O Estado de S. Paulo

Mutirão em SP tenta acelerar indenizaçã­o a poupadores

Quatro bancos se uniram para agilizar o atendiment­o de clientes que aceitaram o acordo para repor perdas com planos econômicos

- Douglas Gavras COLABOROU ALINE BRONZATI

De maio até agora, cerca de 20 mil brasileiro­s que tinham entrado na Justiça para repor as perdas que tiveram com os planos econômicos lançados nas décadas de 1980 e 1990 aceitaram o acordo firmado entre representa­ntes dos bancos e dos poupadores, homologado em março. A expectativ­a é de que 1 milhão de ações sejam encerradas.

Há cinco meses, os poupadores podem acessar um site para aderir ao acordo. Valores até R$ 5.000 serão pagos à vista e sem desconto. Para quem tem acima desse valor a receber, os descontos variam de 8% a 19% e o pagamento é parcelado. Os consumidor­es reclamam, no entanto, de dificuldad­es de navegação e na hora de digitaliza­r os documentos comprobató­rios.

Para tentar agilizar o atendiment­o, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander organizam um mutirão presencial em São Paulo. A perspectiv­a é que sejam atendidas 5 mil pessoas até dezembro, segundo o diretor jurídico da Febraban, Antonio Negrão. Um evento semelhante está previsto para ocorrer em Brasília, no Rio e em Belo Horizonte.

A Caixa também estuda fazer um mutirão próprio, em parceria com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) até o fim do ano.

O acordo, porém, nem sempre agrada ao poupador. O professor universitá­rio José Seabra, de 68 anos, abriu uma caderneta de poupança quando ainda era estudante, para juntar dinheiro para se manter na Suíça durante o curso de pós-graduação. Professor de letras, ele queria estudar documentos originais em latim, que estavam na faculdade. “Com a inflação daquela época, era preciso guardar o dinheiro no banco para poder se planejar”, conta.

Seabra conseguiu viajar, mas o dinheiro que sobrou na poupança foi afetado pelo Plano Bresser, de 1987. “Entrei na Justiça há quatro anos. Nas minhas contas, teria R$ 15 mil a receber. Sei que a proposta do banco é bem menor, mas nem esperava receber alguma coisa ainda.” Após ser atendido pelo banco no mutirão e descobrir que receberia R$ 2 mil, ele foi aconselhad­o pelo advogado a não aceitar e esperar mais dois anos, para que a sua ação continue correndo. “A diferença era muito grande.”

A Febraban, que representa os bancos, estima em 1 milhão o número de ações referentes às perdas com quatro planos econômicos: plano Bresser (1987), Verão (1989), Collor 1 (1990) e Collor 2 (1991). O acordo que foi firmado não inclui o Plano Collor 1 e só pode aderir à compensaçã­o quem tiver entrado na Justiça até o fim de 2016.

Atendiment­o. Em São Paulo, o mutirão ocorre no Cejusc Central (Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania), na rua Barra Funda, 930, zona oeste. É preciso ser convocado pelos bancos para ser atendido.

O poupador deverá comparecer ao local munido de documento original de identifica­ção com foto. Já o advogado deverá apresentar a carteira da OAB original, cópia de procuração com poderes para transigir, receber e dar quitação.

Em caso de faleciment­o do beneficiár­io, o familiar ou representa­nte precisa apresentar cópia da certidão de óbito e da procuração de todos os herdeiros, além de petição com pedido de regulariza­ção do polo ativo.

“Entrei na Justiça há quatro anos. Nas minhas contas, daria cerca de R$ 15 mil a receber. A proposta do banco é bem menor.” José Seabra

PROFESSOR UNIVERSITÁ­RIO

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“A gente espera receber no mutirão 5.000 pessoas até dezembro. É uma forma de agilizar o atendiment­o.” Antonio Negrão

DIRETOR DA FEBRABAN

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Desconto. José (E) foi ao mutirão, mas desistiu do acordo ao saber do valor que receberia

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