O Estado de S. Paulo

‘A gente faz um país...’

- ROBERTA MARTINELLI E-MAIL: ROBERTA.MARTINELLI@ESTADAO.COM

Peço licença para o leitor desta coluna, mas esta semana não consigo mesmo escrever de outra coisa que não seja o futuro do nosso país. Em momentos de luta, a criativida­de e a arte ficam mais fortes. Preferia que não fosse assim, pois realmente não imagino quanta criativida­de será necessária para nos tirar desse movimento retrógrado. Nunca pensei que fosse viver um momento como esse. E cá estou eu, 2018. Semana da eleição. Eu queria falar de futuro, mas muitos querem voltar para o passado. Um passo pra trás, e a força pra frente vem. O cantor e compositor capixaba Silva lançou neste ano de 2018 o disco Brasileiro. Que nome forte para o momento, né? Ser brasileiro. Chamar sua obra de Brasileiro. O que significa ser brasileiro hoje? Como generaliza­r o brasileiro? É possível descrever o brasileiro? Assistindo aos debates (pelo menos os que tiveram) tenho vontade mesmo é de fugir, mas vou ficar e lutar.

Voltando ao disco, nesse trabalho mais recente do Silva, tem uma música que eu quero destacar nesse espaço que chama Nada será Mais como era antes, uma parceria dele com o irmão, Lucas Silva, com frases maravilhos­as como “Eu já me perguntei como a gente vai ser brasileiro?” – frase que não sai da minha cabeça durante discussões políticas e fake news bizarras. Outro dia fui dar uma passeada numa hashtag da extrema direita e fiquei realmente impression­ada com as frases e pensamento­s sobre tudo. Haja estômago, viu? E o lugar que o artista é colocado nisso? Aí já vem outra frase da mesma canção: “Eu resisto a pensar que sou parte pequena do meio”. Parte pequena de um pensamento construído por imprensa, preconceit­os, fake news e falta de ensino.

Nessa época que estamos vivendo, coisas estão vindo à tona, modos de pensar e agir homofóbico­s, racistas, machistas. A gente andou tão pouco nas conquistas de direitos básicos, mas a força contrária veio forte. Aí vejo o assassinat­o de uma travesti no centro de São Paulo, amigas com suas namoradas agredidas na rua, meninos com medo de sair de casa e canto essa parte da mesma canção: “E quem nunca beijou, uma boca qualquer, uma boca de gente, de homem, mulher. Quem nunca amou é melhor que não fale nada”. Não consigo acreditar que estamos em 2018 e que o Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo. Mataaaaaa. É inaceitáve­l. Mesmo. E aí, como se não bastasse tantas frases de uma mesma composição, ainda tem mais uma frase que eu vou repetir sempre: “É melhor me abraçar que dar tiro”.

Faça isso por você, faça isso por nós, faça isso pelo Brasil. Você me abre seus braços e a gente ainda pode juntos fazer um país.

Vamos fazer isso?

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SLAP Silva. Brasileiro
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