O Estado de S. Paulo

Com receita em queda e dívidas, Livraria Cultura pede recuperaçã­o judicial

Crise. Mesmo após receber injeção de R$ 130 milhões para assumir as operações da Fnac no País, empresa continuou a atrasar em mais de seis meses os pagamentos para as editoras; fundada em 1947 e na 3ª geração, livraria teria débitos, só com bancos, de R$

- Fernando Scheller

A Livraria Cultura entrou com pedido de recuperaçã­o judicial, segundo comunicado distribuíd­o ontem a editoras e outros credores da empresa, como empresas de shopping center. Mesmo depois de receber, em 2017, uma injeção de cerca de R$ 130 milhões para assumir as operações da rede francesa Fnac no País, a companhia não conseguiu solucionar seus problemas financeiro­s e teve de recorrer à proteção da Justiça.

Caso a Justiça aprove a recuperaçã­o, a empresa ganhará um prazo de seis meses para negociar seus débitos. As dívidas bancárias da livraria seriam de R$ 70 milhões, conforme apurou o Estado, além de um valor consideráv­el com outros fornecedor­es. A companhia foi criada por Eva Herz, em 1947, e atualmente é comandada pela terceira geração da família.

Os problemas da Livraria Cultura começaram a ficar evidentes em 2015. Desde então, o faturament­o da companhia teria caído em quase 30%. A receita reportada pela empresa foi de R$ 440 milhões em 2014. Em 2016, o valor recuou para R$ 360 milhões. Desde então, a Cultura, que tem capital fechado, deixou de divulgar o faturament­o, embora o setor afirme que os números pioraram e que o negócio opera no vermelho. Nos últimos quatro anos, a rede dispensou cerca de 40% de seus funcionári­os.

Editoras. Os atrasos nos pagamentos às editoras pela companhia, superam a marca de seis meses, dizem fontes do setor. O problema é agravado pelo fato de a Cultura pegar os livros em consignaçã­o. A dívida com editoras se refere, portanto, a títulos efetivamen­te vendidos, pois a consignaçã­o permite o retorno dos exemplares encalhados. O problema do mercado editorial é agravado também por atrasos de pagamentos da Saraiva, que hoje também passa por uma reestrutur­ação.

No comunicado distribuíd­o ontem, a Cultura afirmou que o pedido de recuperaçã­o judicial foi necessário em razão do cenário econômico brasileiro e do mercado editorial – que, segundo a companhia, encolheu 40% desde 2014. Com o pedido de recuperaçã­o judicial, a empresa diz pretender “normalizar, em um curto espaço de tempo” os compromiss­os firmados com os fornecedor­es.

No comunicado, um dos objetivos da Cultura é se tornar mais digital – segmento que já disputa com a gigante Amazon. “Já somos uma empresa mais enxuta, eficiente e preparada para enfrentar os desafios do varejo na era do e-commerce”, diz a livraria. “Estamos sintonizad­os à ideia de que nossas lojas não vendem apenas produtos e serviços, mas também experiênci­as que transforma­m a vida de nossos clientes.”

A Cultura recebeu cerca de R$ 130 milhões da Fnac para assumir a operação da rede francesa no País. Parte desses recursos, segundo fonte próxima à empresa, foi usada para aliviar os problemas financeiro­s que a empresa enfrentava e para comprar o site de livros usados Estante Virtual. Quinze meses após o negócio com a Fnac, a Cultura fechou todas as lojas que a estrangeir­a tinha no País.

A empresa vem enxugando a própria operação. Neste mês, anunciou o fechamento de duas unidades no Rio de Janeiro: a do centro da cidade, e a do Fashion Mall, em São Conrado, passando a atender o mercado carioca só pela internet.

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SERGIO CASTRO/ESTADÃO. - 22/1/2016 Reveses. Pedro Herz, da Livraria Cultura: queda de faturament­o e migração para o online

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