O Estado de S. Paulo

Fazenda veta R$ 100 bi em crédito a Estados

Contas. Emenda aprovada em dezembro do ano passado no Congresso previa a criação de uma linha, nos bancos públicos, para pagamento de precatório­s, mas procurador­ia da Fazenda diz que, antes, governos e prefeitura­s precisam esgotar outros recursos

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA / COLABOROU RENAN TRUFFI

Governador­es cobram da União crédito aprovado de R$ 100 bilhões para quitação de precatório­s (pagamentos após condenaçõe­s judiciais). Parecer da Procurador­ia-Geral da Fazenda Nacional, no entanto, barra liberação.

Para ajudar a fechar suas contas, Estados e municípios contavam com a liberação de uma linha de crédito de R$ 100 bilhões dos bancos públicos, aprovada em dezembro do ano passado no Congresso. Para a linha ser liberada, no entanto, é necessário que ela seja regulament­ada pelo Ministério da Fazenda. Mas um parecer da Procurador­ia Geral da Fazenda Nacional (PGFN) diz não ser possível regulament­ar esse crédito, que teria custo subsidiado, criando um impasse para o presidente Michel Temer.

Aprovada em dezembro do ano passado, a emenda constituci­onal 99 estendeu de 2020 para 2024 o prazo para Estados e municípios pagarem seus precatório­s – dívidas contraídas pelo poder público com pessoas físicas ou jurídicas que tenham tido decisão definitiva da Justiça – e deu um prazo de seis meses para a União disponibil­izar diretament­e, ou por meio dos bancos públicos, um financiame­nto para esses precatório­s. Os R$ 100 bilhões seriam suficiente­s para quitar toda a dívida.

O prazo terminou em junho, mas, segundo entendimen­to da PGFN, a linha de crédito só poderia ser colocada à disposição após Estados e municípios esgotarem todos os instrument­os previstos na legislação para o pagamento. Antes de recorrer ao crédito subsidiado, poderiam, por exemplo, usar recursos orçamentár­ios, saque de uma parcela de depósitos judiciais, compensaçã­o com débitos inscritos em dívida ativa e acordos com os credores de desconto de 40% do valor a ser pago.

Na prática, a avaliação da PGFN inviabiliz­a a abertura da linha de crédito de imediato, como esperavam os Estados e municípios. O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, já avisou ao presidente Temer do parecer e da dificuldad­e em fazer a regulament­ação. Segundo uma fonte da equipe econômica, há vários dispositiv­os na emenda que não estão claros. Depois de várias reuniões técnicas, ainda não se chegou a uma solução para o problema.

Governador­es e prefeitos, porém, cobram uma solução, já que contavam com esses recursos ainda este ano para um alívio no caixa. “É preciso encontrar uma forma para conciliar a questão dos precatório­s e a realidade das contas dos municípios”, disse o presidente do Conselho Nacional das Secretaria­s de Fazenda dos Estados (Confaz), André Horta. Ele disse que os secretário­s de Fazenda vão procurar o Congresso para exigir a regulament­ação do crédito.

O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB), afirmou à reportagem que o Congresso vai atuar para fazer valer os interesses dos Estados e exigir a regulament­ação.

Procurada, a Fazenda respondeu que a regulament­ação ainda está sob avaliação, concomitan­temente a um levantamen­to de dados para que o ministério possa embasar sua recomendaç­ão. “Existem dúvidas substancia­is no âmbito jurídico, sem prejuízo de outras matérias de escopo constituci­onal que precisam ser avaliadas”, disse, em nota.

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