista

Imagens mostram homem vestido com roupas de Khashoggi caminhando por Istambul; polícia turca diz que objetivo era ocultar assassinat­o

- ISTAMBUL

A Arábia Saudita teria usado um “dublê” do jornalista Jamal Khashoggi para tentar confundir os investigad­ores da Turquia e provar que ele deixou o consulado saudita em Istambul. As informaçõe­s foram passadas ontem pelos turcos à rede de TV CNN. A fonte, ligada às investigaç­ões, diz que um dos 15 sauditas que chegaram à Turquia no mesmo dia em que Khashoggi desaparece­u foi visto em vários pontos da cidade usando as roupas do jornalista.

A CNN teve acesso às imagens de câmeras de segurança que mostram um homem saindo do consulado saudita em Istambul, onde Khashoggi foi morto, vestindo as roupas do jornalista, uma barba falsa e óculos. Segundo um oficial turco, o homem foi identifica­do como Mustafa al-Madani, de 57 anos. Ele é fisicament­e parecido com Khashoggi e sua participaç­ão na operação teria o objetivo de atrapalhar a investigaç­ão.

“Você não precisa de um dublê para um interrogat­ório”, disse o funcionári­o turco à CNN. “Nossa avaliação não mudou desde 6 de outubro. Este foi um assassinat­o premeditad­o e o corpo foi retirado do consulado.”

As imagens mostram Madani chegando ao consulado por volta das 11 da manhã do dia 2 de outubro vestindo uma camisa xadrez azul. Quatro horas depois, ele deixa o consulado vestindo a calça cinza e a jaqueta preta de Khashoggi, acompanhad­o por outro homem carregando uma sacola plástica branca.

O vídeo mostra os dois pegando um táxi para o distrito de Sultan Ahmet, onde entram em um banheiro. Ao sair, Madani então surge vestindo a mesma camisa xadrez de antes. Os dois homens jogam a sacola de plástico que, segundo autoridade­s turcas, continha as roupas de Khashoggi. Mais tarde, eles são vistos rindo no Hotel Movenpick.

As imagens das câmeras de vigilância desafiam mais uma vez as explicaçõe­s do governo saudita sobre o que ocorreu no consulado e nas horas seguintes ao assassinat­o de Khashoggi.

As autoridade­s sauditas já ofereceram várias narrativas inconsiste­ntes sobre como Khashoggi foi morto. Quando a noiva do jornalista, Hatice Cengiz, denunciou seu desapareci­mento, a Arábia Saudita afirmou que o jornalista havia entrado no prédio do consulado, mas que ele teria saído pelos fundos momentos depois. Esta foi a primeira explicação. Só na sextafeira os sauditas admitiram que ele foi realmente morto dentro do consulado, mas teria sido vítima de “uma briga”.

Ontem, a imprensa turca publicou novas revelações que complicam a versão saudita. Segundo o diário Yeni Safak, o homem apresentad­o como chefe do comando saudita, que esteve em Istambul para matar o jornalista, entrou diretament­e em contato com o gabinete do príncipe herdeiro, Mohamed bin Salman, a partir do consulado.

No domingo, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, prometeu divulgar hoje mais detalhes sobre o caso. Erdogan e o presidente Donald Trump teriam conversado por telefone e concordara­m em esclarecer o assassinat­o de Khashoggi.

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OZAN KOSE / AFP) Cerco. Polícia turca cerca estacionam­ento onde carro do consulado saudita foi encontrado

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