‘A gente faz um país...’
Peço licença para o leitor desta coluna, mas esta semana não consigo mesmo escrever de outra coisa que não seja o futuro do nosso país. Em momentos de luta, a criatividade e a arte ficam mais fortes. Preferia que não fosse assim, pois realmente não imagino quanta criatividade será necessária para nos tirar desse movimento retrógrado. Nunca pensei que fosse viver um momento como esse. E cá estou eu, 2018. Semana da eleição. Eu queria falar de futuro, mas muitos querem voltar para o passado. Um passo pra trás, e a força pra frente vem. O cantor e compositor capixaba Silva lançou neste ano de 2018 o disco Brasileiro. Que nome forte para o momento, né? Ser brasileiro. Chamar sua obra de Brasileiro. O que significa ser brasileiro hoje? Como generalizar o brasileiro? É possível descrever o brasileiro? Assistindo aos debates (pelo menos os que tiveram) tenho vontade mesmo é de fugir, mas vou ficar e lutar.
Voltando ao disco, nesse trabalho mais recente do Silva, tem uma música que eu quero destacar nesse espaço que chama Nada será Mais como era antes, uma parceria dele com o irmão, Lucas Silva, com frases maravilhosas como “Eu já me perguntei como a gente vai ser brasileiro?” – frase que não sai da minha cabeça durante discussões políticas e fake news bizarras. Outro dia fui dar uma passeada numa hashtag da extrema direita e fiquei realmente impressionada com as frases e pensamentos sobre tudo. Haja estômago, viu? E o lugar que o artista é colocado nisso? Aí já vem outra frase da mesma canção: “Eu resisto a pensar que sou parte pequena do meio”. Parte pequena de um pensamento construído por imprensa, preconceitos, fake news e falta de ensino.
Nessa época que estamos vivendo, coisas estão vindo à tona, modos de pensar e agir homofóbicos, racistas, machistas. A gente andou tão pouco nas conquistas de direitos básicos, mas a força contrária veio forte. Aí vejo o assassinato de uma travesti no centro de São Paulo, amigas com suas namoradas agredidas na rua, meninos com medo de sair de casa e canto essa parte da mesma canção: “E quem nunca beijou, uma boca qualquer, uma boca de gente, de homem, mulher. Quem nunca amou é melhor que não fale nada”. Não consigo acreditar que estamos em 2018 e que o Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo. Mataaaaaa. É inaceitável. Mesmo. E aí, como se não bastasse tantas frases de uma mesma composição, ainda tem mais uma frase que eu vou repetir sempre: “É melhor me abraçar que dar tiro”.
Faça isso por você, faça isso por nós, faça isso pelo Brasil. Você me abre seus braços e a gente ainda pode juntos fazer um país.
Vamos fazer isso?